Redesenho da economia: negócios tradicionais se adaptam e adotam pontos fortes dos rivais

Felipe Boutros e Tatiana Moraes
primeiroplano@hojeemdia.com.br
05/07/2017 às 23:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:24
Valor do taxímetro passou para R$ 4,90. E o quilômetro rodado da bandeira 1 agora é R$ 3,74 (Wesley Rodrigues / arquivo Hoje em Dia)

Valor do taxímetro passou para R$ 4,90. E o quilômetro rodado da bandeira 1 agora é R$ 3,74 (Wesley Rodrigues / arquivo Hoje em Dia)

Impulsionadas pela crise e consolidadas pela sede de modernidade e comodidade do consumidor, surgiram no mercado novas formas de contratar serviços e comprar produtos, como Uber, Cabify, e-commerce e food trucks. Para não perder tempo, os modelos tradicionais de negócios, como restaurantes e taxistas, aceleraram o passo e adotaram os pontos fortes dos rivais. Como reflexo, a economia foi redesenhada. O cliente, principal beneficiado, agradece.

Para o gerente de inovação e sustentabilidade do Sebrae-MG, Anizio Dutra Vianna, quanto mais inovador, maior a competitividade do negócio. “Não é velho versus novo. Temos cada vez mais empresas que utilizam a tecnologia no modelo de negócio”, diz. “Posso ter uma padaria há 20 anos e renovar a qualquer momento”.

A coexistência dos setores é fato. Mas a convivência nem sempre é cordial. Os taxistas, por exemplo, atribuem a queda de 60% no faturamento à chegada dos aplicativos de transporte a Belo Horizonte, conforme o vice-presidente do Sindicato Intermunicipal dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários, Taxistas e Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Minas Gerais (Sincavir-MG), João Paulo de Castro Dias.

Para driblar o problema, os taxistas aderiram aos aplicativos. Por eles, o cliente chama o táxi e paga a corrida com um cartão de crédito previamente cadastrado. A facilidade chama a atenção. Mas os descontos, que chegam a 40%, são o pulo do gato.

O vice-presidente do Sincavir nega que a motivação tenha vindo dos aplicativos de transportes. Mas admite que é necessário rever conceitos e, em época de crise, oferecer mais aos clientes, como descontos. “Antes do Uber e do Cabify nós já usávamos aplicativos. A diferença é que o de agora nós também damos descontos”, afirma. Em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), o Sincavir desenvolve um app exclusivo para os taxistas. Com previsão de chegar ao mercado até agosto, o aplicativo cobrará taxas menores dos taxistas. “Com taxas menores, esperamos maior adesão dos motoristas”, comemora.

Para o gerente-geral da Cabify em Belo Horizonte, Diogo Cordeiro, a modernização dos serviços prestados à população é um caminho sem volta. “Existe uma tendência de inserção de tecnologia nas situações do dia a dia. Vários negócios passam por essas mudanças”, afirma.
Na avaliação de Cordeiro, há espaço para todos no mercado. “Tanto para os aplicativos de transporte, que são concorrentes entre si, quanto para os taxistas e outros modais de transporte, como ônibus e outros”, exemplifica. Segundo ele, quem oferecer o melhor e mais seguro serviço ganha o clique do consumidor.

Restaurantes aguardam a regulamentação
dos food trucks para aderir ao modelo


Fenômeno em Belo Horizonte desde 2013, os food trucks ganharam adeptos devido à facilidade de chegar ao cliente. Os restaurantes ainda não lidam bem com a falta de lei que rege o setor, mas aguardam a regulamentação dos veículos gastronômicos para ampliar a atuação na cidade.

“Quando houver regulamentação, poderemos ter um food truck do restaurante circulando pelas ruas. Como os restaurantes já são consolidados, será uma ótima forma de chegar ao cliente”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG) Ricardo Rodrigues.

Ele lamenta que as leis não sejam as mesmas para os dois negócios. “Queremos igual pagamento de impostos e rigor na segurança alimentar para os dois setores”, diz Rodrigues. “Como empresário, enxergamos que a economia atual passa por transformações importantes que só beneficiam o cliente”, pondera.

O presidente da Associação Mineira de Food Trucks e proprietário do Dip’s Fine Burguer, Felipe Borba, também luta pela regulamentação do segmento. Borba trabalha junto a vereadores de Belo Horizonte para que a regulamentação seja implementada rapidamente. Ele, inclusive, participou da elaboração do projeto. “Segundo a regulamentação, não podemos ficar a menos de 50 metros dos restaurantes e não podemos trabalhar em alguns locais, como centro e Contorno. A maioria já cumpre essas exigências”, afirma.

Ele revela que alguns proprietários de restaurantes já atuam com food trucks. Servem o mesmo produto, porém, mudam o nome do negócio.
O coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato, explica que a concorrência deixou de ser local. Conforme Salvato, diante das novas tecnologias, que agregam facilidades aos clientes, não adianta investir em estratégias antigas.

“Não adianta se o negócio tem 50 anos. Se ele não se adequar à modernidade, vai sair do mercado mais rápido do que entrou”, diz o especialista.

 SAIBA MAIS

A Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) incentiva seus associados a procurar se adequar aos novos modelos de negócios. O vice-presidente da CDL, Marco Antônio Gaspar, destaca que o comércio virtual está crescendo 20% a 30% ao ano, enquanto o geral tem apresentado queda no número das vendas. “Há muitos anos já recomendamos que quem já tem a loja física que tenha também a virtual. O consumidor é que faz a opção por qual canal utilizar”, diz o dirigente.

A entidade, também estimula que pequenos empreendedores formalizem seus negócios, o que proporciona mais possibilidade de ganhos. “Na informalidade, o pequeno empreendedor tem medo de crescer, de ter novos custos. Mas com planejamento isso é possível”, destaca Gaspar.
Esse é o caminho que Aleks Cabral seguiu. Há mais de um ano, ele e dois sócios promovem o projeto “Feito em Casa”, que tem como objetivo agir como um facilitador entre a produção caseira e o consumidor final. “Estou me especializando nesse segmento, me profissionalizando”, explica o produtor de eventos que, inclusive, já se tornou um Microempreendedor Individual (MEI).

Ele percebe esse mesmo movimento entre os produtores, mas com uma diferença de postura, que varia de acordo com o que eles oferecem.
“Na gastronomia, cerca de 90% dos expositores são empreendedores com visão de negócios, com registros no MEI ou no Simples, com fabricação de seus produtos e vendas além de nossa feira. Porém no artesanato, cerca de 80% estão à procura de uma forma de renda alternativa”, explica Cabral. Ele entende que a gastronomia exige uma especialização maior e, por isso, quem opta pelo segmento o transforma em sua principal fonte de renda.

 

 



 

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