Planilha secreta da propina é encontrada na casa de secretária da Odebrecht

Estadão Conteúdo
22/03/2016 às 14:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:35
 (Cassiano Rosário)

(Cassiano Rosário)

Em parecer da Procuradoria da República, na Operação Xepa, 26ª fase da "Lava Jato" deflagrada nesta terça-feira, 22, a força-tarefa afirma que identificou recebedores de propina da Odebrecht. Segundo a força-tarefa, a Polícia Federal apurou que a entrega era feita a emissários dos destinatários finais, 'sendo que a identificação correta destes é imprescindível para descobrir quem é o último beneficiário'. No documento de 39 páginas entregue ao juiz federal Sérgio Moro, os procuradores montaram uma tabela com os nomes dos emissários.

A tabela tem quatro colunas denominadas Codinome/Local de entrega, nome, função e evidências. Um dos codinomes identificados é 'Gustavo'. Na tabela há ainda as informações "Largo do Machado, 29, Sl 523, Centro, Rio de Janeiro/RJ - recebeu uma entrega no dia 16/06/2015, no valor de R$ 550 mil". Para os investigadores, pode se tratar de Gustavo Falcão, irmão do operador de propinas Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, um dos delatores da "Lava Jato".

Outro codinome indicado na tabela é 'Timão', com as informações 'entrega no endereço Rua Emilio Mallet, 589, apto. 172 em São Paulo, a ser liquidado na data de 23 de outubro de 2014, no valor de R$ 500 mil. Segundo o parecer, o codinome está ligado a 'dirigente do Corinthians Andre Luiz de Oliveira'.

A tabela apontou ainda o codinome 'Proximus', relacionado à 'entrega no endereço Avenida das Américas, 3500, Torre Hong Kong 1000, Sala 312, Bloco 5, Le Monde, Rio de Janeiro/RJ, a serem liquidados nas datas de 16/09, 24/10, 29/10, 12/11 e 13/11 nos valores de R$ 500 mil cada um'. Há ainda menção à obra "Metrô Linha 4 -Oeste" e ao nome Olivia Vieira.

"(A autoridade policial) acrescenta ainda que há indícios que alguns emissários recebedores já identificados possuem vínculos com agentes públicos ou políticos, em que pese a investigação ainda esteja em estágio inicial, não sendo concludente neste ponto. Outras vezes, os recebedores são executivos da Odebrecht, possivelmente os responsáveis pela entrega até os destinatários finais", aponta o documento.

Desdobramento

A Xepa é um desdobramento da Operação Acarajé, 23ª fase da "Lava Jato". No parecer, a Procuradoria afirma que no material apreendido na casa da funcionária da Odebrecht Maria Lúcia Guimarães Tavares, suspeita de ser responsável por parte da distribuição da "rede de acarajés" - que seria referência a propina -, 'existe uma série de endereços indicados em planilhas e telas de sistema informatizado com locais de entrega de recursos em espécie associado a codinomes'.

Ainda de acordo com a representação policial: "Sobre as entregas de dinheiro, Maria Lúcia explica que semanalmente extraía do sistema informações quanto às requisições programadas para aquele período. Cabia a Maria Lúcia verificar quanto seria entregue em cada cidade, de modo a acionar os operadores financeiros ("prestadores"), comunicando a eles sobre os valores a serem entregues, o endereço, o contato e a senha."

Material

Conforme narra a autoridade policial, no material apreendido na residência da funcionária existe uma série de endereços indicados em planilhas e telas de sistema informatizado com locais de entrega de recursos em espécie associado a codinomes. Cada uma das requisições se encontra vinculada a um executivo da Odebrecht e a uma "obra", sustenta o documento.

O documento destaca ainda que a PF registrou cinco endereços de entregas no hotel Blue Tree Faria Lima com a indicação do beneficiário social e da obra Agroindustrial "nas datas de 24 (R$ 380 mil), 25 (R$ 500 mil) e 26/02 (R$ 500 mil) e nos dias 04 (R$ 500 mil) e 05/03 e (R$ 500 mil). "Não há indicação de número de quarto", diz o parecer.

"Por fim, insta salientar que foram identificadas pela Polícia Federal as pessoas de Marcelo Castro Lima - aparece na representação como associado às entrega de "convites" e Pedro relacionado a entregas do codinome Flamenguista", aponta o documento. "Contudo, a Polícia Federal nada requereu em relação a tais pessoas, sendo que o MPF, por ora, não vê razões para requerimentos em face desses alvos cujas funções ainda merecem ser melhores elucidadas."

O Corinthians promete divulgar nesta terça-feira um comunicado pela assessoria da Arena, no qual vai informar quais as providências que irá tomar.

Defesa

Em nota, a Odebrecht confirma que a Polícia Federal cumpriu nesta terça-feira, 22, "mandados de prisão, condução coercitiva e busca e apreensão em escritórios e residências de integrantes em algumas cidades no Brasil". A Odebrecht afirma ainda que "tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários".

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