Senado aprova impeachment e cassa mandato de Dilma Rousseff

Renata Evangelista
rsouza@hojeemdia.com.br
31/08/2016 às 13:33.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:38
 (Agência Estado)

(Agência Estado)

O dia 31 de agosto de 2016 ficará para sempre marcado na história do Brasil. Foi nesta data que Dilma Rousseff (PT), a primeira mulher a assumir a presidência da república, foi afastada definitivamente do cargo. A petista, como já era esperado, não conseguiu dois terços dos votos no Senado Federal e, a partir de agora, terá que deixar o Planalto.

No total, 61 senadores votaram a favor do impeachment e apenas 20 foram contrários - não houve nenhuma abstenção. Dilma foi acusada pela oposição de ter cometido crime de responsabilidade e, julgada pelos senadores, considerada culpada. 

Contudo, os parlamentares decidiram que a petista pode continuar a exercer cargos públicos. No total, 42 votaram pela inabilitação, 36 para pela habilitação e outros três se abstiveram. Para que a pena fosse aplicada, pelo menos 2/3 (54 de 81) dos senadores deveriam ter votado a favor do afastamento também da vida pública.

Com o resultado da votação, o até então presidente interino, Michel Temer (PMDB), ficará com o cargo até o fim de 2018. A defesa da petista já sinalizou que vai recorrer do resultado. A expectativa é de que nos próximos dias o ex-ministro José Eduardo Cardozo, advogado de Dilma, entre com recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter a destituição.

Dilma foi a primeira presidente do Brasil a ser deposta do cargo. Fernando Collor de Melo foi submetido ao mesmo julgamento, em 1992, mas renunciou antes da votação final.

Eleição

Dilma Rousseff estava em seu segundo mandato. Ele foi eleita a primeira presidente do Brasil em 2010, com 55 milhões de votos. Em outubro de 2014 ela venceu Aécio Neves (PSDB), no segundo turno, e permaneceu no cargo. Na ocasião, ela recebeu 54.499.901 votos (51,64%) contra 51.041.010 (48,36%) do adversário.

"Golpe"

Horas após a confirmação do impeachment, uma ex-presidente combativa fez discurso forte, prometendo intensa oposição ao novo governo. Em pronunciamento no Palácio da Alvorada, Dilma disse ter sofrido o segundo golpe de Estado em sua vida. 

"O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da tortura, me atingiu quando era  uma jovem militante. O segundo, o golpe parlamentar desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me derruba do cargo para o qual fui eleita pelo povo", discursou, convocando a militância. 

"Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer", afirmou, dirigindo-se aos seus eleitores e movimentos sociais e sindicais.DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO

Padrinho político de Dilma, Lula articulou, mas não conseguiu reverter o resultado

Perfil

Mineira de Belo Horizonte, Dilma Vana Rousseff tem 68 anos e é filha de um imigrante búlgaro, empresário, e de uma professora brasileira. Nascida em 14 de dezembro de 1947, a presidente reeleita iniciou sua militância política aos 16 anos, quando ingressou na luta armada contra a ditadura militar.

Durante o regime, Dilma integrou organizações de esquerda, como o Comando de Libertação Nacional (Colina) e a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). A hoje petista passou quase três anos presa entre 1970 e 1972 e foi torturada nesse período por órgãos da repressão. Após deixar a prisão, Dilma mudou-se para Porto Alegre e formou-se em Economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Dilma viveu grande parte de sua vida no Rio Grande do Sul, onde participou da criação do PDT, em 1980. Permaneceu filiada à legenda até 2001, quando entrou para o PT. Foi casada durante mais de 30 anos com o advogado Carlos Araújo, pai de sua única filha, Paula. O primeiro cargo público foi na prefeitura de Porto Alegre como Secretária da Fazenda.

Também foi secretária estadual de Minas e Energia. Em Brasília, durante a campanha presidencial de 2002, que levou Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, Dilma participou da equipe responsável por formular o plano do governo na área energética.

Posteriormente, foi convidada por Lula a ocupar a pasta de Minas e Energia em 2003. Permaneceu no cargo até 2005, quando substituiu José Dirceu, na Casa Civil, ficando no posto até 2010. Em 2009, revelou que se submetera a tratamento contra um linfoma descoberto em exame de rotina. Após sessões de radioterapia e quimioterapia, anunciou que estava curada do câncer. Meses depois, teve sua candidatura à Presidência oficializada pelo PT.

Dilma comandou uma extensa campanha pelo País, tendo Lula como seu principal cabo eleitoral.Em segundo turno, foi eleita a primeira presidente mulher do Brasil. Em 2014, em busca do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff e seu partido, o PT, renovaram a coligação com o PMDB, mantendo o atual vice-presidente Michel Temer na chapa. Mais uma vez Lula esteve ao lado da presidente vitoriosa.

*Com Agência Brasil

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