Produtores de quiabo têm bons lucros no inverno

Lídia Salazar - Especial para Força do Campo
05/08/2015 às 08:44.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:13
 (Sérgio Amzalak)

(Sérgio Amzalak)

Na contramão da época de colheita, o inverno é a melhor estação para o produtor comercializar o quiabo, fruto que compõe pratos típicos da culinária mineira – refogado com frango ou carne –, mas também muito apreciado na Bahia e no Pará, feito com camarão, o chamado caruru. Nessa época do ano, a procura aumenta e a oferta diminui, o que faz com que os preços sejam bem mais elevados do que no verão. Por crescer bem em temperaturas acima de 20°C, poucos produtores conseguem atender à demanda de consumo na época de frio. Nesse mês de agosto, muitos produtores dão início à plantação do quiabo.

No inverno, o preço de comercialização é em média de R$ 50 a caixa de 14 kg, mas há quem garante que já pagou R$ 80. A bandeja de 350 g a 400 g é vendida a R$ 2,50, nos meses de maio, junho e julho. Por outro lado, quando o clima está mais quente, em janeiro, por exemplo, a produção de quiabo aumenta e os preços despencam. A caixa chega a custar entre R$ 10 e R$ 5, e a bandeja de 400 g, R$ 0,80.

Produtores

Os produtores Maurite Pereira e seu filho Breule Nalon Pereira têm plantação de quiabo em Alpercata, município que fica a 330 km de Belo Horizonte. De acordo com Maurite Pereira, os meses mais fracos de vendas vão de dezembro a abril. Em compensação, quando chega o inverno, ele conta que a procura aumenta cerca de 50%. Para o produtor, apesar de o clima prejudicar o crescimento do quiabo, ele ainda considera que o grande desafio de trabalhar com o fruto é a colheita. “É trabalhoso, exige muita mão de obra e demora de 75 a 90 dias para finalizar toda a produção”.

Ricardo Rodrigues, proprietário do restaurante Maria das Tranças, é um dos maiores compradores de quiabo no CeasaMinas Contagem, e quem fornece a ele é Maurite Pereira. O consumo mensal nas duas unidades do restaurante - São Francisco e Savassi – é, em média, de 1,5 tonelada. “O restaurante compra quiabo há 65 anos, pois é o nosso prato principal. Mas há 30 anos compro quiabo da mesma família, que está na terceira geração de agricultores. As caixas chegam ao restaurante, normalmente, duas vezes por semana, na segunda e na quinta-feira”.

O empresário confirma que há muita variação de preço por causa do clima. “Chega a ser um absurdo: o preço da caixa varia de R$ 35 a R$ 80, em apenas três dias de diferença”, revela Ricardo Rodrigues. Outro fato curioso é sobre o consumo do produto: “No Maria das Tranças, quando nasce o dia, olhamos para o céu. Se o tempo estiver escuro, mais friozinho, e principalmente indicando chuva, podemos nos preparar, pois o restaurante vai lotar. Nesse caso, sempre tem fila de espera na porta. O mineiro tem mesmo o hábito de comer o quiabo quando a temperatura está mais baixa”, conta ele.

A última estimativa feita na CeasaMinas apontou um aumento de 33% no preço do quiabo. Além disso, é ideal que o consumidor pesquise muito no inverno, porque a variação de preços entre um estabelecimento e outro é grande.

Frederico Ozanan de Paula sofre muito com o clima frio. Sua produção de quiabo em Barbacena é interrompida entre maio e agosto. Ele volta a plantar somente em setembro, quando a colheita resulta, em média, a 500 kg por mês.

Já a situação de José Oliveira Alcântara Neto é diferente. Sua plantação é mais tranquila pelo clima do município onde está localizado, São João do Oriente, que é a região com o melhor desempenho na produção de quiabo em Minas. Sua média de colheita é de 800 a mil caixas por semana. “Cada caixa nossa tem 12 kg. No verão, ela custa R$ 20 e, no inverno, chega a R$ 50, quando faturamos mais”, afirma.

