“Transposição não afetará Minas Gerais”, diz ministra do Meio Ambiente

Aline Louise - Hoje em Dia
24/11/2014 às 07:17.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:08
 (Luiz Costa/Hoje em Dia)

(Luiz Costa/Hoje em Dia)

Uma eventual transposição das águas da bacia do rio Paraíba do Sul, que tem afluentes em Minas e abastece os três principais estados da região Sudeste – Minas, São Paulo e Rio de Janeiro –, não traria prejuízo ao fornecimento de água para os mineiros. É o que garante a ministra do meio ambiente, Izabella Teixeira. Em rápida visita a Belo Horizonte, a ministra conversou com o Hoje em Dia sobre este e outros assuntos. Natural de Brasília, Izabella Teixeira disse ser “apaixonada pelas montanhas” de Minas, Estado com o qual tem forte relação. “A minha infância tem muito a ver (com Minas), eu vinha de Brasília para o Rio de Janeiro e ficava aqui com minha família”, comentou.

A ministra reforça ainda que o país passa pela pior seca dos últimos tempos, mas nega que, mesmo no caso de São Paulo, tenha faltado planejamento para lidar com as intempéries. Durante a campanha eleitoral, a escassez de água vivida pelos paulistas foi explorada na propaganda petista. Agora, o discurso tanto da presidente Dilma Rousseff, quanto da ministra, é de conciliação. Izabella Teixeira afirma que no tocante à crise hídrica o principal papel do Governo Federal é o de fazer pontes, promover diálogos entre os Estados afetados, para se chegar a soluções consensuais, que não tragam impactos negativos aos envolvidos.

Estamos passando por um problema grave de seca no Brasil. Faltou planejamento para lidar com essa questão? Especialistas afirmam que as mudanças climáticas vão trazer cada vez mais dificuldades.

Vamo separar as coisas. Nós estamos falando de alterações meteorológicas que estão acontecendo e que podem estar ligadas, no médio prazo, a fenômenos climáticos. Há uma discussão global sobre questão de mudança do clima, uma discussão que deixa evidente que há uma contribuição das ações humanas para o aquecimento do planeta, com consequências tanto de seca quanto de inundações. Consequências extremas, com outros impactos, como doenças. Isso é um aspecto.

Mas o que o Brasil está vivendo agora também é um período de seca atípico, que tem reflexos no Nordeste, onde foram tomadas medidas nos últimos três anos para fazer esse enfrentamento. E tem reflexos aqui em Minas Gerais. Já voltou a chover, mas teve reflexo importante, no Rio da Velhas, por exemplo. E em São Paulo, particularmente naquela área de influencia do chamada Sistema Cantareira. Então temos uma discussão de planejamento, por exemplo em São Paulo, com um plano de macrometrópole, que pega toda uma região estratégica, com planejamento de investimentos até 2035 para aumentar a oferta de água em função da demanda crescente.

O sistema precisa acrescentar mais de 60 metros cúbicos por segundo, até 2035. Então, há uma discussão de planejamento, há uma discussão sobre investimentos, há uma discussão sobre comportamento individual, há uma discussão sobre necessidade de se preservar as nascentes e recuperar as florestas.

E o planejamento?
É um conjunto de situações emergenciais. Agora, nós teremos que sair da gestão de crise para gestão de risco, cada vez mais, em função da mudança do clima. A sociedade global discute hoje a gestão de risco. Você trabalhar com variável de planejamento, variável de mitigação e de adaptação para fazer este tipo de enfrentamento. Agora, nós temos que ter serenidade para sair da crise, poupar água.

Minas Gerais é um estado crucial na resolução da questão da seca, porque São Paulo tem a intenção de fazer a transposição do Rio Paraíba do Sul. Como você vê esta questão?
São Paulo tem um conjunto de cenários, alternativas de obras e intervenções. Dentre elas tem a transposição de 5 metros cúbicos por segundo, em termos médios, de um reservatório do Jaguari, que está localizado na bacia do Paraíba do Sul, para transpor para o Sistema Cantareira, como uma salva guarda, um mecanismo de proteção. Eles também querem usar isso quando estiver chovendo muito, como um mecanismo reverso, onde você pode estocar água e não despachar água.
Então, São Paulo está com a preocupação da segurança hídrica e isso está sendo estudado.

E Minas?
Isso não afeta diretamente Minas Gerais. Tem um potencial impacto na oferta de água para o sistema do Rio de Janeiro, mas que pode ser administrado.
Então, o governador Geraldo Alckimin apresentou as propostas de obras e o governo federal instituiu em um grupo de trabalho. Segunda-feira agora (hoje) tem a primeira reunião para tratar disso. O governo federal quer facilitar o diálogo e buscar soluções que não prejudiquem Minas, São Paulo e Rio. As propostas só serão colocadas em prática se assegurarem, de fato, que se tenha água nos momentos críticos, se garantirem segurança hídrica.
Após essa reunião com o governador Geraldo Alkimin a senhora declarou que a situação no Estado é crítica.

O que eu disse, quando me perguntaram qual era a situação de São Paulo, foi que se tem no Sistema Cantareira, hoje, numa série histórica de 83 anos, a maior seca da história. São 40% abaixo da mínima histórica de vazão afluente. Foi isso o que eu disse.

É uma questão política ou climática?
Uma questão é que choveu pouco, que tem pouca água. Isso não é uma questão política. O sistema Cantareira já está sendo operado no sistema chamado de volume morto. Ou seja, o que choveu ainda não repôs. Vamos entrar agora no período de chuva, até meados de abril. Eu só vou ter uma visão crítica disso em 2015. Eu tenho que esperar a chuva vir para saber se recuperou, se recuperou parcialmente, para poder fazer a gestão de segurança hídrica dos reservatórios

Do ponto de vista meteorológico, nós temos uma seca sem precedentes no Brasil. Particularmente ao que diz respeito à série histórica do Sistema Cantareira, chegar a 40% abaixo da mínima histórica já é sinal de alerta. Aliás, sinal amarelo que, em fevereiro, o governo federal mostrou. Eu visitei o governador de São Paulo e discutimos o cenário que nós tivemos de chuva em 2013. A partir daí, foi instituído um grupo entre a Agência Nacional de Águas e o governo de São Paulo, que tem trabalhado sobre a situação da Cantareira.

A senhora estará no ministério ano que vem?
Isso é uma discussão que não depende da chuva, nem de mim.  

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