Ustra recusa convite para depor em Comissão da Verdade de SP

Patrícia Britto - Folhapress
26/04/2013 às 16:58.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:11

SÃO PAULO - O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, 80, recusou convite para prestar depoimento à Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, que apura crimes cometidos na capital paulista pela ditadura militar (1964-1985). O convite havia sido enviado a sua residência, em Brasília. Como não houve resposta, um assessor do gabinete do vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da comissão, entrou em contato por telefone com o coronel reformado ontem.

"Ele atendeu muito educadamente, mas disse que não iria aceitar nosso convite. Foi educado no trato e falou que a decisão dele era de não atender nosso convite porque tudo que ele tinha para falar ele já falou e está contido no livro que ele escreveu", disse Natalini. Ustra é autor dos livros "Rompendo o Silêncio" (1987) e "A Verdade Sufocada" (2006), em que conta sua versão sobre os anos do regime militar e os crimes cometidos pela esquerda.

O presidente da comissão, entretanto, não se contentou com a resposta e já entrou em contato com a Comissão Nacional da Verdade, que tem o poder de convocação, para que Ustra seja convocado para depor em uma sessão conjunta dos comitês. "Nós queremos ouvi-lo. Eu insisto em ouvi-lo porque acho que [o Ustra] é uma figura importante no processo. Ele comandou um DOI-Codi na maior cidade do Brasil e a nossa comissão insiste que ele deveria prestar um depoimento", disse Natalini.

O militar comandou, de setembro de 1970 a janeiro de 1974, o DOI-Codi de São Paulo, o maior órgão de repressão aos grupos de esquerda envolvidos na luta armada contra a ditadura. Ele é acusado de comandar sessões de tortura em presos políticos no local, o que ele nega. Um levantamento do projeto Brasil Nunca Mais lista 502 casos de tortura no DOI-Codi que teriam sido chefiados por ele.

Ustra é réu em uma ação na Justiça Federal pelo suposto crime de sequestro qualificado contra o corretor de valores Edgar de Aquino Duarte, em junho de 1971. Uma segunda denúncia do Ministério Público Federal contra Ustra --pelo desaparecimento do líder sindical Aluízio Palhano, em 1971-- não foi aceita, e a Procuradoria vai recorrer ao Superior Tribunal de Justiça.

Outros depoimentos

A Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo aguarda até a próxima segunda-feira confirmação sobre o convite feito ao economista Delfim Netto, que foi ministro nos governos de Costa e Silva, Médici e Figueiredo, para prestar depoimento. O grupo também está em fase final no acerto para a vinda a São Paulo, para depoimento, do ex-fotógrafo da Polícia Civil Silvaldo Leung Vieira.
 
Ele é autor da fotografia do jornalista Vladimir Herzog morto numa cela do DOI-Codi, em São Paulo, em 1975, forjando uma cena de suicídio, e já de demonstrou disposto a colaborar com a comissão. A data prevista para seu depoimento é 28 de maio.
 
Em reportagem publicada no ano passado pela Folha de S.Paulo, Silvaldo afirmou ter sido "usado" pela ditadura militar (1964-85) para forjar a cena do "suicídio" de Herzog, que, segundo testemunhas, morreu após ser torturado.

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