
O aumento dos casos de distúrbios do coração entre o público feminino preocupa médicos e ganha destaque no mês dedicado às mulheres. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que, neste universo, as doenças cardiovasculares são responsáveis por um terço de todas as mortes, o equivalente a 8,5 milhões de óbitos por ano – mais de 23 mil por dia.
No Brasil, as doenças cardiovasculares matam duas vezes mais mulheres que todos os tipos de câncer, segundo levantamento da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). Outro dado que chama atenção é que a cada dez mortes por infarto, seis são em mulheres, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Para o cardiologista Augusto Vilela, as razões para que essas doenças cardiovasculares sejam mais recorrentes nas mulheres são variadas. Entre elas estão falta de exercícios e má alimentação, o que é facilmente explicado pela jornada dupla ou tripla que muitas enfrentam no dia a dia. “Isso faz com que não tenham muito tempo para cuidar de si”, diz.
Outra explicação está no calibre das artérias das mulheres. “É nas artérias que se formam as placas ateromatosas que agridem o revestimento interno dos vasos. Como são mais finas do que nos homens, quando obstruídas a tendência é que o problema se torne mais grave”, explica o médico.
Menopausa
Os riscos de eventos no coração aumentam para todos conforme chega o envelhecimento, mas para as mulheres os sintomas podem se tornar ainda mais evidentes após o início da menopausa, que, no geral, começa por volta dos 50 anos.
É preciso deixar claro, entretanto, que a menopausa não causa doenças vasculares. Mas as alterações trazidas com a chegada desta etapa na vida da mulher podem desencadear ou elevar as chances de problemas cardíacos. A fase é marcada por uma transição hormonal e leva a diferentes sintomas físicos e psíquicos.
A menopausa é caracterizada pelo fim da menstruação e ocorre porque os ovários deixam de produzir os hormônios femininos. Do ponto de vista cardiovascular, o mais importante deles é o estrógeno (ou estrogênio), tido como um aliado do coração. Por natureza, durante todo o período fértil, as mulheres contam com a proteção do estrógeno, hormônio que tem efeito positivo sobre a parede arterial.
Estudos mostram que a substância é uma espécie de guardiã da parede celular que reveste o interior dos vasos sanguíneos. Sem o hormônio, essa estrutura tende a ficar mais vulnerável a lesões e a se contrair excessivamente. “O estrógeno estimula a flexibilidade e dilatação dos vasos”, diz o cardiologista Augusto Vilela.
A queda na concentração do estrógeno e as mudanças no corpo da mulher nesta fase também interferem em outros fatores de risco para as doenças cardiovasculares, como colesterol, diabetes, pressão arterial, circunferência abdominal e controle de peso, além de outros pontos relacionados ao estilo de vida.
Segundo pesquisa do Hospital do Coração (HCor), de São Paulo, durante o período da menopausa 40% das mulheres já apresentam aumento da circunferência abdominal, mais de 20% fumam, 18% são ex-fumantes, 23% têm seus níveis de pressão arterial acima do recomendado, 21% possuem alteração dos níveis de colesterol e 15% são diabéticas. “É uma combinação explosiva e que pode desencadear tanto um infarto quanto um AVC”, alerta Vilela.
A melhor maneira de prevenir é manter uma rotina saudável, com alimentação equilibrada e exercícios. Dados da OMS revelam que 80% das causas de doenças que afetam o coração são ocasionadas por fatores que podem ser mudados na rotina. “Cuidar da alimentação e manter as atividades físicas em dia é fundamental, mas tanto as mulheres quanto os homens não podem esquecer de cuidar do bem-estar e da saúde mental, pois o estresse e a ansiedade são gatilhos para outras doenças”, alerta o médico.
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