Temporais aumentam riscos para quem vive em ocupações, alerta subsecretário de Defesa Civil de BH

Lucas Sanches
@sanches_07
24/12/2021 às 15:42.
Atualizado em 29/12/2021 às 00:37
 (Fernando Michael/Hoje em Dia )

(Fernando Michael/Hoje em Dia )

Duzentas famílias de Belo Horizonte que viviam em áreas de risco de deslizamento foram retiradas de casa neste ano. A situação desses imóveis, na maioria das vezes erguidos sem critérios técnicos – principalmente em ocupações – é uma das maiores preocupações da Defesa Civil da capital. O perigo fica ainda mais evidente na temporada de chuva. O órgão, no entanto, reconhece a dificuldade dessas pessoas, sempre muito humildes. 

Na tentativa de evitar desastres, inúmeros trabalhos preventivos são realizados. As intervenções são feitas por um grupo gestor com a participação de várias secretarias, órgãos público, iniciativa privada e moradores. “Nós procuramos um canal direto com essas comunidades, fornecendo informações e recebendo informações. Assim, também é possível priorizar o atendimento em casos de eventualidade”, afirma o subsecretário municipal de Proteção e Defesa Civil, coronel Waldir Figueiredo. Nessa entrevista, ele valoriza a mobilização popular. Confira.

O trabalho preventivo no período chuvoso envolve a participação de vários órgãos públicos em BH. Mas qual a participação da Defesa Civil?

A principal missão envolve ações preventivas e preparativas contra desastres, como previsto na Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. A lei segue todas as orientações da Estratégia Internacional Para Redução de Riscos e Desastres. Essa estratégia se formaliza através das conferências internacionais. Os protocolos produzidos são os que orientam como devem ser as políticas dos países em relação à gestão de risco e desastre.

Vivemos um desafio porque, constantemente, estamos sendo surpreendidos pela chuva em diferentes intensidades e em locais onde nem sempre é possível prever exatamente como o fenômeno vai acontecer

Popularmente, órgãos como a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros são os mais conhecidos nas ações do período chuvoso. Como as pessoas podem diferenciar a ação de cada um?

As ações de proteção e defesa civil devem ser exercidas por todos os órgãos da administração. BH é reconhecida internacionalmente justamente por essa gestão sistêmica. No que se refere à relação entre Bombeiros e Defesa Civil, é importante ressaltar que o Corpo de Bombeiros tem uma atuação marcante em ações de resposta e socorrimento, quando há vítimas e risco de vida. A Defesa Civil atua juntamente nessas operações, mas especificamente atuamos nos riscos, em situações que antecedem os desastres. 

Todo esforço é feito em prol da prevenção e da defesa da vida. Emissão de alertas precoces e o monitoramento são preocupações fundamentais no nosso trabalho, a todo momento

Antes mesmo de começar o período chuvoso deste ano, em outubro, quais eram as preocupações e principais desafios?

É muito bom a gente entender que a ação da Defesa Civil acontece antes da ocorrência, no atendimento em resposta ao desastre e também depois dele. A preparação para o enfrentamento do período chuvoso é uma etapa fundamental. Nós temos um centro de operações, temos regionais, fazemos treinamentos simulados com comunidades que moram em situação de risco, temos núcleos em regiões de encosta. É um trabalho de toda a prefeitura. A limpeza urbana, por exemplo, tem ação fundamental. O mesmo vale com a Sudecap. Nós temos uma diretoria de meteorologia e emissão de alertas de risco. Temos acesso a todos os sensores de chuva instalados na capital, informações sobre o nível dos córregos e também uma noção sobre a chuva na Grande BH, por meio de uma parceria com a Cemig.

É importante entender que nós temos ameaças, e para cada tipo delas, precisamos de uma forma de condução e mitigação desse risco. Às vezes, uma intervenção pode parecer simples, como bloqueio de vias, mas ela pode salvar vidas

Cerca de dois meses após o começo do período chuvoso, qual a análise do trabalho feito? BH está preparada? Ainda é preciso melhorar?

