Tarifas bancárias sobem até 12 vezes mais que a inflação em dois anos

Paulo Henrique Lobato e Malú Damázio
05/07/2019 às 20:31.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:25
 (Editoria de Arte)

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Não é preciso uma pesquisa nacional para concluir que a maioria dos correntistas brasileiros desconhece o quanto paga pelos serviços bancários. Não pense que é um valor baixo ao fim de cada mês: o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) apurou que o reajuste médio de 70 pacotes de serviços oferecidos pelos cinco maiores bancos do país foi quase o dobro da inflação em dois anos. No entanto, houve casos em que as tarifas subiram até 12 vezes mais que a inflação. 

Os pesquisadores levaram em conta o intervalo entre abril de 2017 e março de 2019, quando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 7,45%. No mesmo acumulado, o reajuste médio praticado por Bradesco, Banco do Brasil, Caixa, Itaú e Santander ficou em 14%.

“O Banco Central editou as normas de serviços bancários em 2008, mas elas não (determinam) o indicador para os reajustes ou qualquer outra métrica possível para a correção das tarifas. A única questão que tem é sobre o prazo para os reajustes, que só podem ocorrer a cada 180 dias”, criticou Ione Amorim, economista do Idec. Ela sugere, por exemplo, que o IPCA seja utilizado como balizador do aumento.

 Lucas PratesAdelma Santos busca serviços isentos de tarifas

Enquanto a lacuna não é corrigida, recomenda-se ao brasileiro mais interesse no assunto. A promotora de vendas Isabela Silva, de 20 anos, nunca se atentou para os preços: “Sei que descontam do meu dinheiro, mas não faço ideia de quanto pago a cada movimentação”. 

Já a publicitária Adelma Santos, de 25 anos, percebeu que era taxada por saques em bancos 24 horas e parou de utilizar o serviço. Após a descoberta, passou a ficar mais atenta. “Agora tento fazer só o que não me cobram”, conta.

Não há outra forma de proteger o bolso senão pesquisar valores e estudar qual a melhor empresa para cuidar do dinheiro. O coordenador do Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Marcelo Barbosa, diz que as informações sobre tarifas devem estar explícitas no contrato assinado pelo correntista, no site da empresa e em cartazes nas agências.

O cliente pode optar por pacote de serviços essenciais, que é gratuito, básicos ou diferenciados. Os valores são pré-fixados e podem ser revistos semestralmente ou anualmente. 

Procurado pelo Hoje em Dia, o Bradesco informou que “leva em conta indicadores de mercado e características dos serviços oferecidos das cestas” e que “dispõe de amplo portfólio de cestas de serviços”.

O Santander informou que os reajustes “obedecem à inflação desde a última alteração de preço, além de serem ajustadas às condições do mercado”. O Itaú Unibanco disse que “busca sempre manter a melhor relação custo-benefício para os clientes” e que o reajuste “leva em consideração inflação, custos operacionais e características de cada um dos pacotes ofertados”. 

O Banco do Brasil também informou que os preços são baseados na inflação, custos operacionais dos serviços vinculados aos pacotes e movimentos de mercado. “Os pacotes de serviços são oferecidos a partir de R$12,88 e de acordo com as necessidades e perfil de cada cliente”. Caixa não se manifestou.

 Cliente tem que avaliar o custo-benefício do pacote contratado

Mesmo com as tarifas de serviços bancários subindo mais do que a inflação, há situações em que compensa ter o pacote. Isso porque, quando o correntista realiza alguma ação fora do previsto em sua cesta, a instituição pode aplicar taxa extra, como explica Marcelo Barbosa, coordenador do Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

“Em alguns casos, é indicado assinar um pacote mais caro, porque o custo-benefício pode ser melhor. Por exemplo: se a pessoa tem direito a três saques no caixa eletrônico e sabe que a média mensal dela é maior, o ideal seria conversar com o gerente e reavaliar”, recomenda Barbosa. 

A economista Mafalda Ruivo Valente, professora do curso de administração das Faculdades Promove, endossa a importância de o consumidor conhecer bem os próprios gastos e necessidades: “Às vezes, vale pagar um pouco mais para ter outros serviços disponíveis. Dependendo da situação é possível até mudar de banco, caso outro ofereça tarifas mais interessantes”.

Outra dica dos especialistas é concentrar as movimentações financeiras em apenas um banco. Algumas instituições já oferecem desconto da tarifa, caso o cliente utilize mais o serviço delas. Em caso de reajustes considerados abusivos, o ideal é procurar o gerente da conta para saber as razões do aumento</CW>. 

O empresário Cid Dias, de 55 anos, optou por abrir uma conta em um banco digital justamente para evitar o pagamento de tarifas. Ele mantém aplicação em uma instituição financeira tradicional e usa uma das duas transferências gratuitas que tem direito, ao mês, para passar o rendimento para a outra conta. “Faço todos os pagamentos no banco digital, porque ele não me cobra por isso. Depois que mudei, pago muito menos”, afirma. 

O estudo do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) destaca a simplicidade e os custos menores das instituições virtuais, mas mostra que elas recebem notas menores dos clientes em plataforma de avaliação de serviços prestados. “Isso acontece porque, como todo mercado que está se estruturando, os bancos virtuais ainda têm limitações e melhorias que precisam ser incorporadas para consolidar o ambiente de concorrência e qualidade na oferta de serviços financeiros”, informa nota do instituto. 

Ainda que os bancos digitais sejam uma tendência de mercado, a modalidade online não agrada a todos.

“Tem gente que prefere o papel, que gosta de tirar extrato na agência. E eles não oferecem essa opção. O importante é entender se o banco atende às expectativas de segurança, praticidade, conforto e economicidade de cada um”, orienta Marcelo Barbosa.
 

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