Ele abandonou a candidatura a prefeito de Belo Horizonte para ser candidato a vice na chapa do ex-presidente do Atlético, Alexandre Kalil (PHS). Paulo Lamac (Rede) é o contraponto ao perfil do novo prefeito. Tido como conciliador, o ex-petista já demonstra que será um vice atuante. Será secretário de Governo e é responsável pela transição da gestão de Marcio Lacerda (PSB) para a de Kalil. Lamac contou ao Hoje em Dia sobre os principais pontos da nova administração e revelou que o metrô não é algo para o próximo ano.
Kalil participa das reuniões de transição?
Não de todas. Nas que ele tem um interesse maior ele participa. Nas da Defesa Civil, que envolve ações para conter os problemas das chuvas, por exemplo, ele participou de todas.
A integração é amistosa?
Muito amistosa. O Josué Valadão era secretário de governo do Marcio Lacerda quando eu era líder de governo do atual prefeito na Câmara. Temos facilidade em trabalhar juntos. Ele é um profissional extremamente gabaritado. Tanto que é secretário da administração do Marcio Lacerda, é o coordenador da transição por parte dele e foi convidado para compor a administração na Secretaria de Obras na gestão de Kalil. Isso mostra que seguimos na filosofia defendida na campanha, de ter as pessoas certas, independentemente da filiação partidária.
Lucas Prates/ Hoje em Dia
O senhor disse que Kalil tem interesse especial nos assuntos da Defesa Civil...
BH é reconhecida pela competência nessa área. O número de incidentes envolvendo áreas de risco chegou a zero, mas há de se monitorar. Há 15 anos, o desafio de BH era as áreas de risco, visto que estamos em uma cidade montanhosa, com aglomerados nos morros. Hoje, o grande problema são as inundações em vales. Então, é necessário avançarmos nessa política.
Há alguma ação específica para áreas que sempre alagam, como as avenidas Prudente de Morais e Tereza Cristina, por exemplo?
São necessários investimentos. E investimentos muito altos.
Eles serão feitos?
Vamos buscá-los, porque são recursos de que a prefeitura não dispõe. Estamos falando de centenas de milhões de reais. É um trabalho que envolve drenagem e tratamento das bacias. Não é obra simples e, certamente, não será feita em apenas uma administração, mas é um desafio atual de BH, fruto, inclusive, de um processo histórico de impermeabilização da capital. O aumento da impermeabilização da cidade aumenta as inundações. Hoje, nós passamos por inundações que há dez anos não passávamos.
A prioridade de investimento são essas áreas?
Saneamento é uma área importante e essa questão das áreas de inundação é uma pauta prioritária. E as duas se interagem bastante, já que estamos falando de como lidar com as bacias e os resíduos. Pautas que o prefeito coloca em primeiro plano junto com a saúde. Saúde é a prioridade maior defendida pelo Alexandre.
Na saúde muito se falou sobre a organização do que já existe...
Mas não é tarefa simples e nem barata. Considerando que BH já é um dos municípios que investe mais na saúde por pessoa, frente às capitais, é preciso rever toda a organização da saúde. Temos centros de saúde que são mal estruturados. É necessário qualificar o centro primário para que a população não recorra sempre à UPA, para que a UPA seja para emergências. E, desta maneira, reduzir a sobrecarga dos hospitais. O atendimento primário é a grande prioridade para atender bem ao cidadão e descongestionar o sistema.
O que será feito na prática?
O fortalecimento do atendimento nos centros de saúde e a viabilização de consultas especializadas, quando necessárias, são fundamentais. É na simplicidade que a gente encontra solução para os problemas. Temos que fazer o mais simples, não deixar as doenças evoluírem.
Qual será o futuro das Umeis?
Temos o desafio de superar a falta de vagas na educação infantil. Seja na construção de novas Umeis, seja com convênios.
Lucas Prates/ Hoje em Dia
E o ensino fundamental?
No ensino fundamental enfrentamos de uma forma muito transparente a realidade do estudante que não tem as condições mínimas de enfrentar a vida. Isso demanda o aprendizado na escola. E a gente tem, lamentavelmente, oriundos da nossa rede que saem sem condições mínimas de leitura e de enfrentar parâmetros mínimos de cobrança que a sociedade apresenta para quem tem diploma. O diploma não pode ser simplesmente entendido como uma questão de cidadania. Assim, ele acaba sendo uma condenação. Entendemos que a diplomação de pessoas que não têm condições concretas de responder aquilo que se espera daquele grau de informação é um desserviço.
E o que fazer?
É necessário criar alternativas dentro da escola fundamental para que os alunos da nossa rede possam, de fato, concluir os estudos com o aprendizado dos fundamentos básicos que caracterizam o estudante concluinte do ensino fundamental. Parece óbvio, mas não é.
Há alguma proposta concreta de valorização do professor?
Um processo de formação contínua, com reciclagem, novos cursos para os profissionais de forma que eles estejam sempre atualizados. Não apenas no conteúdo, mas na forma de lidar com as novas gerações. O jovem de hoje não é o mesmo de 20 anos atrás. A discussão dos modelos pedagógicos, especialmente no ensino fundamental, também é um desafio.
Quais as perspectivas para o metrô?
O dinheiro está contingenciado. O orçamento para 2017 já está praticamente fechado. O empenho que vamos fazer junto à bancada federal para o próximo ano é, de fato, tentar viabilizar uma emenda de bancada coletiva dos deputados mineiros. Mas, com realidade, será para 2018. Vamos, evidentemente, demandar ao governo federal, mas os recursos são escassos e a nossa prioridade é saúde e saneamento.
Quais as ações para melhorar o trânsito?
O prefeito firmou compromisso de analisar a possibilidade de táxis ocupados utilizarem as faixas exclusivas dos ônibus. Isso será analisado tão logo tomemos posse.
Há outras ações?
Nós vamos buscar recursos. Qualquer intervenção em trânsito custa caro. A lógica de você disponibilizar transporte coletivo de qualidade é fundamental. Mas é utópico falar para o cidadão deixar o carro em casa com um transporte público questionável. Faz parte de qualquer programa sério de melhoria investir em uma frota adequada de ônibus, no controle das viagens necessárias para atender bem à população.
Vocês irão abrir a caixa preta das empresas de transporte público?
Sim.
E na Câmara, como estão as conversas?
Estamos dialogando com vários vereadores. Já estivemos com todos. O tipo de conversa que não vamos ter é sobre cargos e troca de favores. Mas conversas sobre a construção de uma cidade melhor para todos estão acontecendo.
Vocês têm maioria na Câmara?
Não estamos buscando, no primeiro momento, estabelecimento quantitativo. Estamos buscando estabelecer relação. E apresentando propostas para trabalhar na cidade. Maiorias, a priori, custam alguma coisa. Dependem de acertos, sejam partidários ou baseados em outros argumentos que esta administração não está disposta a fazer. Nós acreditamos que teremos maioria na Câmara porque vamos apresentar propostas adequadas para a cidade e vamos lidar com parlamentares que têm interesse na cidade. Mas com o modelo tradicional de troca de cargos por maioria não vamos trabalhar.
Qual o maior desafio da nova gestão?
Estamos no momento de chegar e fazer funcionar. Parece simples, mas é altamente desafiador para uma cidade do tamanho de BH, habituada a funcionar como funciona. Mudar a cultura é um grande desafio. Para fazer funcionar, vamos precisar que os servidores tenham foco no resultado, o que não é simples. Significa menos burocracia e mais entrega à população. E que as relações políticas sejam pautadas no interesse público e não em outro.