'Tudo indica' que militares confundiram o carro da família, diz delegado

Estadão Conteúdo
08/04/2019 às 15:41.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:08
 (Reprodução/Redes Sociais )

(Reprodução/Redes Sociais )

O carro do músico morto a tiros na tarde de domingo, (7), teria sido confundido com o de bandidos que estavam agindo nas proximidades do Piscinão de Ramos, em Guadalupe, na zona norte do Rio. Militares do Exército dispararam nada menos que 80 vezes contra o veículo, matando Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos. O sogro de Evaldo também foi ferido, mas se recupera bem. Outras três pessoas que estavam no carro não se feriram.

O delegado Leonardo Salgado da Delegacia de Homicídios, que está investigando o caso, afirmou em entrevista que, "tudo indica" que os militares confundiram o carro da família com o de assaltantes.

"Foram diversos, diversos disparos de arma de fogo efetuados e tudo indica que os militares realmente confundiram o veículo com o carro de bandidos. Mas neste veículo estava uma família", contou Salgado. "Não foi encontrada nenhuma arma (no carro). Tudo que foi apurado era que realmente era uma família normal, de bem, que acabou sendo vítima dos militares."

Em nota divulgada ainda no domingo, o Comando Militar do Leste (CML) informou que os militares teriam se deparado com um assalto em andamento e que os criminosos, que estariam dentro do carro, teriam aberto fogo. Os militares explicaram que a região é muito próxima da Vila Militar e, por isso, dentro do perímetro de atuação do Exército. Mas o uso da força só pode ocorrer "de acordo com as normas do engajamento".

Mais tarde, no entanto, o CML enviou outra nota em que informava que já estava em andamento "uma apuração preliminar da dinâmica dos fatos ocorridos" e que já tinham começado a ser coletados "os depoimentos de todos os militares envolvidos e de todas as testemunhas civis na Delegacia de Polícia Judiciária Militar". O comunicado informou também que toda a investigação estaria sendo supervisionada pelo Ministério Público Militar.

Ainda em entrevista à TV Globo, o delegado reclamou do fato de os militares não terem prestado depoimento à polícia civil.

"Não vejo legítima defesa", disse o delegado sobre o fuzilamento do carro. "Pela quantidade de tiros, tudo aponta para prisão em flagrante."

Investigação

A deputada estadual Renata Souza (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), afirmou há pouco que pretende entrar no Ministério Público Federal com uma representação pedindo à instituição que investigue a morte de Evaldo Rosa dos Santos, de 51 anos.

"Precisamos entender o que houve", afirmou Renata Souza. "O que significa 80 tiros em um carro numa tarde de domingo na zona norte?"

A deputada lembrou que na última sexta-feira, Christian Felipe Santana de Almeida Alves, de 19 anos, foi morto por militares do Exército durante blitz na Estrada Pedro de Alcântara, em Realengo, na zona oeste. Ele estava na garupa da moto pilotada por um amigo de 17 anos. O Comando Militar do Leste informou, na ocasião, que os jovens não obedeceram à ordem de parada e furaram o bloqueio. A família contesta a versão.

"Não é o primeiro incidente", afirmou Renata Souza. "Na semana passada um jovem foi assassinado pelas costas. É preciso saber se já estamos vivendo a política do abate"
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