Quatro em cada 10 moradores de BH têm salários comprometidos com financiamentos

Paulo Henrique Lobato
20/05/2019 às 21:36.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:44
 (Carlos Henrique/Arquivo Hoje em Dia)

(Carlos Henrique/Arquivo Hoje em Dia)

Moradora do bairro Caetano Furquim (região Leste de Belo Horizonte), a faxineira A.C.S. faz parte de uma estatística que tira o sono de muitos moradores da capital: quatro em cada 10 habitantes da cidade têm a renda mensal comprometida com algum tipo de financiamento ou empréstimo. É o que revelou uma pesquisa da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) sobre o perfil do consumidor da cidade.

O percentual exato de quem tem a renda comprometida é de 42,4% da população, mas quando destrinchado por classe social, o indicador chega a 47,7% entre aqueles que fazem parte do grupo C/D (renda de três a nove salários mínimos). Na classe E (até dois salários), o índice é de 40,3% das pessoas. Na classe A/B (acima de 10 salários), 36,7%.

O valor médio que o morador da capital precisa reservar de seus vencimentos para quitar financiamento ou empréstimo é de R$ 1.100,46. No caso da classe A/B, o valor médio é de R$ 1.750,01. O indicador é de R$ 1.445,00 para quem está na C/D, e de R$ 775,75, na E.

Entre os 40,3% da classe E com algum financiamento ou empréstimo, 69% comprometem mais de 30% dos recursos para quitar débitos. “É a parcela que mais sofreu com o desemprego nos últimos anos, por isso recorreu a financiamentos e empréstimos. Além disso, por possuírem um rendimento menor, eles têm a necessidade de usarem esses recursos para adquirir bens de maior valor”, comenta o presidente da CDL-BH, Marcelo de Souza e Silva. 

A economista da CDL-BH, Ana Paula Bastos, avalia que boa parte dos financiamentos e empréstimos está atrelada aos cartões de crédito e às compras de longo período, como veículos. “São os bens duráveis”, resume, recomendando que o consumidor sempre planeje os gastos para evitar a inadimplência.

“Eu tentei fazer isso, mas tive problemas na estrutura de minha casa. Precisei reformar um cômodo, que ameaçou cair, e, por isso, atrasei as contas do fogão que financiei num magazine. Meu nome foi parar na lista de inadimplentes”, lamentou A.C.S., que ganha a vida como faxineira.

Campanha

Com o objetivo de reduzir o crescimento da lista de inadimplentes, e ao mesmo tempo estimular a consciência no planejamento com as compras, governos e entidades ligadas à proteção ao crédito deram início ontem, em todo o país, à Semana Nacional de Educação Financeira.

Em Belo Horizonte, o Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais está à disposição para o esclarecimento de dúvidas. O coordenador do órgão, Marcelo Barbosa, tem a fórmula para orientar o consumidor: “Diante de um produto à venda que te interessa, você deve se fazer três perguntas: ‘Eu preciso disso? Posso pagar? Tenho que comprar agora?’. Se alguma das respostas for negativa, não compre. Deixe para quando a resposta for positiva para as três perguntas”.

O entregador Ivan Eustáquio, de 21 anos, evita parcelar as compras, mas nem sempre isso é possível: “Sempre que posso, pago à vista. É difícil encontrar (quem nunca) quitou uma conta em atraso. Um problema para quem atrasa o cartão é que o juro é alto”, afirmou o jovem. 

Investimentos

Em razão do comprometimento com empréstimo e financiamento, a maioria dos moradores de BH (74,3%) não tem reserva para investir em aplicações. O percentual é maior (89,9%) entre os consumidores da classe E.

Já entre os moradores que fazem algum tipo de investimento, a maioria recorre à tradicional caderneta de poupança (15,9%). “Ainda é uma das aplicações mais conhecidas pela população e que oferece uma margem maior de segurança”, analisou o presidente da CDL-BH, Marcelo de Souza e Silva.

Este é o sonho da faxineira A.C.S., moradora do bairro Caetano Furquim que ganha a vida na faxina: “Um dia, quem sabe?”. O entregador Ivan Eustáquio, que ganha pouco mais de um salário mínimo numa empresa na Savassi, também sabe da importância de guardar parte do salário. “Mas não é fácil. Quando consigo, coloco na poupança”.

A maioria (53,7%) dos que fazem alguma aplicação destina até 10% do vencimento. Já aqueles que conseguem investir de 16% a 20% da remuneração em uma aplicação somam 19,8%. “Mesmo que seja um valor pequeno, é interessante que os consumidores tenham o hábito de investir uma parcela da renda”, recomendou Silva.

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