Prejuízo que vem do céu: lojistas registram perdas com chuvas intensas em BH

Paulo Henrique Lobato
phlobato@hojeemdia.com.br
03/02/2020 às 22:01.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:31
 (RIVA MOREIRA)

(RIVA MOREIRA)

Além de causar alagamentos em ruas, destruição de imóveis e mortes, as fortes chuvas que caíram em Belo Horizonte nas últimas semanas prejudicaram diversos setores da economia. Os impactos foram sentidos em lojas e também por quem lida com produtos agrícolas que abastecem a capital mineira, apontam levantamento da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) e pesquisa do site Mercado Mineiro, divulgados ontem. 

A CDL/BH diagnosticou perdas em 2.516 estabelecimentos, que funcionam em quatro das nove regiões da cidade (Barreiro, Oeste, Venda Nova e Centro-Sul). O relatório foi entregue ontem ao governador Romeu Zema (Novo), durante encontro na sede da entidade entre o chefe do Executivo mineiro e representantes de vários segmentos da economia mineira. O prejuízo médio é de R$ 16.405,30 e a maioria dos negócios (sete em cada 10) é composta por microempresas.

“As empresas precisam de capital de giro, maquinário e veículos de entrega”, cobrou o presidente da CDL-BH, Marcelo de Souza e Silva. 
Na prática, os empreendedores pleiteiam o adiamento do pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e do Simples Nacional, a prorrogação do prazo para reinscrição do Simples, a isenção ou desconto para as contas de energia e de abastecimento de água e linhas de crédito por meio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). 

Após ouvir o pleito dos lojistas, Zema destacou que a prioridade do Estado foi a questão humanitária e reconheceu a importância de o poder público ajudar a classe empresarial.

“O Estado solicitou ao governo federal, que é quem faz a arrecadação do Sistema Simples, que avalie postergar o pagamento destes estabelecimentos que tiveram algum dano. Estamos analisando – e até amanhã (hoje) daremos uma posição – do que será possível em relação ao recolhimento do ICMS”, disse Zema, declarando não ter como retirar o imposto estadual, mas buscando alternativas como prolongar o pagamento. “O que não deixa de dar um alento a estes empresários que foram afetados”.

O governador ressaltou ainda que o BDMG está analisando a viabilidade de linhas de crédito que atendam os comerciantes prejudicados com a chuva e acrescentou que fez pedido semelhante ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal. Seriam, segundo ele, “prazo e carência maiores para repor o (patrimônio da empresa) que foi perdido”.
Sem prazo para IPTU
 

O comerciante Leonardo Mazzini administra um buffet e um topa-tudo na avenida Teresa Cristina, no bairro Salgado Filho, região Oeste de Belo Horizonte. Ele, que pode não ter eventuais benefícios estaduais reivindicados pelo comércio, recebeu uma guia de R$ 52 mil referente ao Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) no imóvel onde toca os dois negócios. 

Mazzini lamenta a devastação provocada pelas chuvas. “Perdemos praticamente tudo. Certamente mais de 90% do que tínhamos. E não é a primeira vez”, reclama, ainda sem saber se as linhas de crédito irão ajudá-lo a reerguer as empresas: “A gente desanima”. 

Segundo ele, a guia do IPTU, em 2008, era de aproximadamente R$ 5 mil. “Passou para mais de R$ 50 mil nos anos seguintes. O IPTU está em atraso há alguns anos, pois a chuva de 2008 levou muita coisa nossa. Estamos em débito. Continuaremos em débito. Como pagar R$ 52 mil de IPTU numa região que alaga constantemente?”, questiona. 

 Legumes encabeçam altas em sacolões para o belo-horizontino

As fortes chuvas trouxeram prejuízos para os produtores de hortaliças e, consequentemente, os preços na compra de verduras e legumes tiveram um aumento expressivo no final de janeiro, em relação a dezembro de 2019, conforme antecipou o Hoje em Dia. É a análise Feliciano Abreu, coordenador do site de pesquisas Mercado Mineiro, que fez um levantamento sobre os preços em 15 sacolões de Belo Horizonte, entre os dias 29 a 31 de janeiro. Tal reflexo já havia sido verificado pela Ceasa Minas na semana passada. 

“Todo mês vemos aumentos e quedas de preços dos legumes nessa pesquisa, um equilíbrio provocado por safras e entressafras, mas desta vez houve predominantemente aumentos”, diz Feliciano Abreu. 

