
SÃO PAULO – Desafiado a decodificar a cultura do nordeste baiano em cores e texturas, o estilista mineiro Lucas Magalhães acreditou que encontraria “50 tons de laranja”, em referência à terra e paisagem da região. No entanto, viu muito além de aridez e sol forte. Pinturas rupestres, plantas, artesanato e, claro, pessoas cheias de histórias cruzaram o caminho dele.
O roteiro foi parte do projeto “Iconografia Local”, promovido pelo Inspiramais, Salão de Design e Inovação de Materiais, realizado nos últimos dias 15 e 16, na capital paulista.
“Foi uma delícia participar do projeto. Fiquei surpreso com tanta riqueza. O movimento é conseguir usar isso a favor da indústria”
Lucas Magalhães
Estilista
“A ideia era que, em cima das pesquisas na região, criássemos alguns protótipos, cartela de cores e outras referências. Fiquei surpreso com tanta riqueza no caminho de Salvador até Conceição do Coité (cidade do interior baiano), passando pela Chapada (Diamantina)”, destaca Magalhães, que é especialista em tricô e produziu peças unindo a técnica ao que colheu na viagem.
Referências
Jornadas como essa colaboram para a indústria da moda no país e são parte fundamental para a construção de uma identidade brasileira, afirma Ilse Guimarães, superintendente da Assintecal (Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos), um dos realizadores do projeto e do Inspiramais.

Empresas fornecedoras de matérias-primas apresentaram seus produtos e as diferentes formas de uso

“Estamos trabalhando as referências brasileiras e essa apropriação da identidade local faz as empresas aumentarem a própria estima. Fugimos da economia globalizada de produções massificadas e padronizadas”, ressalta.
“As empresas precisam entender o que é o hit da estação e dar roupagem nova a produtos que já são sucesso na sua marca”
Walter Rodrigues
Coordenador do Inspiramais
Desafios
Tal fuga é o que motiva, desde o começo, o Inspiramais, que reúne fornecedores de matéria-prima para moda há quase 10 anos. Traduzir as identidades do Brasil, transformando-as em tendências globais, talvez seja o maior desafio.
“O país tem como diferenciais o design e as matérias-primas, incluindo a inovação e a questão da sustentabilidade. Mas, o mercado fornecedor da Ásia ainda é muito forte. Por isso ter, no mesmo espaço, segmentos de fornecimento diferentes, com estilos diversos, é vantajoso para o comprador, otimiza o tempo”, acredita Edmundo Lima, presidente da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), apoiadora do evento.
Para conquistar compradores nacionais e internacionais, a estratégia é entender o DNA do produto, oferecer novas tecnologias e pensar em uma comunicação global. Pelo menos é a receita que o estilista Walter Rodrigues, que coordena os trabalhos do salão de design, dá em suas palestras pelo Brasil.
“O produto tem que ter história pra contar, aqueles que não têm perdem o lugar e acabam lutando pelo preço. E pequenas empresas, que são a maioria, muitas vezes não têm espaço para lutar com o preço”.
(*) Viajou a convite do evento
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