Venezuela é suspensa do Mercosul por 'ruptura da ordem democrática'

AFP
05/08/2017 às 17:40.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:56

Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, fundadores do Mercosul, decidiram neste sábado (5), de forma unânime, suspender a Venezuela por "ruptura da ordem democrática". É a segunda vez que o bloco aplica essa decisão  contra um país-membro desde a sua criação.

"A suspensão da Venezuela foi aplicada em função das ações do governo de Nicolás Maduro e é um chamado imediato para o início do processo de transição política e restauração da ordem democrática", declara o comunicado assinado pelos ministros após uma reunião em São Paulo.

"Estamos dizendo 'parem com isso', chega de mortes, chega de repressão", disse o ministro de Relações Exteriores Aloysio Nunes, em coletiva de imprensa ao final do encontro. 

Após a suspensão, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que seu país "nunca" será tirado do bloco e proferiu duras críticas. 

"Não vão tirar a Venezuela do Mercosul. Nunca (...) Algumas oligarquias golpistas, como a do Brasil, ou miseráveis, como a que governa a Argentina, poderão tentar mil vezes, mas sempre estaremos aí", afirmou Maduro em declarações à Rádio Rebelde da Argentina.

Uma expulsão não está contemplada no Protocolo do Ushuaia, nem é a intenção, afirmou Nunes. "Queremos que a Venezuela volte", explicou.

Nunes apontou que o Executivo venezuelano foi instado a dialogar "seriamente" com a oposição. "Não uma fachada. Diálogo objetivo para chegar a um governo de transição para o restabelecimento da democracia", disse o titular do Itamaraty. 

"Essencialmente, o Mercosul está dizendo 'sem democracia, não'", pontuou seu par argentino, Jorge Flaurie. "Chegamos a essa decisão com muita convicção". 

"Não são medidas tomadas com alegria, porque estamos constatando a ruptura institucional de um país (...) que também acolheu muitos latino-americanos durante nossas ditaduras" nos anos 1970 e 1980, apontou o chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, na coletiva. 

O ponto de ruptura foi a eleição no domingo passado de uma Assembleia Constituinte promovida por Maduro, questionada pela comunidade internacional, e a volta à prisão de Leopoldo López e Antonio Ledezma, que estavam em prisão domiciliar. Ledezma voltou para casa na sexta. 
    
Medida política
    
Essa é a segunda vez que o Mercosul, fundado em 1991, aplica essa cláusula assinada em 1998 no Ushuaia, na Argentina, ratificada e ampliada em 2011. Ela estipula que "a plena vigência de instituições democráticas é essencial" para a integração regional. 

Na prática, a decisão quase não muda a situação da Venezuela no grupo, já que o país está suspenso do bloco desde dezembro de 2016 por não cumprir obrigações comerciais com as quais tinha se comprometido quando entrou no Mercosul, em 2012. 

A suspensão do Paraguai após a destituição do presidente Fernando Lugo permitiu a entrada da Venezuela no bloco, pois o Congresso paraguaio não tinha aprovado a adesão do país. O Paraguai voltou ao Mercosul após a eleição de Horacio Cartes em 2013. 

Na prática, essa decisão muda em pouco, ou nada, a situação do país no grupo, já que a Venezuela se encontra suspensa do Mercosul desde dezembro por descumprir obrigações comerciais, com as quais se comprometeu ao se incorporar ao bloco em 2012. 

Consultado sobre a possibilidade de aplicarem sanções econômicas a Caracas, Nunes insistiu que se trata de uma medida política e que impedir importações, essencialmente de alimentos, só agravaria a situação dos venezuelanos.

Um grupo protestou contra Maduro na entrada da Prefeitura de São Paulo, onde aconteceu a reunião. O prefeito da cidade, João Dória, participou da coletiva de imprensa e manifestou solidariedade aos ex-prefeitos venezuelanos Ledezma e López.  "Que sejam libertados imediatamente e tenham seus direitos restituídos", pediu Dória. 

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