
Primeira mulher a ocupar o cargo mais alto na direção das Federações do Comércio do país, Maria Luiza Maia Oliveira, de 72 anos, completou no mês passado um ano à frente da Fecomércio-MG.
De tesoureira na chapa que venceu a última eleição na entidade – cujo presidente pediu licença depois da posse, em razão de investigações do MP sobre o processo –, ela tornou-se presidente interina. E, em poucos meses, viu-se em meio a um enorme desafio: ajudar a mitigar os impactos da pandemia da Covid-19 nos setores de comércio de bens e serviços e de turismo do Estado.
“Não está sendo nada fácil, mas, com a ajuda da equipe, acredito que temos nos adaptado bem e dado respostas à altura”, diz. Adaptação, aliás, é um dos requisitos para que o empresariado sobreviva de agora em diante, como ela explica nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia.
Como tem sido a experiência ao longo desta inesperada gestão?
Muito rica. Realmente, cheguei e estou passando por um momento bem difícil, que é o dessa pandemia. Tivemos de fazer adequações na entidade, inclusive no quadro de pessoal, e adotamos o home office. Mas mantivemos nossa equipe principal de trabalho, que é maravilhosa. E isso ajuda a fazer com as que coisas fluam e a que a Federação esteja funcionando muito bem.
O que a entidade tem feito para mitigar os impactos da pandemia junto às associadas?
A Fecomércio-MG tem trabalhado bastante para minimizar os efeitos da crise. Temos, por exemplo, produzido lives, publicado ebooks, dado cursos nos quais procuramos ensinar ao empresário como sobreviver nesse período. Por meio de parcerias, também buscamos reduzir efeitos, por exemplo, nas áreas tributária e trabalhista. Nessa última, aliás, apesar de todas as ações feitas pelo governo, já há algumas caducando e não temos muita perspectiva de volta. E isso é muito complicado para a sobrevivência das empresas. Manter renda e empregos numa situação dessas não é fácil.
A senhora se refere à MP 927, que perdeu validade esta semana, mas, por outro lado, a MP 936, das suspensões de contratos e reduções de salários, virou lei. Tem ajudado?
Sim, essa medida preservou cerca de 12 milhões de postos de trabalho no país. Porém, a ausência de previsibilidade para a retomada de algumas atividades empresariais é que nos preocupa. Inclusive, várias empresas, mesmo após o período de 60 dias, permanece fechada. Ou seja, suspende-se o contrato de trabalho, mas o prazo da suspensão não corresponde ao período de inatividade da empresa. Então, a gente está ainda estudando o que fazer.
Como a Fecomércio-MG tem contribuído para aprimoramento do programa “Minas Consciente”, do governo estadual?
Como o Ministério Público obrigou os municípios a aderirem ao programa, temos que ajudar a modificar o perfil das recomendações Por isso, fizemos reivindicações ao Comitê Gestor e estamos trabalhando juntos para que as mudanças sejam viáveis. Até o dia 29, teremos uma resposta sobre isso.
Que modificações seriam essas?
Por exemplo: o Minas Consciente dividiu o Estado em 14 regiões. Agora, propusemos que se faça a divisão em muitas microrregiões, levando em consideração o porte das cidades, a maioria delas com menos de 10 mil habitantes. Não se pode compará-las a cidades como BH ou Uberlândia. Então, essas diversificações é que estão sendo estudadas, para que se oriente os prefeitos obrigados a aderir ao programa.
Nos primeiros dois meses de pandemia, as perdas foram altas para o comércio. Mas, depois, parece ter havido reação. Tem havido uma adaptação?
Acho que os setores de comércio e serviços de fato estão se reinventando, achando caminhos. Por exemplo, o e-commerce cresceu demais, assim como o delivery. Temos empresas em Minas que nem querem voltar a trabalhar como antes. Restaurantes que decidiram atuar apenas com delivery e vão continuar assim, porque o sistema tem se provado mais viável e rentável. Quer dizer, vai haver uma mudança de comportamento muito grande, tanto do comerciante e do prestador de serviço como do consumidor.