Ao se reeleger domingo com folgada maioria, o presidente do Equador, Rafael Correa, derrotou seus sete concorrentes e, também, a imprensa equatoriana. Denúncias de corrupção no governo foram destaques nos jornais e revistas e nos noticiários de rádios e televisões, desde que Correa se elegeu em 2007 falando em “revolução cidadã” no país. O presidente fingiu nada saber a respeito e manteve no governo as autoridades denunciadas.
Apuradas 40% das urnas, o principal concorrente – o banqueiro Guillermo Lasso, ligado à Opus Dei, poderosa organização católica de direita – reconheceu a derrota e se autoproclamou líder da oposição, com cerca de 20% dos votos totais. Vitorioso, Correa fez um discurso da sacada do palácio, para milhares de seguidores, e declarou que nada pode parar a revolução socialista no Equador. Uma das primeiras mensagens de congratulações que recebeu foi do governo da Venezuela, em nome de Hugo Chávez, que na madrugada de segunda-feira regressou a seu país, depois de dois meses em Cuba, para prosseguir o tratamento do câncer num hospital militar de Caracas.
As perspectivas são ruins para a imprensa equatoriana. Na primeira entrevista coletiva a jornalistas estrangeiros, após a reeleição, o presidente deixou claro que pretende lutar contra a imprensa “corrupta, manipuladora e mercantilista”. Nas eleições, seu partido deve obter maioria absoluta no Congresso Nacional, o que facilitará a aprovação de leis que não interessam aos donos dos veículos de comunicação.
Questões políticas à parte, a corrupção é um problema real a ser enfrentado por Correa até 2017, quando termina o mandato. Desde 2006, enquanto o país crescia a taxas superiores à do Brasil, por causa do dinheiro do petróleo, a corrupção e a criminalidade aumentavam em escala ainda maior. A primeira foi impulsionada pela sensação de impunidade, a outra pelo dinheiro do narcotráfico. O Equador adotou o dólar como moeda oficial no ano 2000, para combater a inflação, e acabou se transformando numa grande lavanderia para o crime organizado de países vizinhos.
Economista com experiências profissionais na Europa e nos Estados Unidos, Rafael Correa é um misto de político populista e tecnocrata que soube aplicar o dinheiro do petróleo para reduzir em 27% a pobreza no país. E que agora precisa desenvolver a agricultura e a mineração para tirar a economia da dependência exclusiva do petróleo. E, sobretudo, investir na educação.