Suspeito de atentados é caçado na França e aumenta a ramificação belga

AFP
16/11/2015 às 08:59.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:30
 (Miguel Medina)

(Miguel Medina)

PARIS - A França amanheceu em silêncio nesta segunda-feira (16). Em memória às vítimas dos atentados se sexta-feira (13), os mais cruéis da história do país, o minuto iniciou às 9 horas (no horário de Brasília). Em meio ao luto nacional de três dias, um suspeito de envolvimento nos atentados de Paris está sendo ativamente procurados pelos investigadores que também se concentram na Bélgica, onde a operação terrorista reivindicada pelo grupo Estado Islâmico (EI) pode ter sido planejada.

A polícia francesa pediu no domingo (15) a ajuda da população para tentar localizar Abdeslam Salah, 26 anos, alvo de uma ordem de prisão internacional emitida pela justiça belga.

Apresentado como um indivíduo perigoso, ele pode ser um dos camicases mortos ou pode estar foragido, segundo fontes próximas à investigação. Ele morava em Molenbeek, um bairro popular de Bruxelas, de onde são oriundas as cinco pessoas detidas após os atentados de sexta.

Segundo o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, o suspeito também é procurado na Bélgica.

Os terroristas dispararam centenas de vezes com Kalachnikovs contra o público presente na casa de espetáculos Le Bataclan e contra os clientes em bares e restaurantes no 11º distrito de Paris, uma área muito boêmia.

Os homens-bomba que detonaram os explosivos que levavam consigo em torno do Stade de France, por sua vez, tinham a intenção de entrar no estádio, mas não conseguiram, segundo o secretário de Estado para Esportes francês, Thierry Braillard.

Mas, para entrar no Stade de France, é preciso validar o ingresso em um sistema eletrônico e depois submeter-se a uma revista corporal.

Os três suicidas decidiram, então, se explodir perto do estádio, onde era disputado um amistoso entre França e Alemanha, assistido por 80 mil espectadores.

Dois deles ativaram seus explosivos entre as 21h20 e as 21h30 (hora local) na esplanada que cerca o estádio, frente às entradas D e H. Na primeira explosão, morreu uma pessoa que passava perto.

A terceira explosão aconteceu pouco antes das 22h00 em uma rua próxima e só morreu o suicida. A explosão ocorreu na entrada de um beco, como se o suicida tivesse se isolado voluntariamente antes de se fazer explodir.

Dois suspeitos identificados

Outros dois homens-bomba foram identificados, um deles francês e outro com passaporte sírio, que transitou pela Grécia em outubro, anunciou a procuradoria.

A autenticidade do passaporte sírio encontrado ao lado do corpo do homem-bomba no Stade de France ainda precisa ser comprovada, "mas existe uma compatibilidade entre as impressões digitais do homem-bomba e as tomadas durante um controle na Grécia em outubro", afirma um comunicado da procuradoria. O passaporte está em nome de Ahmad al-Mohammad, nascido em 10 de setembro de 1990 na cidade síria de Idlib.

O governo grego informou no sábado que o indivíduo portador do passaporte encontrado em Paris havia sido registrado na ilha grega de Leros em outubro. "Chegou à ilha de Leros em 3 de outubro, onde foi registrado de acordo com as regras da União Europeia", afirmou o ministro grego da Proteção aos Cidadãos, Nikos Toskas.

O outro homem-bomba identificado, um dos três autores do massacre na casa de espetáculos Bataclan, é Samy Amimour, um francês com antecedentes judiciais nascido em 15 de outubro de 1987 em Drancy, subúrbio do norte de Paris.

Ele era conhecido pela justiça antiterrorista e foi "indiciado em 19 de outubro de 2012 por associação terrorista para delinquir (projeto de viagem ao Iêmen abortado) e havia sido colocado sob controle judicial", informou a procuradoria de Paris.

Depois de violar o controle no fim de 2013, o francês foi objeto de uma ordem de prisão internacional. Três parentes de Amimour fora detidos e estavam sendo interrogados pela polícia nesta segunda-feira.

Cinco terroristas foram identificados pelas autoridades francesas desde os atentados de sexta-feira (13), que deixaram pelo menos 132 mortos e 350 feridos, muitos deles em estado grave.

Conexão belga

Entre os sete terroristas investigados, todos mortos por seus cinturões de explosivos, os investigadores identificaram três franceses, com idades variando entre 20 e 31 anos.

Dois deles moravam em Bruxelas, sendo que um no bairro de Molenbeek, de acordo com Ministério Público federal.

O primeiro se explodiu perto do Stade de France, o outro no boulevard Voltaire, leste parisiense.

