'Sai, demônio!': o exorcismo ainda é prática comum no Vaticano

Agence France-Presse
22/06/2018 às 17:51.
Atualizado em 10/11/2021 às 00:55
 (ALBERTO PIZZOLI / AFP)

(ALBERTO PIZZOLI / AFP)

A Igreja católica não descuida do demônio. O papa se refere a ele com frequência e, na França, dezenas de padres se dedicam ao exorcismo para aliviar os tormentos dos fiéis e, às vezes, até dos não crentes.

Com mais frequência que seus predecessores, o papa Francisco menciona a presença do diabo e o combate espiritual contra este "ser pessoal que nos fustiga". Segundo os evangelhos, o próprio Jesus Cristo expulsou demônios.

O exorcismo consiste em lutar contra as forças diabólicas que fazem com que uma pessoa esteja "possuída".

Esta prática não é do gosto de todos e havia caído em desuso desde o Concílio Vaticano II (1962-1965), mas em 2014 o Vaticano reconheceu uma associação internacional de exorcistas.

A Conferência dos Bispos da França (CEF) se dotou de um "escritório nacional de exorcistas" que serve de vínculo com a centena de sacerdotes que exercem esta delicada missão.

O padre Emmanuel Faure, da diocese de Belley-Ars, no norte da França, programa uma reunião por semana, mas insiste em que "é um apostolado de misericórdia".

Quem recorre aos padres exorcistas? Pessoas "de todas as idades e classes sociais, católicos, pessoas que voltam à Igreja, adeptos da medicina alternativa..." As mulheres são maioria, mas "nos últimos tempos, vi bastante homens", detalha o padre Faure.

Livro vermelho

Este sacerdote benze a pessoa com um crucifixo e lhe propõe beijar uma cruz. Em seu trabalho respeita o "ritual do exorcismo", um pequeno livro vermelho encadernado em couro. Recita uma oração destinada a libertá-la das forças maléficas e, se for necessário, interpela o "príncipe das trevas" com o famoso "Sai fora, Satanás!". "É muito bíblico", afirma.

Cerca de "99% das pessoas necessitam conhecer um Deus de amor e de paz: não estamos aqui para gerar medo", afirma o sacerdote.

Outros exorcistas, mais tradicionalistas, seguem o velho ritual em latim, que consideram "sagrado". "Após o Vaticano II realizamos ações de libertação de feitiços, malefícios... Mas ante as possessões demoníacas não dá frutos", aponta George de Saint Hirst, membro da igreja católica antiga (independente do Vaticano), que se orgulha de praticar cerca de mil exorcismos por ano em seu claustro.

"Pessoas vítimas de forças ocultas vão ver um curandeiro, um terapeuta... E às vezes um sacerdote. Uma pequena luz acesa para que tomem consciência de que têm uma alma e que é preciso curá-la", conta.

As dioceses advertem contra os exorcistas "sem mandato" que se apresentam na internet com o título de "monsenhor". "Alguns querem transformá-lo em um negócio, o que deveria servir de alerta: a igreja nunca cobra", diz Emmanuel Coquet, secretário-geral adjunto da CEF.

"Não se trata de ser especialistas no diabo, mas apaixonados por Deus que tentam implementar sua ação", conclui o responsável episcopal. Contra o Maligno "isso é na verdade o mais eficaz".

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