Supermercados dão desconto de mais de 80% para produtos perto da data de validade

Rafaela Matias
rsantos@hojeemdia.com.br
11/10/2018 às 20:16.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:55
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Para amenizar prejuízos e agradar o freguês, supermercados com atuação em Minas apostam cada vez mais em mega promoções e liquidações de produtos com a data de validade próxima do vencimento. Com descontos que chegam a 87% do valor original, a estratégia é vantajosa tanto para a empresa quanto para o consumidor, desde que a informação esteja clara.

A rede Decisão Atacarejo oficializou, no mês passado, a estratégia. Agora, o supermercado conta com uma gôndola específica para produtos prestes a vencer. Os descontos vão de 30% - para aqueles com prazo de um mês para consumo - a 80%, quando a data de validade já está na semana final. 

“Já notamos uma redução nos índices de perda e desperdício. Além disso, o cliente fica satisfeito por levar um produto dentro da validade, pagando um valor praticamente simbólico”, diz Leonardo Vilaça, diretor Comercial e de Marketing da rede. 
O representante comercial Pedro Steinberg, de 29 anos, é um consumidor assíduo de mercadorias prestes a vencer. Apreciador de uma “gelada”, ele chegou a economizar 87% para abastecer o freezer. Pagou R$ 1,98 por uma cerveja artesanal que custava R$ 15. “Eu e meus amigos criamos até um grupo de WhatsApp para compartilhar essas promoções”, conta. 

 Flávio TavaresGuilherme Furst garantiu o churrasco do fim de semana ao comprar uma picanha premium por R$ 29,90 o quilo 


O analista de sistemas Guilherme Furst, de 26 anos, também fica de olho nas liquidações, especialmente de carnes, e não acha que a data de validade mais curta seja um prejuízo ao consumidor. 

“Acabei de comprar uma picanha premium por R$ 29,90 o quilo e vou consumi-la ainda no fim de semana. Então não vejo problema algum em ter uma validade menor. Além disso, podemos congelar a carne”, afirma. 

A reportagem encontrou outras ofertas atrativas em supermercados da capital. Na rede Super Nosso, o quilo do filé mignon saía a R$ 17,90, com a data de validade marcada para o dia seguinte. Normalmente, a carne é comercializada por R$ 45,90. Já o quilo da castanha de caju custava R$ 49,90 no MartMinas, também com a validade para o dia seguinte. O preço normal chega a R$ 65,90. 

Outra rede que conta com a iniciativa para evitar o desperdício e ajudar o cliente a poupar, o Extra oferece produtos agrupados em uma gôndola especial, com descontos que chegam a 40%. 

“Uma das vantagens é que a gestão estratégica do estoque desses itens e o incentivo ao consumo consciente colaboram com as ações para evitar o desperdício dentro das lojas”, diz o Extra, por meio de nota. Podem ser encontrados na seção biscoitos, chocolates, massas, cereais, molhos, enlatados, queijos, iogurtes e bebidas. 

 Cliente deve receber item grátis se achar outro fora do prazo 

Se os “quase vencidos” beneficiam os dois lados, os produtos que já passaram da validade podem ser uma dor de cabeça para os supermercados. 

A legislação brasileira não permite a comercialização de produtos vencidos, por considerar uma ameaça à saúde pública. 
Em Belo Horizonte, o programa “De Olho na Validade”, desenvolvido em parceria entre a Associação Mineira de Supermercados (Amis) e o Procon-MG, prevê que quando o consumidor identificar dentro do estabelecimento comercial um produto fora do prazo, a empresa deverá fornecer a ele, de forma gratuita e imediata, um outro produto idêntico e próprio para o consumo. 

“Na hipótese de, no estabelecimento comercial, não existir produto idêntico àquele cujo prazo de validade esteja vencido, o consumidor terá direito a qualquer produto similar da mesma seção com preço equivalente”, prevê o programa. 

O superintendente da Amis, Antônio Claret Nametala, diz que a iniciativa busca conscientizar os supermercados de que o estoque deve ser o mais ajustado possível, para evitar que os produtos estraguem nas prateleiras. “O vencimento é consequência de uma compra mal feita ou de uma operação que falhou. O melhor é que isso não aconteça”, afirma. Mesmo assim, Claret observa que a lei poderia ser mais flexível, como acontece em outros países. 

“Na verdade, o produto que vence hoje não está impróprio para consumo amanhã. Em alguns países, como a Dinamarca, há supermercados só com produtos vencidos, com preços muito competitivos”, diz. 

Prejuízo 

Em 2017, os supermercados do país registraram prejuízo de R$ 6,4 bilhões em perdas. De acordo com a 18ª Avaliação de Perdas no Varejo Brasileiro de Supermercados, divulgada em agosto pela Abras, 36% do prejuízo está relacionado a quebra operacional, que inclui o descarte de itens fora da validade. Apenas nas seções de açougue, FLV (frutas, legumes e verduras), padaria e peixaria, o setor teve quebra de R$ 3,9 bilhões no faturamento. 

Segundo o administrador Gustavo de Rezende Jardim, professor do MBA em Marketing do Ibmec, a estratégia de promover mega liquidações tenta evitar que o quadro se repita neste ano. “É uma forma de tornar o produto mais atrativo, já que o cliente terá o ônus do consumo mais rápido, para aumentar o giro e evitar a perda”, afirma. 

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