Compostagem

Por causa de regiões assim de boa produção é que o engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Gastão Goulart, explica que, mesmo com a baixa da produção no inverno, os produtores conseguem atender à demanda do estado. “Minas Gerais tem muitos municípios que não sofrem com temperaturas baixas e, por isso, mantém boa produção durante todo o ano. As cidades com melhor desempenho na safra do quiabo são Santana de Pirapama, São João do Oriente, Cordisburgo e Coração de Jesus”, revelou.

No verão alguns produtores precisam descartar várias caixas do fruto porque não conseguem vender tudo a tempo. Gastão Goulart orienta que, nesses casos, os produtores devem adotar medidas de reaproveitamento para não evitar desperdício. “O quiabo é muito perecível. Por isso, outra opção de uso no verão seria na compostagem. Além de gerar mais renda, faz com que a matéria orgânica volte a ser usada de forma útil”, explica.

Como o preço do quiabo é alto na época em que mais há procura pelo fruto, alguns produtores se interessam pela cultura para conseguir aumentar os lucros. Para esses, o engenheiro agrônomo destaca alguns pontos importantes para o plantio. “A primeira coisa a se observar é o clima do local onde será feita a plantação. Além disso, é preciso conhecer o mercado consumidor, saber qual tipo de quiabo as pessoas gostam e as características do fruto para poder ter uma comercialização bem-sucedida. O solo, de preferência, deve ser argiloso, rico em matéria orgânica. O ponto de colheita também é importante, bem como os cuidados que se deve ter com a mão de obra, pois é preciso proteger o corpo na hora da colheita”, detalha Gastão Goulart.

Plantação começa em agosto

A temperatura ideal de cultivo do quiabo varia entre 22°C e 25°C. Abaixo de 18°C e acima de 35°C, verifica-se a queda de flores e de frutos novos. O quiabeiro é uma planta da família das malváceas. Pode ser cultivado em rotação com outras culturas para aproveitar os resíduos de adubos utilizados na plantação anterior.

A época ideal para iniciar a produção é de setembro a janeiro nas regiões de clima frio, de agosto a março nas de clima ameno e o ano todo nas regiões de clima quente. A colheita deve ser iniciada com 60 a 80 dias após o plantio, podendo prolongar-se até 90 dias. O ponto ideal é quando os quiabos estão tenros, sem fibras, o que é facilmente verificado quebrando-se a ponta do fruto, que ocorre, geralmente, cinco ou seis dias após a abertura da flor.

A colheita é feita manualmente, diariamente, em dias intercalados ou de dois em dois dias, dependendo da forma de comercialização. Deve ser feita na parte da manhã, quando as plantas estiverem ainda orvalhadas. A produtividade de uma lavoura bem conduzida varia entre 15 mil e 22 mil quilos por hectare. O quiabo colhido no ponto certo pode ser armazenado por sete a 10 dias, em local com temperatura entre 7ºC e 10°C e umidade relativa entre 85% e 90%.

O quiabo é embalado, geralmente, em caixas com peso de 14 kg e classificado por tamanho. Pode ser extra, com frutos de oito a 10 cm de comprimento; especial, com frutos de 10 cm a 12 cm; e de primeira, com frutos com mais de 12 cm. A embalagem deve atender aos requisitos e às exigências contidos na Instrução Normativa Conjunta SARC, Anvisa e Inmetro.

Ponto a ponto

PLANTAÇÃO E COLHEITA DO QUIABO

• Faça a rotação com milho, melancia, batata e feijão-vagem. Evitar algodão;
• O quiabo é muito sensível ao frio. A temperatura noturna deve ser maior que 15ºC;
• Antes da semeadura, colocar as sementes na água por 24 horas, para melhorar a geminação;
• A colheita deve ser feita no período da manhã, pois provoca menos irritação à pele, para quem tem alergia;
• Após 3 meses, poda-se a 20 cm do chão;
• Cuidado na aplicação de água, que em excesso pode matar a planta, mas na falta a planta não se desenvolve bem;
• Faz-se o desbaste do quiabo quando a planta atingir 15 a 20 cm de altura, deixando uma planta por cova;
• Tratos culturais com capinas e herbicidas registrados: trifuralin;
• Não aplicar defensivos 10 dias antes da comercialização.

O quiabo é muito perecível. Por isso, outra opção de uso no verão seria na compostagem - Gastão Goulart, engenheiro agrônomo da Emater-MG

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