PT repudia declaração de comandante do Exército sobre parecer da ONU

Rafaela Matias
rsantos@hojeemdia.com.br
09/09/2018 às 13:59.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:21
 (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

(Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Após o comandante do Exército Brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, declarar que parecer da ONU sobre liberação da candidatura de Lula “é uma tentativa de invasão da soberania nacional”, o Partido dos Trabalhadores (PT) publicou uma nota de repúdio, considerando as declarações de cunho autoritário e inconstitucional.

A nota, assinada pela comissão executiva nacional do PT, diz que a entrevista concedida pelo general ao jornal O Estado de S. Paulo é “o mais grave episódio de insubordinação de um comandante das Forças Armadas ao papel que lhe foi delimitado, pela vontade soberana do povo, na Constituição democrática de 1988”. O texto diz ainda que a fala é uma tentativa de interferir diretamente no processo eleitoral, algo que as Forças Armadas não faziam desde os tempos da ditadura.

Leia na íntegra:

O Partido dos Trabalhadores convoca as forças democráticas do país a repudiar declarações de cunho autoritário e inconstitucional do comandante do Exército divulgadas pela imprensa neste domingo.

A entrevista do general Villas Boas é o mais grave episódio de insubordinação de uma comandante das Forças Armadas ao papel que lhes foi delimitado, pela vontade soberana do povo, na Constituição democrática de 1988.

É uma manifestação de caráter político, de quem pretende tutelar as instituições republicanas. No caso específico, o Poder Judiciário, que ainda examina recursos processuais legítimos em relação ao ex-presidente Lula.

É muito grave que um comandante com alta responsabilidade se arrogue a interferir diretamente no processo eleitoral, algo que as Forças Armadas não faziam desde os sombrios tempos da ditadura.

Depois de dizer quem pode ou não pode ser candidato, de interpretar arbitrariamente a lei e a Constituição o que mais vão querer? Decidir se o eleito toma posse? Indicar o futuro presidente à revelia do povo? Mudar as leis para que o eleitor não possa decidir livremente? O Brasil já passou por isso e não quer voltar a este passado sombrio.

A Constituição diz claramente que as Forças Armadas só podem atuar por determinação expressa de um dos poderes da República, legitimados pelo estado de direito democrático, e nunca a sua revelia ou, supostamente, para corrigi-los.

A sociedade brasileira lutou tenazmente para reconstruir a democracia no país, com o sacrifício de muitas vidas, após o golpe civil e militar de 1964, que acabou conduzindo o país a um regime ditatorial nefasto para o povo e desmoralizante para as Forças Armadas.

A democracia e o estado de direito não admitem tutela alguma, pois se sustentam na soberania do voto popular.

Um governo legítimo, comprometido com o futuro do país, já teria chamado o general Villas Boas a retratar suas declarações de cunho autoritário e tomado as medidas necessárias para afirmar o poder civil e republicano.

Como se trata de um governo nascido de um golpe, decadente e repudiado pela quase totalidade da população, não lhe resta qualquer autoridade para impor a ordem constitucional aos comandos militares.

Compete ao povo e aos democratas do país denunciar e reagir diante de um episódio que só faz agravar a grave crise social, política e econômica do país.

O Brasil precisa urgentemente de mais democracia, não menos, para retomar o caminho da paz e do desenvolvimento com inclusão social.

COMISSÃO EXECUTIVA NACIONAL DO PT

Leia mais:

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por