Renda fixa em baixa provoca corrida dos investidores pessoa física à Bolsa

Rodrigo Gini
Hoje em Dia - Belo Horizonte
21/08/2020 às 21:04.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:21
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

Wesley Rodrigues

Taxa Selic na mínima histórica (2% ao ano); inflação praticamente estável (0,46% no acumulado do IPCA de janeiro a julho) e, no meio de um cenário econômico incerto diante da pandemia de Covid-19, a rentabilidade dos investimentos em renda fixa despencou. Um valor de R$ 100 depositado em Caderneta de Poupança renderá, ao fim do ano, apenas R$ 1,4. O que tem levado cada vez mais pessoas a optar por uma alternativa mais arriscada que, por outro lado, pode proporcionar ganhos maiores: Bolsa de Valores. Em julho, a Bovespa registrou a entrada de 900 mil investidores pessoa física. Na sua grande maioria pessoas entre 16 e 45 anos, que aproveitam a democratização do acesso por meio de corretoras independentes e suas plataformas na internet.

Se poderia parecer equivocado apostar na renda variável depois do tombo de 29,9% do Ibovespa apenas em abril, a recuperação numa velocidade até surpreendente confirma a máxima de que 'nas crises aparecem as grandes oportunidades'. O índice saiu dos 119.527 pontos no fim de janeiro para os 63.570 de 24 de março, o dia de maior queda no ano. Mas já fechou julho aos 102.912 pontos - um acúmulo de 62%. Para quem entrou de abril em diante, a queda sequer foi sentida.

Aprendizado
O bancário Felipe Costa resolveu tentar a sorte na Bolsa em 2010, ao ver que um título de previdência privada que havia feito não trazia grande rentabilidade. E começou por uma das empresas que sempre foram destaque na Bovespa: a Petrobras. Antes dos escândalos de corrupção que derrubaram a ação da estatal. Desde então, houve o 'Joesley Day' (divulgação de conversa telefônica sigilosa entre o empresário Joesley Batista, da JBS, e o então presidente Michel Temer) e, apenas este ano, seis 'circuit breakers' - interrupções no pregão quando a queda supera os 10%. Mesmo assim, a paciência e a persistência trouxeram bons resultados.

"Virar pó eu sei que a empresa não viraria. Aproveitei para comprar na baixa e de repente houve uma virada. Aos poucos vou estudando e experimentando, mas sempre pensando no longo prazo. Não é um dinheiro que eu tenha que usar agora. Eu acabei sendo até um pouco ganancioso ao comprar no primeiro circuit breaker esse ano, sem saber do que viria mais à frente, mas tudo é aprendizado, e estou me recuperando bem do susto de março. Na época o coração até doeu. Quem entrou depois certamente está rindo", lembra.

 Parcimônia na hora de

acompanhar altos e baixos

Para o professor Eduardo Coutinho, coordenador do curso de Administração do Ibmec, a queda do Ibovespa provocada pela pandemia trouxe uma grande oportunidade de negócios. E a diminuição da Selic, com a perda de atratividade da renda fixa, acabou gerando uma reação natural de quem está preocupado com a rentabilidade dos investimentos. Ele diz que o percentual de investidores individuais na Bolsa (26,7% das operações, em julho) ainda é modesto diante do verificado em mercados dos países desenvolvidos.

"Buscar a renda variável é um comportamento natural das pessoas quando a renda fixa cai. E depois do pico do início do ano, criou-se a oportunidade de comprar ativos a preços muito descontados. A alta nos úiltimos meses realmente é significativa, mas o futuro ninguém sabe. Na crise do subprime (2008), por exemplo, a recuperação a patamares próximos dos anteriores foi bem mais demorada", lembra.

Coutinho chama a atenção para aspectos que devem fazer parte da cartilha de quem pretende investir em ações sem grande sustos. "É preciso buscar informações, existem portais e sites muitos bons que ajudam a entender o mercado, como ele funciona. Além disso, bolsa é para longo prazo. Há estudos da Comissão de Valores Mobiliários que mostram que não se ganha dinheiro nas operações de curtíssimo prazo, o chamado day trade. Pode até acontecer, mas não é algo para se apostar", ensina. Outra dica importante é a parcimônia na hora de acompanhar os altos e baixos do patrimônio. "Olhar a cotação todos os dias, várias vezes por dia, só aumenta a ansiedade e a preocupação. É fundamental pensar bem mais à frente".

 Informação é fundamental para

identificar oportunidades

O estrategista-chefe da Clear Corretora (empresa do grupo XP) Roberto Indech ressalta que a procura pela Bolsa se tornou maior bem antes da pandemia. "Há três anos a taxa de juros era de dois dígitos, havia investimentos em renda fixa que pagavam 15, 20% ao ano sem grande risco. Agora isso não existe mais. Além disso, o acesso das pessoas às informações especializadas era bem menor. Nós mesmo oferecemos ações a R$ 5, R$ 10, não é algo apenas para quem tem muito dinheiro. A questão é sempre entender que se trata de um mercado de risco, e que não se deve aplicar um dinheiro que seja necessário no curto prazo".

O economista lembra que, mesmo neste que foi o pior momento da Bovespa no século, houve empresas de vários segmentos se valorizando. Cita como exemplo as do setor do varejo (Via Varejo, Magazine Luíza e B2W). Mas destaca que o conhecimento é fundamental para conseguir identificar oportunidades e aproveitá-las. "Quem entrou a partir de abril quase certamente teve uma rentabilidade muito interessante nesses quatro meses. Mas o mercado de renda variável é um mercado imprevisível. É necessário estudo, consciência, saber o que está se fazendo. Houve um aumento expressivo da procura pela informação, em especial depois que se iniciou a pandemia. Inclusive porque as pessoas tiveram mais tempo em casa e muita gente começou a procurar conhecimentos adicionais sobre o tema".

Ele recomenda aplicar, mais do que nunca, a máxima de "compre na baixa e venda na alta". E buscar referências interessantes para aprender. "Não faltam fontes capacitadas, vídeos, cursos. Tudo isso é importante para popularizar ainda mais a Bolsa e democratizar o acesso. Não é bicho de sete cabeças". 

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