Risco ao agronegócio: suspensão de linhas de crédito pelo BNDES pode comprometer a próxima safra

Tatiana Moraes
19/04/2019 às 21:22.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:18
 (Jonas Oliveira/Divulgação)

(Jonas Oliveira/Divulgação)

Produtores rurais mineiros e representantes do agronegócio temem redução da safra 2020/2021, que começa em julho próximo, e queda na área plantada em Minas Gerais no mesmo período, com reflexo direto no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. Eles foram pegos de surpresa pela suspensão das linhas de financiamento do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota) e Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária (Inovagro), ambas disponibilizadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

A Moderfrota é a principal linha de financiamentos para aquisição de maquinário e tem duas modalidades. A mais barata, que foi suspensa, é destinada aos produtores com faturamento de até R$ 90 milhões por ano e tem taxa anual de 7,5%. A outra, que continua em vigor, pode ser utilizada por quem tem receita superior a R$ 90 milhões e o índice é de 9,5%. Já a Inovagro é indicada para quem deseja inovar na produção. Os juros a linha pós fixada, que foi suspensa, são de 7,5%.

O anúncio da interrupção dos empréstimos foi feito no último dia 11 em circular emitida pelo BNDES. No texto, há a informação de que o recurso disponibilizado para as linhas de financiamento se esgotou. O BNDES não informou o valor, mas disse que “mantém discussões junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na avaliação de alternativas para remanejamento de recursos equalizáveis pelo Tesouro Nacional para os citados Programas, para o Ano Agrícola 2018/2019”.

Cerca de um mês antes, o presidente do Banco, Joaquim Levy, afirmou que “a ideia é de que o desmame tem de acontecer. O desmame tem de acontecer”, referindo-se aos subsídios oferecidos ao agronegócio brasileiro. 

Segundo a assessoria de imprensa do BNDES, no último plano safra foram disponibilizados R$ 7,27 bilhões para o Moderfrota e R$ 513 milhões para a Inovagro. Além dessas duas linhas, foram suspensas ainda a ABC, Moderagro, com taxas pré e pós-fixadas, além do PCA, Pronaf Investimento e Pronamp, com taxas pré-fixadas.

Tiro no pé
Na avaliação do diretor do Sindicato dos Produtores Rurais de Uberlândia e produtor de Grãos e Leite, João Carlos Semenzin, a decisão do BNDES é “um tiro no pé”.“A maioria dos produtores mineiros recorrem aos financiamentos para modernizar a frota. Eu mesmo uso sempre. As linhas também são ótimas para o caixa do governo, pois o agro gera imposto e equilibra a balança econômica devido às altas exportações. Sem contar que estamos falando de uma cadeia enorme”, diz. 

Ele afirma, ainda, que a modernização oferecida pelos maquinários garante aumento da área plantada e eficiência da colheita, do plantio e até da pulverização. “Não tenha dúvida do impacto dessa interrupção para o país. Haverá queda vigorosa na venda de máquinas porque 90% dos produtores usam os financiamentos. E, com isso, vem o desemprego”, projeta o diretor do sindicato, que representa 800 produtores.

A coordenadora da Assessoria Técnica da Federação Agropecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, defende que a manutenção das linhas é crucial para o bom desempenho da agronegócio mineiro. “Nos preocupa que em um momento de preparação para a safra 2020/2021 haja um corte de recursos desse porte”, critica.

Para o presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) o fato de os cortes terem sido feitos às vésperas da Agrishow, uma das mais importantes feira do setor, a ser realizada entre 29 de abril e 3 de maio, coloca o agronegócio em posição delicada. 

“O segmento agrícola está investindo, renovando seu parque de máquinas, que tem 50% da frota com idade média de dez a quinze anos de uso. Não podemos perder este momento de contínuos investimentos na modernização, levando em conta que estamos entrando na era da agricultura 4.0”, pondera.

  

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