UNE quer reeditar ato pelas Diretas Já em Belo Horizonte

Paula Coura
pcoura@hojeemdia.com.br
26/05/2017 às 18:57.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:44

Em meio a manifestações e atos contrários à permanência de Michel Temer (PMDB) na Presidência da República, a União Nacional dos Estudantes (UNE) pretende reeditar o movimento das Diretas Já, de fevereiro de 1984, em Belo Horizonte.

A UNE convidou para o Congresso, que será realizado entre 15 e 19 de junho, na capital mineira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os governadores Fernando Pimentel (PT), de Minas, e Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), além do rapper Flávio Renegado. São esperados 10 mil estudantes.

Para o palco que será montado no ginásio do Mineirinho, foram convidados ainda outros políticos e diversas personalidades da cena cultural no país, assim como aconteceu há 33 anos. Naquela ocasião, cerca de 400 mil pessoas tomaram a Praça da Rodoviária e a Afonso Pena pedindo pelo fim da ditadura e pela volta do direito de eleger o presidente.

O movimento estudantil luta pela realização de novas eleições diretas, assim como a paralisação da tramitação das reformas da Previdência e trabalhista.
“O atual governo busca aplicar um programa para o qual não foi eleito, principalmente com a edição de reformas regressistas. O movimento estudantil foi o que começou a luta pelo Fora Temer. Escolhemos Minas para nosso Congresso porque o Estado sempre mostrou uma política de contraponto, apresentando resistência, por exemplo, a privatização de empresas”, diz a presidente da UNE, Carina Vitral.

Como a UNE se posiciona mediante as manifestações que aconteceram em Brasília e outras cidades do país, como Belo Horizonte?
O movimento Ocupa Brasília, na última quarta-feira, foi um dos maiores movimentos que já vivi. Estamos prevendo novas manifestações pelo “Fora Temer”, ainda sem data. O nosso Congresso anual, que também marca os 80 anos da UNE no Brasil, terá essa marca de lutas atuais. Voltar a defender as Diretas Já foi uma coisa que nós nunca pensamos que voltaríamos a fazer, mas é uma questão que a atual conjuntura nos obriga.

Você não vivenciou as Diretas Já em 1984. Como é fazer parte dessa história agora?
A UNE, por ter uma tradição muito grande, nos faz conviver com a história o tempo todo. O nosso documentário em comemoração aos 80 anos é sobre a Praia do Flamengo 132, que foi um de nossos primeiros endereços. A história da trama mostra nossa sede no Rio de Janeiro incendiada durante a ditadura militar. É incrível como presenciamos fatos da nossa história voltando à tona, desde a luta contra o golpe até a luta pelas Diretas Já. Percebemos o tamanho da repreensão nas manifestações, como a convocação das Forças Armadas em defesa da ordem pelo Temer. Caminhamos para trás e a passos bem largos.

A UNE sempre se portou como um movimento mais à esquerda. Como está esse posicionamento hoje?
A UNE tem um lado que se caracteriza pela defesa da educação pública, da democracia e dos direitos sociais. Isso é, na minha opinião, ser de esquerda. Mas a UNE é uma entidade plural, representativa dos estudantes brasileiros. Nós não tomamos nenhuma das decisões políticas sozinhos. Mas isso nunca impediu a UNE, ao longo da história, de tomar posição nos momentos decisivos. Foi assim quando lutamos contra o golpe de 1964. A UNE já foi dirigida pela direita, por comunistas, pela juventude da Igreja Católica e também se posicionava mediante acontecimentos políticos. As posições nunca foram um consenso absoluto, mas eram definidas pelo que a maioria lutava.

Quais os próximos passos da UNE mediante o atual momento político do Brasil?
A UNE se reafirma pela luta em defesa da democracia. Nossas três principais lutas são barrar as reformas trabalhista e da Previdência, tirar o presidente Michel Temer do poder e as eleições diretas. Na nossa visão, a saída da presidenta Dilma Rousseff relativizou as instituições e foi uma saída mal construída, que está afundando ainda mais o Brasil em uma crise política. Muitas pessoas tiveram esperança que o impeachment iria melhorar as coisas, trazer estabilidade. Mas, na verdade, nós vimos que pouco tempo depois o Brasil voltou a cair. A presidenta tinha acabado de ser eleita. Tiveram interesses inclusive estrangeiros na queda de Dilma, principalmente por causa do petróleo. Não é atoa que essa commodity é o plano de fundo da Lava Jato.

Qual o peso da UNE diante das últimas manifestações?
Preciso ressaltar que o movimento estudantil inaugurou a oposição ao governo Temer com as ocupações de mais de mil escolas com o movimento secundarista e também várias universidades do país contra a PEC 155, que sabota os investimentos em educação por 20 anos. Portanto, foi o movimento estudantil que teve coragem de puxar o “Fora Temer”.

Em relação as reformas do Ensino Médio e da escola em tempo integral, qual o posicionamento da UNE?
A reforma do ensino médio é medíocre. Por trás do direito do estudante de fazer suas escolhas está uma precarização do ensino, porque o governo não vai oferecer todas as cadeiras e aptidões para todas as escolas. O que vai acontecer é que nas regiões centrais os alunos vão ter direito a mais escolhas sobre as futuras profissões ao contrário dos alunos de periferias.

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