'Terceiro mandato' de Lula começa com articulações para manter a base

Bruno Moreno e Janaína Oliveira - Hoje em Dia
17/03/2016 às 07:42.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:50
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

A nomeação do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, é vista como a última cartada da presidente Dilma Rousseff (PT) para seguir como ocupante do Palácio do Planalto e tirar o Brasil da crise econômica e política.

Segundo cientistas políticos ouvidos pelo Hoje em Dia, com atributos que faltam à petista, como eloquência, carisma e habilidade política, Lula terá a tarefa número 1 de reaglutinar a base aliada e estancar o processo de impeachment.

E esse trabalho já começou a ser feito nessa quarta-feira (16). No início da tarde, pouco depois de ser oficializado no cargo, Lula telefonou para o vice-presidente da República, Michel Temer, presidente nacional do PMDB.

Desde terça-feira (15), Temer estava em São Paulo para cumprir agenda pessoal. Ao telefone, Lula teria dito a Temer que estava assumindo uma “nova missão” e defendeu uma conversa entre o PT e o PMDB.

Oitavo ministro

Outra ação de Lula, também junto ao PMDB, ocorreu na nomeação do oitavo ministro do partido. Após mais de dois meses de flerte, o deputado estadual Mauro Lopes aceitou assumir a Secretaria de Aviação Civil, mesmo contrariando a orientação do partido.

No último sábado (12), a convenção nacional determinou que nenhum membro aceitasse cargos no governo federal nos próximos 30 dias, já aventando um rompimento com Dilma.

Uma das principais missões de Lula será costurar uma reaproximação com partidos da base, em especial o PMDB.

A importância da legenda é tamanha que o ex-presidente só teria aceitado o cargo após conversas com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB). Ele, inclusive, recebeu telefonema de Lula nessa quarta-feira (16) à tarde, e foi convidado para a posse, na próxima terça-feira (22).

Realeza

“A ação imediata de Lula como ministro será a de reaglutinar os aliados do governo no Congresso, na tentativa de frear o impedimento de Dilma. Só depois de vencida essa luta é que poderemos falar nas outras batalhas, como mudança de rumo na economia”, avalia o cientista político e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Paulo Roberto Figueira Leal.

Para ele, é prematuro dizer que Dilma será a rainha da Inglaterra com a chegada oficial de Lula ao primeiro escalão do governo. “O cenário é nebuloso. Sem que o processo de saída de Dilma seja estancado, pode ser que nem haja mais uma presidente”, diz.

Impeachment

A nomeação de Lula no Ministério, entretanto, pode dar ainda mais munição para o impeachment. A opinião é do advogado e professor de Direito Constitucional Arthur Guerra.

Para ele, a missão de Lula de evitar a queda da presidente pode ser interpretada como uma ação que tem como único objetivo auxiliar apenas o governo de Dilma Rousseff, o que seria inconstitucional.

“As motivações devem ser em benefício do público e não de um ou de outro. Mesmo que não fosse uma medida para proteger Lula, tem a medida para proteger Dilma”, argumenta.

Na Casa Civil, Lula substitui Jaques Wagner (PT), da Bahia, que assumirá a chefia do Gabinete Pessoal da Presidência da República.

Outros ministérios devem sofrer modificações, numa minirreforma que estaria sendo articulada por Lula e aliados.

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