Qualidade de vida influencia o voto em 16 capitais do país

Bruno Moreno - Hoje em Dia
07/12/2014 às 07:30.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:17

Há uma relação direta entre qualidade de vida e o voto. E isso pôde ser comprovado nas últimas eleições presidenciais. Os eleitores das capitais do país que perceberam um aumento no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) desde que o Partido dos Trabalhadores (PT) ascendeu ao governo Federal, em 2003, foram os que mais se mantiveram fiéis à continuidade do partido no poder.   Ao mesmo tempo, nos municípios nos quais já havia um alto IDHM, o eleitorado abandonou em massa o PT e migrou fortemente para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).   Nas principais capitais do Norte e Nordeste, como Recife, São Luís, Natal, Belém, Fortaleza, Salvador e Manaus – além de Porto Alegre, no Sul –, o PT perdeu participação nas urnas entre 6% e 27%. Esses índices são resultado da comparação entre a primeira eleição vitoriosa, com Luiz Inácio Lula da Silva, e a última, quando Dilma Rousseff foi reeleita. Dentre as 16 cidades mais importantes do país, foram nessas que o partido diminuiu percentualmente menos no último pleito.   Já os dados do Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil, quando comparado o intervalo entre 2000 e 2010, apontam que foi nessas cidades que se observou o maior crescimento do IDHM no país.   Percentualmente, as cidades em que o índice mais cresceu foram Manaus, Recife, São Luís, Salvador, Belém, Fortaleza e Natal. Apesar disso, elas continuam apresentando os piores índices dentre as 16 pesquisadas.   Desigualdade diminuiu   Como resultado dessa melhora do IDHM no Norte e Nordeste, a desigualdade entre essas capitais diminuiu significativamente. Em 2010, a diferença entre o maior e o menor IDHM era de 0,158 e, em 2010, esse número caiu para 0,108. Essa mudança representa uma redução de 31,6% na desigualdade entre as principais cidades do país.   Políticas Públicas   Para o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Paulo Roberto Figueira Leal, doutor em Ciência Política, esse movimento é um reflexo do direcionamento do governo petista.   “Claramente, a votação do PT nessas cidades é fruto de políticas públicas que melhoraram a vida dos pobres. O país está crescendo pouquíssimo, mas o Nordeste deve crescer 6%”, apontou.   Para o professor, essa seria uma importante explicação para a reeleição de Dilma, já que havia muitas críticas em várias áreas, principalmente na econômica, mas, ainda assim, ela venceu.   Os números foram levantados pela reportagem do Hoje em Dia em cruzamento de dados com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) das eleições de 2002 e 2014, e do Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil, que analisou informações dos Censos 2000 e 2010, coletados e sistematizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).   O Atlas foi feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), pela Fundação João Pinheiro e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).   PT teve votação menor e PSDB cresceu nas principais cidades   Em todas as 16 principais cidades do país (veja infografia) a votação no Partido dos Trabalhadores (PT) em 2014 foi muito menor do que em 2002, ao mesmo tempo em que o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) cresceu em todas elas.   Dentre esses municípios, os que apresentaram menor aumento do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), entre 2000 e 2010, foi onde o PSDB percebeu o maior crescimento nas urnas neste ano.   Ou seja, onde o índice já tinha um bom patamar quando o PT chegou à Presidência da República, em 2003, houve uma migração significativa dos votos para o PSDB nas eleições presidenciais de 2014.   A exceção, mais uma vez, é Porto Alegre, cidade que teve o menor crescimento percentual do IDHM, mas onde o PSDB cresceu muito pouco.   Além delas, em Fortaleza e Salvador o PSDB apresentou os maiores crescimentos entre 2002 e 2014. Fora essas cidades, todas as capitais do Sul, Sudeste e Centro-Oeste experimentaram um crescimento do PSDB.   Ipea   Por meio de nota, o Ipea confirmou a hipótese de que a melhoria do IDHM foi importante para a reeleição da presidente Dilma Rousseff. “A correlação entre o avanço relativo do IDHM e uma melhor performance relativa do PT nas urnas é, de fato, observada. Isso pode ser interpretado, por hipótese, como uma resposta do eleitorado a uma avaliação positiva do governo”   Já no caso dos eleitores das capitais com os melhores IDHMs darem mais preferência à oposição, ou seja, ao PSDB, o Ipea enfatiza que a demanda por mudança apresentada também é legítima. “Da mesma forma, nos municípios que já possuíam uma posição relativa melhor nos indicadores abrangidos pelo IDHM, o eleitorado pode ter se sentido menos beneficiado pelas políticas públicas”.   Para o cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, essa queda nas votações do PT é natural das democracias, e tem ocorrido no Brasil desde que a reeleição foi instituída, ainda no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).   “A votação expressiva do Lula em 2002 não foi só para o PT ou para o ex-presidente petista, mas também para o desgaste de Fernando Henrique Cardoso. Vai seguindo-se ao ciclo que se esgotou”, avalia o professor.   Desde 2002, quando Lula ganhou em todas as regiões do país, a votação no PT tem diminuído sensivelmente e, em 2014, teve a maior queda das últimas três eleições.   Índice cresce pouco em BH, onde Aécio venceu   Em Belo Horizonte, cidade que apresenta o quarto melhor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) dentre as 16 principais capitais do país, o índice foi apenas o 12º em melhoria entre 2000 e 2010, com 11% de crescimento no período.   A cidade, que em 2014 votou maciçamente no PSDB do senador Aécio Neves, apresentou ao PT uma derrota expressiva nas urnas. Enquanto na primeira eleição vitoriosa de Lula foram 75% dos votos para o PT, nesse ano foram apenas 35%. A queda foi de 52,79%.     Abaixo da média   A média de crescimento do IDHM no Brasil na primeira década de 2000 foi de 13,54% e as principais cidades em que o PSDB cresceu tiveram índices abaixo desse número.   Cuiabá, Goiânia, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre ficaram na casa dos 11% de aumento no IDHM.   A exceção, novamente, foi Porto Alegre, em que o IDHM cresceu pouco, mas o eleitorado se manteve fiel ao PT.

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