Três em cada 10 pequenas empresas mineiras têm parentes como sócios ou empregados

Felipe Boutros
fboutros@hojeemdia.com.br
27/10/2017 às 21:10.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:26
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Há 25 anos no mercado, a clássica pastelaria Marília de Dirceu emprega hoje 70 funcionários. A loja fica em Lourdes, mas os salgados são produzidos em uma fábrica no bairro São Francisco, e toda essa estrutura é comandada por sete pessoas da mesma família.

“Minha mãe, tias e primos estão na direção. Cada um é responsável por um setor da empresa”, diz André Bahia, um dos administradores e, atualmente, responsável pela área comercial da nova linha Marilia Fit.

Sob comando familiar, a pastelaria Marília de Dirceu faz parte de um contingente de mais de um terço dos pequenos negócios em Minas que têm parentes como sócios ou entre os empregados. É o que mostra uma pesquisa realizada pelo Sebrae. Segundo o estudo, 36% dos pequenos negócios brasileiros podem ser consideradas familiares. No Estado, esse percentual sobe para 37%.

As empresas de pequeno porte são as que concentram a maior proporção (59%) de parentes em seus quadros funcionais. Entre as microempresas, 52% são familiares. Já os microempreendedores individuais (MEIs) reúnem 25% dos empreendimentos com essas características.

Para especialistas, a gestão familiar de uma empresa tem benefícios, mas também traz desafios peculiares. “Um negócio no qual parentes são gestores tem como vantagem a relação de confiabilidade que eles possuem entre si. Mas pode haver uma série de conflitos de interesses, como o empresário que contrata um parente, mas não cumpre a legislação trabalhista adequadamente ou um familiar não-qualificado para a função proposta. É preciso uma gestão profissionalizada”, diz a analista do Sebrae-MG Bárbara Castro.

Confiança

Os gestores da Lashes CO, grife de embelezamento do olhar, Michelle Cabral e Érico Gomes, casados há 10 anos, ressaltam justamente que a confiança que um tem no outro é um dos pilares da administração do negócio.

“Talvez, uma das principais vantagens é a tranquilidade da confiança e do alinhamento dos objetivos. Um dos mais importantes pontos em qualquer sociedade é o alinhamento dos sócios com relação aos objetivos do negócio. E nós temos muito claras nossas metas”, diz Michelle.Felipe Rau/Divulgação

Os gestores da Lashes CO, Michelle Cabral e Érico Gomes, juntaram escovas de dentes há 10 anos

Por outro lado, a grande dificuldade em um negócio de família é separar o ambiente familiar do profissional. Esse aspecto pode ser entendido tanto pelo lado financeiro quanto pelo das relações pessoais. “Não se mistura o almoço de domingo com a reunião de segunda-feira. Esse é um imenso desafio”, diz a professora da Fundação Dom Cabral, Juliana Gonçalves.

Para ela, é inadmissível, por exemplo, levar o boleto da escola para o financeiro da empresa pagar. Além disso, deve-se remunerar os profissionais pelo trabalho produzido.

O coordenador do curso de Administração do Ibmec, Eduardo Coutinho, afirma que misturar questões pessoais e profissionais pode ser desastroso para a empresa. “Em alguns casos, a família inteira vive daquilo, ou seja, é um risco. Se o negócio der errado, todo mundo perde a sua renda”, alerta o professor.

 Profissionalizar a gestão e preparar a sucessão são desafios

Profissionalizar a gestão e preparar a sucessão no comando dos negócios são outros grandes desafios que podem aumentar a longevidade de uma empresa familiar. Para especialistas, um caminho é a busca por profissionais no mercado de trabalho, além dos parentes.

“Alguns estudiosos do assunto citam que a empresa familiar que traz profissionais que têm sucesso no mercado pode agregar e melhorar a gestão. A sucessão familiar, quando envolve apenas a busca do poder e do status, pode prejudicar a perenidade da empresa”, explica a analista do Sebrae Bárbara Castro.

Juliana Gonçalves, da Fundação Dom Cabral (FDC), concorda com o fato de que essa profissionalização pode ser benéfica, inclusive na duração de vida da empresa, pois pode agregar ao planejamento sucessório. De acordo com a professora, esse processo pode levar de cinco a 10 anos.

“Não é fácil definir com a maior isenção quem deve assumir os negócios. É preciso separar os sentimentos do ambiente empresarial. Hoje, cada vez mais, as famílias estão conscientes desse processo de profissionalização e buscam meios para que isso aconteça”, diz Juliana.

Segundo ela, apenas 4% das empresas chegam à quarta geração da família controlando a administração. Na Oficina Segmento, a proprietária Laura Furtado, que assumiu a direção quando o marido faleceu, já está preparando a filha Letícia para assumir o negócio, fundado em 1995 e que atualmente tem quase 3 mil clientes.

“Hoje minha filha já é minha sócia. Ela está terminando o curso de Administração no fim deste ano e é a inovação do nosso negócio, com a cabeça fresca e muitas ideias. Às vezes tenho até que dar uma podada nela”, afirma Laura, que conta ainda com a ajuda de duas irmãs para tocar a empresa.

  

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