Ruim antes, pior agora: pandemia agrava cenário já negativo na venda de imóveis comerciais em BH

Rodrigo Gini
rgini@hojeemdia.com.br
Publicado em 24/07/2020 às 21:20.Atualizado em 27/10/2021 às 04:07.
 ( Maurício Vieira)
( Maurício Vieira)

Não é necessário ser especialista em mercado imobiliário para constatar a situação. Antes mesmo da pandemia de Covid-19 e seus efeitos, as placas de ‘Vende-se’ em lojas e escritórios de Belo Horizonte se tornaram uma realidade cada vez mais comum. Diferentemente do que ocorre no segmento residencial, que mantém o ritmo de retomada – impulsionado, inclusive, pela busca de espaços maiores ou com área verde nestes tempos de isolamento social –, os principais indicadores que envolvem a oferta de imóveis comerciais na capital traduzem o fenômeno em números. 

Levantamento feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em parceria com o Grupo Zap, mostra que BH é a terceira cidade entre as 10 pesquisadas (sete capitais, além de Niterói, no estado do Rio, e Campinas, em São Paulo) com a maior queda no valor médio do imóvel comercial no acumulado dos últimos 12 meses: 3,11%. Perde apenas para Porto Alegre (5,18%) e Rio de Janeiro (4,24%). O preço médio do metro quadrado (R$ 7.038) é o terceiro mais baixo da lista, 17% abaixo da média nacional (R$ 8.478).

Além disso, o número de unidades vendidas em junho deste ano é 23,20% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado, segundo dados da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI)/Secovi. Neste caso, já com o impacto econômico provocado pelo novo coronavírus, que tende a tornar a situação do segmento ainda mais preocupante nos próximos meses.

“Num momento como o atual, em que vários investimentos deixaram de ser atraentes, o imóvel ganha força por sua solidez. Mas agora, entre adquirir uma sala comercial e um apartamento para ter renda com o aluguel, por exemplo, eu fico com o segundo. O cenário já era de queda e tende a ficar pior, com várias empresas fechando as portas, ou repensando sua estrutura. O dinheiro para de circular. Quem trabalha com 10 salas, vai diminuir para cinco, e assim por diante”, exemplifica o especialista em direito imobiliário e colunista do Hoje em Dia Kênio Pereira. 

Excesso de oferta
Para ele, o movimento negativo começou a se desenhar com a desaceleração econômica após o boom iniciado em 2008. “A oferta vem sendo muito maior do que a demanda. E vários grandes empreendimentos comerciais recentes hoje têm ocupação mínima. Foram concebidos para um outro momento da economia, algo que, especialmente no Brasil, muda muito rápido. A partir de 2014, teve início uma retração, o mercado entrou num ciclo negativo e o país deixou de ser a bola da vez para o investidor internacional. E a pandemia apenas piora o quadro. A tendência é de que as construtoras engavetem os projetos de empreendimentos empresariais”, prevê.

ALÉM DISSO

Para o vice-presidente de Incorporadoras da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas (CMI), Daniel Katz, a pandemia acaba por atrapalhar um movimento de recuperação no mercado de imóveis comerciais. Ele reconhece que o excesso de oferta no cenário recente de crise econômica acabou impactando nos preços e justificando a redução do volume de vendas, mas vê condições para a retomada. “Houve uma sobreoferta de lajes corporativas e, com isso, o aumento da vacância. Ela vinha começando a cair, diante de uma demanda que existe, mas, com a pandemia, infelizmente muitas empresas tendem a desaparecer e o cenário deve demorar um pouco mais a se recuperar na comparação com os imóveis residenciais. No entanto, com a taxa de juros caindo da forma que está, acredito que é questão de tempo para que o comercial pegue carona nesse impulso que os imóveis ganham como opção de investimento. Sem contar que os preços atuais menores favorecem quem quer comprar”.

Coworking aposta na migração de quem precisa cortar custos

Na contramão do que acontece com os imóveis comerciais, e embalada justamente pelo desaquecimento do mercado, um setor prevê crescimento no cenário de pós-pandemia: o de coworking. 

Com as reestruturações que devem afetar muitas empresas, inclusive em termos de instalações, os espaços para trabalho compartilhado tendem a ganhar espaço como alternativa ao home office. 

É o que prevê a empreendedora Bruna Lofego, considerada hoje a maior especialista do país nesse tipo de serviço, e que conta com quatro filiais em BH e uma em São Paulo.

“Muitas empresas estão olhando para dentro de si mesmas e se dando conta de que será mais adequado reduzir sua estrutura física. Assim como há pessoas que, por não aguentarem mais ficar em casa, preferem trabalhar num escritório. O coworking oferece a possibilidade de menor custo e burocracia, com todo o necessário”, ressalta.

Até mesmo pelo caráter dinâmico da proposta, com possibilidade de utilização múltipla dos espaços, a ordem é garantir o máximo de proteção e segurança, para minimizar riscos de disseminação da Covid-19. “Os usuários têm de passar por um tapete higienizador; exigimos o uso de máscaras, disponibilizamos álcool em gel individualmente e todo o material de uso comum, assim como as salas e estações de trabalho, são higienizados constantemente. Fizemos questão de instalar quadrinhos em que fica a anotado o horário de cada limpeza, à vista de todos”.

Uma alternativa que vem atraindo quem pretende racionalizar a estrutura e reduzir custos. Dono de uma agência de publicidade, Jihan Kazzaz entregou em maio a casa em que a empresa funcionava, no Santo Agostinho, para apostar nas vantagens do coworking. “Eu gastava uns 30% do tempo resolvendo questões práticas e problemas fora da nossa atividade. Era necessário ter recepcionista, me preocupar com segurança, compra de material e tudo o que uma sede própria exige. Pelos custos, não valeria a pena continuar. Agora tenho quem cuida disso, sem qualquer prejuízo em relação ao nosso trabalho. Por enquanto estamos priorizando o home office, mas a ideia é nos transferir progressivamente para o espaço compartilhado. E, pelo que eu vejo, será um caminho sem volta”. 

 

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