'Reféns' do delivery: comerciantes apelam para o serviço, que já começa a perder força

Bernardo Almeida e Paulo Henrique Lobato
primeiroplano@hojeemdia.com.br
31/03/2020 às 21:33.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:09
 (Rogério Lima-Divulgação)

(Rogério Lima-Divulgação)

Além de afetar a economia mundial, o novo coronavírus tornou empreendedores reféns do delivery. Diante da quarentena orientada por órgãos de saúde e da limitação do funcionamento do comércio, empresas que ignoravam o serviço correram para se inscrever em aplicativos de entrega ou contratar os próprios entregadores. Mas isso não significa lucro para todos. 

Nas últimas duas semanas, desde que o comércio da capital passou a funcionar com restrições, empreendedores notaram resultados opostos. No início do isolamento social, o delivery se tornou a vedete da economia, pois muitos consumidores tinham esperança de que o isolamento social trazido pela pandemia seria passageiro. 

Já na segunda semana, a situação se inverteu. Os consumidores, abastecidos de notícias ruins e do risco de demissão em massa, decidiram poupar dinheiro e só comprar itens essenciais, como remédios e alimentos in natura ou semiprontos. 

Nestes casos, que reúnem os segmentos de farmácias e supermercados, o saldo foi positivo. “As vendas cresceram 50%”, calculou Robson Souza, gerente da Drogatudo, no Padre Eustáquio. De acordo com ele, que também pilota a moto para entregar remédios e outros produtos em domicílio, a perda com a falta do público no balcão foi compensada pelo crescimento do delivery.

Tanto é assim que o aplicativo Rappi, que tradicionalmente entrega mais alimentos prontos, informou que acrescentou farmácias ao rol de setores que registraram aumento de demanda. 

Mas outros setores, que na primeira semana do isolamento social comemoraram salto nas vendas, agora lamentam a redução. O receio do desemprego e a incerteza sobre o futuro da economia freou os gastos. Até quem faz a entrega em motos sentiu o baque. 

“As viagens delivery caíram drasticamente. À noite, trabalho numa pizzaria. Dos quatro motoqueiros, ficaram três. Cada saída nossa era com quatro ou cinco pizzas. Agora, é só com uma ou duas unidades. Durante o dia, eu trabalhava para uma empresa, que me dispensou temporariamente. Os bicos também caíram. Estou pegando gato pingado”, lamentou Marcone Santos, há 10 anos na profissão. 

 Empresas aderem à entrega em domicílio para reduzir perdas

Mas quem não está no delivery fica fora do jogo. Após constatar 50% de queda nas vendas, a padaria Pão da Praça, também no Padre Eustáquio, teve de contratar um motoqueiro. “Estamos fazendo de 12 a 20 entregas por dia. Comparando com antes do coronavírus, as vendas estão menores”, contou o gerente, Sérgio Ricardo.

A Lanches Ponto Certo, que vende salgados, também não oferecia o serviço ao cliente. “Mas as vendas caíram 80% e entramos num aplicativo de entrega”, disse Walter Rodrigues. A empresa se inscreveu no aplicativo esta semana. “Torcemos para dar tudo certo”.

Não é fácil apostar em uma estratégia adotada por praticamente quase todos os comerciantes. “Alguns estabelecimentos que tentaram implantar o delivery não tiveram sucesso, outros que tinham uma parcela pequena do faturamento nas entregas a incrementaram, ainda têm prejuízos, mas é melhor do que ficar fechado”, afirma Ricardo Rodrigues, presidente da associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG). 

Segundo o executivo, que é dono do restaurante Maria das Tranças, as entregas no setor têm sido benéficas somente para estabelecimentos que já tinham dedicação exclusiva ao delivery desde antes do novo coronavírus paralisar a economia mundial. “Esses lugares tiveram um aumento de 10% a 15% de movimento, quando comparamos o último domingo ao domingo anterior”.

No restaurante Kanpai, na região Centro-Sul de BH, até fevereiro “as entregas compunham somente 7% do faturamento. Desde então esse serviço nosso triplicou, e esperamos triplicá-lo novamente”, conta Guilherme Xavier, sócio do estabelecimento. Ainda assim, segundo ele, esse aumento da capacidade de entregas só reduziria os prejuízos ainda inevitáveis diante da situação.

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