Os campeões de reajuste foram o tomate, que passou de R$2,52 o quilo para R$6,05 (140%), o jiló, que saltou de R$ 3,63 em dezembro para R$ 6,02 em janeiro (65%) e a beterraba, que em um mês foi de R$1,96 a R$2,95 (50%).

Entre as frutas, o reajuste mais delevado, de 38%, ocorreu no preço do quilo da banana prata, que saiu de R$3,69 para R$5,12. O quilo da maçã fuji, que custava em média R$6,16, agora está em R$ 7,52, uma alta de 22%. Já a e laranja pêra rio, subiu de R$2,28 para R$2,68, aumento de 17%.

Aluguel de caçambas
O Mercado Mineiro também divulgou pesquisa com relação ao aluguel de caçambas, que passaram a ser mais solicitadas para recolher entulhos decorrentes das fortes chuvas. 

A diferença entre fevereiro de 2019 com agora foi no preço da diária excedente, que em média era de R$ 18,64 e agora é de R$ 22,50. “Os preços deste segmento estão bem estabilizados, então esse aumento foi notável”, diz Feliciano. 

No entanto, ele salienta que por ser uma pesquisa com amostragem temporal de doze meses, não é possível determinar que o aumento tenha ocorrido no último mês, em função da maior solicitação do serviço.

A variação de 78% na locação para três dias úteis, entre as empresas consultadas, se manteve no mesmo índice do ano passado. Os preços variam de R$ 140,00a R$ 250. Na diária excedente, os valores vão de R$ 15 a R$ 30 (100% de diferença). 

Tal diferença se deve à informalidade, segundo Allan Rodrigues, gerente executivo do Sindicato das Empresas Locadoras de Equipamentos, Máquinas, Ferramentas e Serviços Afins do Estado de Minas Gerais (Sindileq-MG). ”Há 190 empresas de locação de caçamba em BH, só 38 são regularizadas”.

“O maior prejuízo do serviço das que não são regularizadas é ambiental, muita gente não tem educação e joga lixo nas caçambas, essas empresas clandestinas descarregam isso em lote vago, gerando doenças e animais peçonhentos no local”, completa Allan.(Bernardo Almeida)

 Baixa renda pode ter redução na conta de água da Copasa

Uma das ajudas do governo de Minas Gerais às famílias atingidas pelas tempestades que devastaram dezenas de cidades no Estado deverá ter dois pesos e duas medidas: a possibilidade do abatimento de valores na conta da Copasa poderá se limitar apenas aos lares de baixa renda.

“Neste momento, todos tiveram um gasto adicional com água para limpar a sua residência ou seu estabelecimento. A Copasa está avaliando uma forma de facilitar a vida destas pessoas. Lembrando que esta ajuda será dada apenas àquelas baixa renda. Eu cheguei a ver casas grandes em que a piscina foi inundada e virou barro. Com certeza, uma casa desta não terá necessidade (de abatimento na conta da Copasa). Mas quem realmente precisa, nós queremos contribuir, queremos atender”, disse o governador.

A possibilidade de desconto na conta da Copasa - ou outra medida para aliviar o bolso das famílias atingidas pelas tempestades e que precisaram usar grande quantidade de água fornecida pela estatal para limpar o imóvel - depende uma análise do Conselho de Administração da empresa. (P.H.)

 SAIBA MAIS

 O Procon estadual, órgão do Ministério Público de Minas Gerais, considera que o aumento injustificado de preço em razão das fortes chuvas que castigam o Estado é prática abusiva. Ontem, o Procon-MG emitiu um aviso para orientar os Procons municipais e os promotores de Justiça de Defesa do Consumidor para atuação em casos de majoração injustificada de preços da água mineral e de produtos de primeira necessidade.

O aviso do Procon integra a força-tarefa do MPMG para monitoramento dos efeitos das chuvas. O documento informa que o Código de Defesa do Consumidor proíbe aumento, sem justa causa, de produtos e serviços, como água mineral e outros artigos de primeira necessidade, aproveitando-se das enchentes. O CDC considera essa prática abusiva.

O documento orienta ainda os órgãos sobre as sanções cabíveis nesses casos e sugere quais medidas devem ser tomadas. O alerta foi feito também em relação à importância de ações integradas com as Vigilâncias Sanitárias para fiscalizar o comércio e orientar revendedores “sobre os problemas de contaminação dos alimentos expostos às águas das enchentes”.

 

  

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