Sempre é preciso melhorar. O importante é que BH é reconhecida justamente por ter ações de preparação e investimentos em limpeza e obras. Nós tivemos intervenções na região do Barreiro, por exemplo, que diminuíram muito as inundações no bairro Paulo VI, porque foram colocadas bacias de contenção. Muitos desastres não ganham maiores proporções graças a medidas como essas. Tínhamos muitos registros de ocorrências, em outro exemplo, próximo à avenida Clóvis Salgado, na Pampulha. Eram obras muito importantes e que reduziram muitos riscos. Vale dizer que essa é uma situação bastante complexa, porque nós vivemos em um tempo de mudanças climáticas e eventos extremos. É o que vemos no Norte de Minas, uma região que costuma sofrer com a seca, mas agora sofre por conta das chuvas.

Dentre os trabalhos preventivos do órgão, está o envio de mensagens de texto para celulares cadastrados. Como é a participação popular nessa iniciativa?

Uma das nossas principais missões é levar a informação adequada no momento preciso. A gente também utiliza a plataforma nacional de alertas públicos, ou seja, todas as pessoas que cadastraram o CEP através do número 40199 recebem as informações específicas de BH. Atualmente, são 320 mil usuários cadastrados, e esse tipo de serviço não tem nenhum tipo de custo. Não é preciso ter internet no celular ou um smartphone em mãos, qualquer aparelho que recebe SMS pode se cadastrar, e isso é importante porque abrange as pessoas mais simples que também precisam dos alertas.

Lembrando que, ainda neste ano, uma ação divulgou a emissão de alertas em sacolas de pão pela cidade...

Quanto à divulgação nos saquinhos de pão, é um exemplo reconhecido nacionalmente como boa prática de BH. Um exemplo tão simples, mas com repercussão tão grande, em que enviamos dicas de segurança e informações de contato por meio do papel que usamos diariamente nas padarias. Certamente, muitas pessoas leram e se cadastraram dessa forma. Inicialmente, o projeto previa distribuição de 3 milhões de saquinhos de pão, mas foram feitos mais de 14 milhões, tudo isso a custo zero para a prefeitura. As parcerias com o setor privado são recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU) e trazem um retorno imenso. 

Temos parcerias muito importantes, e não conseguiríamos sem todo esse apoio (secretarias, órgãos publicos, iniciativa privada e população). Isso faz o nosso trabalho um pouco menos penoso e mais gratificante

O último levantamento feito pela Urbel indicava cerca de 1.500 pessoas vivendo em áreas de risco em vilas e favelas. Quais pontos preocupam mais?

Nós temos duas categorias de risco que são bastante marcantes, decorrentes da formação geográfica da cidade. Nós temos áreas de encostas, que estão sujeitas a risco geológico pelo encharcamento e deslizamentos, quedas de muros, etc. Temos também os riscos hidrológicos, porque os principais córregos e rios da cidade, com o processo de evolução, se transformaram em grandes avenidas que são, claro, essenciais para a mobilidade. Isso cria uma situação de risco que não exclui nenhuma parte da cidade, já que todas as áreas estão sujeitas a essas características da topografia acidentada e utilização de rios e córregos como canais de trânsito. O que nos causa maior preocupação são as ocupações, feitas principalmente em áreas de encostas e por pessoas mais humildes, que muitas vezes não obedecem as ordens de engenharia. A maioria desses riscos está dentro das moradias, onde o poder público não tem o mesmo acesso. Por isso, é muito importante ter a conscientização das pessoas para fazer as manutenções preventivas e perceber alterações nas estruturas com o passar do tempo.

Nesse sentido, há os casos de remoções de famílias. De janeiro até 6 de dezembro, foram removidas cerca de 200 famílias em BH. Como é a ação da Defesa Civil nesse contexto específico?

Realmente, é uma situação muito difícil, porque ninguém mora em área de risco por vontade própria, mas por necessidade. É um sacrifício muito grande quando concluímos que a casa da pessoa não oferece mais segurança para a permanência dela. É uma luta, uma batalha, e não é nada fácil. Essa gestão, principalmente a gestão de emoções em áreas de risco geológico, é feita pela Urbel, com nosso apoio. A Defesa Civil não tira ninguém de casa, a menos que realmente seja necessário. É importante dizer que nosso principal objetivo ao fazer isso é salvar vidas. Nós podemos reconstruir o patrimônio, comprar carro e móveis. Mas a vida é o maior bem que temos e é irreparável. Todo esse trabalho está naquele grupo gestor de risco e desastres, onde estão diversos órgãos.

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