Prefeitura de Santa Luzia e o mau exemplo educacional

Hoje em Dia
28/04/2013 às 07:16.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:13

Este jornal revelou na sexta-feira (26) um caso emblemático de desperdício de dinheiro público na área da educação. Em 2011, a Prefeitura de Santa Luzia resolveu substituir os tradicionais quadros-negros das salas de aulas por quadros-negros eletrônicos, também chamados de lousas digitais.
 
Começou comprando 28 quadros, por R$ 342 mil, e contratou uma empresa do Rio de Janeiro, por R$ 134 mil mensais, para fazer a manutenção dos equipamentos que ela mesma havia vendido. Essa empresa de nome sugestivo – Ensino Mais Fácil Tecnologia Ltda – também forneceu à prefeitura projetores multimídia, bases móveis e sistemas de som. Não se informa quanto a prefeitura gastou no treinamento de professores acostumados a dar aulas na base de “giz e cuspe”, para que pudessem usar a nova parafernália destinada a facilitar seu duro labor.

É possível que, para substituir todos os quadros negros das 28 escolas municipais, a prefeitura tivesse que comprar pelo menos mais 500 lousas, mas não havia dinheiro. O prefeito Gilberto Dornelles, do PMDB, chegou ao fim do mandato devendo mais de R$ 100 milhões. Não tinha verba nem para recolher o lixo das ruas.

E o que fez Carlos Calixto, do PSB, vitorioso nas eleições de 2012? Cancelou o contrato de manutenção das lousas digitais e as recolheu ao almoxarifado da prefeitura. Mesmo as que ainda tinham condições de uso. O importante não é dar aos professores, mesmo que a uns poucos, melhores condições para ensinar aos alunos, ainda que não a todos, mas sim tirar da sala de aula qualquer lembrança do adversário político e, se possível, levá-lo à prisão.

Porém, a decisão de se desfazer dos novos quadros-negros não foi bem recebida por professores e diretores de escolas. Eles denunciaram ao Hoje em Dia o recolhimento, também, de materiais escolares que deveriam ter sido doados aos alunos: uniformes, cadernos, tênis e bolsinhas de lápis. Uma providência que foi justificada, desse modo, pela assessoria do prefeito: parte do material apresentava pequenos defeitos, e o que sobrou era insuficiente para novas distribuições.

O que preocupa nessa história registrada num município com mais de 200 mil habitantes, localizado na região mais rica do Estado, é a suspeita de que não se trate de um caso isolado entre os 853 municípios mineiros. Há muito discurso sobre a importância da educação em nosso país, mas a oratória só raramente se converte em prática real de administração pública.

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