Presidente do sindicato dos trabalhadores do transporte de Valadares é flagrado recebendo propina

Álvaro Castro
acastro@hojeemdia.com.br
21/06/2016 às 18:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:59
 (Reprodução)

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O presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários de Governador Valadares (Sinttro/GV), no Leste do Estado, Jorge Ferreira Lopes, foi preso na manhã desta terça-feira (21) na quinta fase da Operação Mar de Lama, que investiga o desvio de dinheiro público na cidade.

Dentre os materiais analisados, constam uma série de vídeos apreendidos na quarta fase da operação, em Belo Horizonte, em poder de Roberto José Carvalho, proprietário da Valadarense, empresa que detém o monopólio dos transportes públicos na cidade. Os vídeos estavam em um pendrive, apreendido em uma das empresas de Carvalho na capital. Após uma busca minunciosa nos dispositivos, as imagens foram localizadas.

Roberto José Carvalho e sua filha Juliana Carvalho Schettino são investigados na quarta fase da operação Mar de Lama, que investiga o pagamento de propinas a vereadores e funcionários públicos da cidade. Eles estão presos desde maio, após se entregarem em Belo Horizonte.

Segundo o promotor Evandro Ventura, do Ministério Público de Minas Gerais, existe a certeza que em um dos vídeos fica claro que Jorge está recebendo a quantia de R$ 200 mil (no vídeo é possível ver Roberto contando a soma e entregando a Jorge que guarda a pilha de notas em envelopes) para deflagrar processos de greve.

"Havia uma dificuldade de se conseguir o aumento do valor das passagens de ônibus, possivelmente por se tratar de ano eleitoral (o vídeo é datado de 2010). Por isso, a propina foi paga para que o sindicato incitasse os trabalhadores a fazerem greve. Com a pedida de aumento de salário seria possível, então, o aumento das passagens", explicou o promotor.

O segundo vídeo, que mostra Jorge recebendo os envelopes já recheados de dinheiro, teria motivação semelhante, explicou Evandro Ventura.

Além disso, há indícios de um outro repasse que seria de R$ 1,5 milhão para que Jorge intermediasse acordos de demissão de funcionários da Valadarense. Segundo as investigações apontam, as recisões de contrato de trabalhadores demitidos chegariam ao montante de R$ 2,5 milhões. Com o dinheiro em mãos, o presidente do sindicato tentaria fazer acordos mais vantajosos ao homologar as demissões. O restante do dinheiro que "sobrasse" seria embolsado pelo sindicalista como "recompensa'.

Quinta fase

Durante as buscas e apreensão desta terça-feira, foi localizada em uma das fazendas de Jorge comprovantes bancários que indicam que ele teria vencimentos variando entre R$ 3.600 e R$3.700 reais.

"Os valores são completamente imcompatíveis com o estilo de vida levado pelo sindicalista, que possui fazendas, cavalos de raça premiados e uma picape Chevrolet S10 cabine dupla", contou o promotor. O veículo está avaliado em ao menos algumas dezenas de milhares de reais.

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Operação

A investigação "Mar de Lama" começou em 2013, mas foi deflagrada, em duas fases, em abril deste ano. Até o momento, 26 servidores foram afastados das funções, sendo que 13 deles são vereadores.

Segundo a PF, um grupo foi instalado no Executivo do município e no Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) da cidade, composto por agentes públicos do alto escalão da administração pública municipal e financiado por empresários contratantes com o serviço público.

O nome da operação se refere aos alagamentos causados pelas chuvas torrenciais que atingiram a cidade de Governador Valadares e causaram grande destruição ao município, no terceiro trimestre de 2013. Os desvios teriam ocorrido, então, nas obras para recuperar a cidade dos impactos das chuvas.

As investigações começaram em 2013 quando o Ministério da Integração Nacional repassou R$ 4,5 milhões à cidade para ajudar a recuperar vias e canais destruídos pela chuva.

  

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