Segundo fontes próximas à investigação, este último camicase é irmão de Abdeslam Salah e de um outro homem interrogado no sábado pela polícia belga.

O terceiro camicase francês foi identificado no sábado: trata-se de Omar Ismail Mostefai, 29 anos, por ora o único membro do comando que atacou o Bataclan formalmente identificado.

Os investigadores também descobriram que os dois veículos utilizados pelos terroristas foram alugados em Bruxelas dias antes dos atentados.

Várias Kalachnikovs foram encontradas dentro dos carros, um deles um Seat preto visto por testemunhas perto do local dos tiroteios contra bares e restaurentes e abandonado em Montreuil, periferia de Paris.

Um Polo preto também foi descoberto nas proximidades do Bataclan, onde 89 pessoas foram mortas por disparos e pela explosão dos três homens-bomba.

Os investigadores tentam agora determinar se alguns dos sete detidos na Bélgica no sábado também estão envolvidos nos atentados.

Um dos detidos em Molenbeek alugou um dos carros localizados e foi identificado em um controle em Cambrai, norte da França, perto da fronteira belga.

Molenbeek se transformou num lugar de trânsito para os jihadistas nos últimos anos, como Mehdi Nemmouche, responsável pelo massacre em 2014 no museu judaico de Bruxelas, que passou pelo bairro belga.

A polícia francesa, além disso, investiga a veracidade de um passaporte sírio encontrado perto do corpo de um dos terroristas do Stade de France. O passaporte pertence a um migrante que chegou à Europa através da Grécia em 3 de outubro passado.

Luto e pânico

Nos locais dos atentados que deixaram 132 mortos e 350 feridos - as cifras podem aumentar devido à gravidade de alguns sobreviventes -, as pessoas continuavam a prestar suas homenagens às vítimas e familiares.

Populares pesarosos afluíram com flores e velas, principalmente na entrada de El Bataclan, onde houve o maior número de mortos.

A Praça da República, transformada em mausoléu improvisado, houve um breve momento de pânico, quando um alerta falso motivado por um ruído de origem desconhecida levou as pessoas a correr e até a mesmo cair, um sinal do nerviosismo que domina a capital.

A prefeitura de Paris, por sua parte, anunciou a reabertura dos museus e outros centros culturais na área de Paris a partir da tarde de segunda-feira.

A Torre Eiffel, símbolo da capital francesa, ficará fechada até nova ordem após os atentados em Paris, e depois de ter as luzes apagadas em sinal de luto, voltou a ser iluminada neste domingo.

Na igreja de Notre Dame, os sinos tocaram às 18h15 (15h15 de Brasília) antes do início de uma missa solene da qual participaram personalidades de todo o país.

O presidente francês, François Hollande, que apelou para a unidade nacional, já recebeu líderes de vários partidos, incluindo seu antecessor e rival de direita, Nicolas Sarkozy.

Hollande discursará nesta segunda-feira nas duas Câmaras do Parlamento, reunidas no Congresso em Paris em um ato político excepcional.

O presidente, que chamou os ataques de "ato de guerra", decidiu mobilizar 3.000 soldados adicionais na operação Sentinel, criada após os ataques de janeiro para proteger locais sensíveis (sinagogas, mesquitas...) e públicos.

No total, 10 mil soldados serão mobilizados até a terça-feira à noite no território francês, especialmente em Paris, o limite máximo previsto para a Sentinel.

Mas Hollande vai informar ao Parlamento que deseja que o estado de emergência seja mantido por três meses.

A extensão do estado de emergência além de 12 dias só pode ser autorizado mediante lei votada pelo Parlamento, que deve fixar uma duração definitiva.

Ação e reação

A França não demorou a reagir aos atentados de sexta. Caças franceses lançaram 20 bombas na noite deste domingo sobre o reduto de EI em Raqa, leste da Síria, destruindo um posto de comando e um campo de treinamento, segundo anunciou o ministério da Defesa.

"O primeiro alvo destruído era utilizado pelo Daech (acrônimo em árabe do EI) como posto de comando, centro de recrutamento jihadista e depósito de armas e munição. O segundo alvo abrigava um campo de treinamento terrorista", acrescentou o ministério em um comunicado.

Doze aeronaves, entre elas dez caças, engajaram-se simultaneamente a partir dos Emirados Árabes Unidos e da Jordânia e lançaram 20 bombas.

"Planejada para os locais preliminarmente identificados durante missões de reconhecimento realizadas pela França, esta operação foi conduzida em coordenação com as forças americanas", destacou o ministério.

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