Márcio Pochmann defende governo do PT

Estadão Conteúdo
03/08/2014 às 12:24.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:38
 (Antonio Cruz)

(Antonio Cruz)

Em meio à polêmica causada pelo informe do Banco Santander a seus clientes, dizendo que um eventual segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) poderia deteriorar o cenário econômico do País, o ex-titular do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, órgão de pesquisa e publicações vinculado ao Partido dos Trabalhadores, Márcio Pochmann, saiu em defesa do governo petista e diz que a história ainda fará justiça ao governo Dilma, sobretudo na condução da política econômica. Em entrevista ao Broadcast Político, ele diz que, guardadas as devidas proporções, o mesmo ocorreu no início dos anos 30, com Getúlio Vargas. "Ele foi muito criticado por tomar decisões como o aumento do gasto público e a auditoria da dívida, mas depois as suas decisões foram avaliadas como corretas, a história fez jus ao ex-presidente", exemplificou.

Para o economista, a gestão petista tem adotado medidas fora do receituário tradicional, "talvez essa seja a razão das críticas". Mesmo assim, ele avalia que as ações da equipe da presidente estão no caminho certo. "Se compararmos o período de 2008 a 2013, que é o da crise, o mundo desenvolvido acabou com 62 milhões de postos de emprego, enquanto o Brasil criou 11 milhões de empregos, então este é um dado que precisa ser considerado nas análises do Brasil e do mundo."

Pochmann, que é professor titular do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), além de pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia da mesma instituição, alega que duas visões da economia atual estão hoje em debate: uma mais ortodoxa, que visa o choque e o enfrentamento imediato da inflação acima da meta, e a do governo, baseada no gradualismo, entendendo que se pode chegar ao centro da meta inflacionária, não em dois ou três meses, mas gradualmente, de forma a evitar efeitos colaterais, como o desemprego e a redução dos salários.

Ao falar do episódio envolvendo o Santander, Pochmann disse que esta espécie de interferência do mercado financeiro no cenário eleitoral não é novidade, lembrando o pleito de 2002, quando o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva lançou a Carta ao Povo Brasileiro na tentativa de acalmar o mercado e ampliar sua base eleitoral.

"Não acho estranho que instituições financeiras orientem seus clientes com determinadas posturas, todavia, num País que tem pouca tradição democrática e reconhecendo que essas instituições dependem fortemente de expectativas, entrar no cenário eleitoral talvez não seja o recomendável", frisou.

E, em sintonia com seu partido e com a presidente Dilma, concorda que é preciso que essas instituições avaliem melhor esse tipo de procedimento, "justamente para o poderio econômico não ter uma influência ainda maior no processo eleitoral". Na sua avaliação, episódios como o ocorrido com o Santander podem "enviesar" um processo eleitoral que depende de recursos para o financiamento das campanhas, independentemente de quem seja o candidato. "Por isso, não se deve ideologizar uma instituição financeira", defendeu.

O presidente da Fundação Perseu Abramo voltou a falar das eleições de 2002, que levou o PT pela primeira vez à Presidência da República: "As avaliações do cenário econômico feitas naquela ocasião se mostraram totalmente equivocadas. O bom é que a população tem uma certa vacina sobre esses temas".

E questionou se as pessoas votam de acordo com os ganhos e perdas do mercado financeiro. E, na mesma linha do ex-presidente Lula, destacou: "Este mercado (financeiro) tem sido privilegiado em termos de resultados nos últimos 12 anos (governos de Lula e Dilma)."

Indagado sobre as críticas da oposição, sobretudo do PSDB com relação ao que os tucanos classificam de falta de controle do governo Dilma com a inflação, o economista, que atua também como um dos colaboradores dos programas de formulação econômica do PT voltados para as classes sociais, diz que isso é resultado da visão 'curto-prazista' do modelo neoliberal, que reflete no caráter especulativo do mercado.

"Eu era de uma época em que as análises tinham uma visão mais de longo prazo", disse, lamentando que hoje tais análises "são de elevador, do tipo hoje (a Bolsa) subiu porque ontem não desceu e por aí vai". E taxou de "pobreza", do ponto de vista da interpretação, certas análises que estão sendo feitas no País.

O ex-presidente do Ipea disse ainda que, mesmo com um cenário recheado de críticas ao governo do PT, está otimista com as eleições gerais deste ano. E avalia que assim que começar o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, a população terá condições de avaliar melhor o governo federal. Segundo ele, a gestão da presidente Dilma, candidata à reeleição neste pleito, irá mostrar um conjunto de ações realizadas e que ainda são desconhecidas de grande parte do público.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por