Presidente da VW afirma que hatch compacto será engolido pelos SUVs

Marcelo Jabulas
@mjabulas
11/12/2020 às 22:06.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:17
 (Marcelo Jabulas)

(Marcelo Jabulas)

O mercado de automóveis tem vivido “pandemia própria”. Trata-se da onda dos utilitários-esportivos. Os SUVs se tornaram uma ameaça mortal para vários segmentos: minivans, peruas respiram por aparelhos. Sedãs também entraram em rota de colisão, haja visto que a Ford não renovará sua gama de três volumes e muitas marcas também estão deixando essas carrocerias de lado, mesmo que na surdina. Agora chegou a vez dos hatches compactos figurarem na lista de ameaçados de extinção.

Os rumores sobre a falta de interesse no segmento não são de hoje. No final de julho, o presidente da Nissan do Brasil, Marco Silva, deixou claro que não valeria a pena apostar numa nova geração do March. Nas palavras do executivo, a rentabilidade do segmento B-Hatch é muito baixa e seria mais interessante apostar num SUV abaixo do Kicks.

 Agora, mais precisamente no dia 9 de dezembro, o presidente da Volkswagen para América do Sul, Pablo de Si, deixou claro que a VW também perdeu o interesse pelos compactos. De acordo com o executivo, a prioridade da marca é o segmento SUV, que receberá o Taos no primeiro semestre. “O segmento de SUV é o mais desejado do mercado e ele é nossa prioridade”, afirma. 

Números

E tem razão. Segundo a Fenabrave, os utilitários-esportivos correspondem a 32,4% dos emplacamentos em 2020, no segmento de carros de passeio (excluindo comerciais leves e picapes). No ano passado eles representavam 26%. Em números, são mais de 460 mil unidades licenciadas. 

Por outro lado, os hatches compactos caíram de 33% para 29%. E o segmento de entrada se mantém estável, com 12,8%, basicamente para atender a demanda de frotistas, onde Gol e Uno têm grande penetração.

Picapes

O chefão da VW latina também deixa claro que irá investir no nicho de picapes. Segundo Di Si, o Brasil tem grande demanda por esse tipo de veículo com aplicação na mineração e agrone-gócio. A marca lançará uma nova geração da Amarok e também vem cozinhando o projeto da Tarok, picape do porte da Toro, que foi a sensação da marca no Salão do Automóvel de 2018.

E os compactos?

Ele foi questionado se haveria espaço para um modelo abaixo do Nivus, algo na ideia do conceito Taigun, que foi apresentado em 2012, como SUV do Up. Di Si respondeu que a marca vai se massificar ainda mais no segmento e deixou claro quem deverá liberar espaço para os novos jipinhos. “Sabemos onde iremos investir e, claro, quem vai pagar a conta serão os hatchbacks e sedãs, que terão menor participação. Temos espaço para ampliar ainda mais a participação dos SUVs”.

O executivo colocou os compactos na terceira linha da lista de prioridades da marca, que segundo ele segue uma tendência da indústria como um todo. Ele confirmou que o Gol seguirá vivo em 2021, mas o futuro do segmento não é tão próspero como os jipinhos picapes. Isso porque a exigência de novos equipamentos de segurança, assim como as novas normas de emissões do Proconve exigirão investimentos, que tornarão esses carros bem mais caros e menos atrativos.

Regulamentos

A Anfavea conseguiu postergar a obrigatoriedade do controle de estabilidade para modelos em produção, que entraria em vigor ano que vem para 2024. Agora ela tenta esticar a corda das novas normas de emissões sob o argumento de que muitas regulamentações ainda não foram publicadas e que não haveria tempo de concluir todas as validações até 2023.

Mas fato é que os compactos demandarão mais tecnologia (muitas já presentes em modelos mais sofisticados), que encarecerá o custo de produção. No entanto, o valor agregado é mais baixo que o dos segmentos superiores. Assim, hipoteticamente, um Gol (que hoje parte de R$ 54 mil) teria que receber equipamentos que o deixariam mais caro e menos competitivo. Ela teria que cortar na margem para mantê-lo atrativo.

Por outro lado, matar Gol, Fox e Up para colocar um aventureiro abaixo do Nivus permite que a VW consiga precificar melhor o modelo, que tem maior valor agregado. Uma coisa é vender um popular caro, outra é oferecer um jipinho mais “barato” que as demais opções da linha. 

Afinal, a Renault tem feito isso há três anos com o Kwid e muita gente acredita.

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