Quando sobra dinheiro, brasileiro prefere aplicar na poupança ou guardar em casa

Paulo Henrique Lobato
21/06/2019 às 17:52.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:12
 (Riva Moreira)

(Riva Moreira)

Diferentemente da história infantil, os adultos João e Maria não se conhecem e são bem mais cautelosos do que os personagens do conto de fadas criado pelos irmãos Grimm (Jacob e Wilhelm). O comerciante João Paulo Ribas, de 39 anos, faz parte de uma estatística curiosa: um em cada quatro brasileiros que têm o hábito de poupar guarda dinheiro em casa. Já a advogada Maria Alice dos Santos, de 35 anos, recorre à velha e boa caderneta de poupança, opção preferida pela maioria (64,7%).

O João e a Maria da vida real estão entre os 34% de brasileiros que conseguem poupar alguma quantia ao fim do mês. A maioria dos moradores do país, diante de vários motivos, como desemprego e endividamento, não consegue guardar em casa ou investir na poupança ou em aplicações qualquer recurso.

É o que constatou uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito Brasil (SPCB). O estudo tem como um dos objetivos orientar as pessoas a investirem melhor sua renda.

“Deixar dinheiro guardado para o caso de imprevistos é uma estratégia inteligente. Assim, evita-se recorrer a algum tipo de crédito e dificultar ainda mais a situação financeira”José VignoliEducador financeiro do SPC Brasil

Bem que João gostaria de direcionar uma boa cifra em aplicações com bons rendimentos, mas ele precisa honrar contratos parcelados: “Estou pagando móveis e outras coisas adquiridas em razão do casamento. Também tenho uma filha pequena. Então, como sobra pouco no fim do mês, deixo em casa mesmo”.

Maria Alice, por sua vez, deposita ao menos R$ 200 na poupança todos os meses: “Embora tenha menor rendimento que outras aplicações, ela me dá a oportunidade de resgate a qualquer hora, enquanto os outros investimentos necessitam de carência. Além disso, não há imposto de renda sobre a poupança”.

Imprevistos
Essa preocupação – a de ter em mãos o dinheiro quando precisar – faz parte do dia a dia de muitos brasileiros. Quatro em cada 10 pessoas que têm sobras no salário para economizar ou investir tiveram de sacar parte do recurso, segundo o estudo. O educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, apurou que um dos principais destinos foi para cobrir despesas com imprevistos (10%).

“Deixar dinheiro guardado para o caso de imprevistos é uma estratégia inteligente. Assim, em momentos de aperto, evita-se recorrer a empréstimos ou algum outro tipo de crédito, que pode cobrar juros elevados e dificultar ainda mais a situação financeira”, disse.

Em média, R$ 374 é o valor daqueles que têm o hábito de aplicar ou guardar uma quantia a cada mês. E o que leva as pessoas a deixarem algum montante em casa ou no banco? De acordo com o estudo, seis em cada dez reservam rendimentos para situações inesperadas, que podem fugir do controle, seja em razão do desemprego ou despesas com saúde. 

O provisionamento visa também garantir um futuro melhor para familiares (36%) ou mesmo a aposentadoria (14%).

Dicas 
Vignoli, o educador financeiro, entende a situação de João e Maria. Ele, contudo, recomenda aos dois que, quando possível, analisem e comparem as aplicações ofertadas no mercado.

A partir de R$ 30, por exemplo, é possível aplicar no Tesouro Direto Selic. De acordo com o levantamento do SPC Brasil e CNDL, “com vencimento em março de 2025, o investidor poderá resgatar R$ 2.613,10”. Sempre que possível, recomendam os especialistas, é importante aumentar os aportes mensais para que a esta reserva cresça num passo maior.

Guardar uma grana em casa e confiar somente na poupança em detrimento a outros investimentos podem levar o trabalhador a perder dinheiro. Isso porque o rendimento na caderneta corre o risco de ser consumido pela inflação.

Outra opção pode ser o Certificado de Depósito Bancário, mais conhecido pela sigla CDB. Tem rendimento diário e é protegido pelo Fundo Garantidor de Crédito em até R$ 250 mil (FGC). Há outros fundos de investimentos com liquidez diária.

Com mais acesso à informação, poupador pode procurar melhores opções de investimentos

Informação é a alma do negócio. Investidores e educadores financeiros observam que o mundo moderno facilita o acesso de leigos na área econômica a saber qual a melhor proposta para a rentabilidade do dinheiro.

“No passado, havia uma dificuldade em obter informações. Hoje, há vários sites e aplicativos. É preciso que a pessoa tenha mais interesse em procurar opções melhores”, reforçou José Vignoli, educador financeiro do SPB Brasil. 

O especialista, contudo, alerta que a poupança não deve ser “demonizada”. E explica o porquê: “Há casos em que ela tem a característica que se adequa ao perfil da pessoa”.

O presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, também conclui que há um desconhecimento sobre as opções que o investidor tem à disposição. 

É a ausência deste conhecimento, segundo ele, um dos componentes que contribuem para o perfil conservador no momento da escolha do tipo de investimento. 

“É preciso que alguns paradigmas sejam abandonados, como a crença de deixar todos os recursos apenas em aplicações com as quais o brasileiro já está acostumado. Se a intenção é manter o dinheiro aplicado por muito tempo, a diferença de rendimento entre a tradicional poupança e outras modalidades pode ser relevante. Por isso, é essencial conhecer as regras e o funcionamento de outras aplicações para tomar as melhores decisões”, enfatiza.

Muitas pessoas, entretanto, sequer conseguem aplicar algo ou mesmo depositar uma quantia na poupança.Trata-se de uma das heranças de quando o Brasil colecionava bons indicadores econômicos. 

“A capacidade de poupança foi reduzida não só pela crise que estamos passando, mas também por conta de as pessoas terem vivido plenamente o crédito num passado recente. Um dos problemas é que, no momento de bonança, as pessoas não guardaram dinheiro. Ficaram endividadas ou se acostumaram com um estilo de vida superior à realidade, muito baseado no crédito. E agora a água bateu no nariz”, disse o educador financeiro.

A situação é mais preocupante para a metade dos brasileiros, pois, segundo a pesquisa, 50,1% não têm o hábito de poupar nem têm reservas em dinheiro. 

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