'BH está preparada para o pior cenário da pandemia', diz secretário de Saúde

Maria Amélia
mvarginha@hojeemdia.com.br
19/07/2021 às 08:38.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:26
 (Fernando Michael)

(Fernando Michael)

Estudos recentes têm demonstrado que a variante Delta - mutação do coronavírus que surgiu na Índia - consegue escapar da ação de alguns anticorpos produzidos pelo organismo após a infecção ou mesmo depois da vacinação. Assim, a preocupação com uma terceira onda da pandemia volta a surgir. Mas, mesmo diante dos riscos, o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto, garante que Belo Horizonte está preparada, caso nova onda ocorra. Segundo gestor, a cidade tem capacidade para remanejar leitos e fazer contratações de profissionais da linha de frente. Segundo o gestor, há vagas para médicos e enfermeiros, mas falta procura. O chefe da pasta avaliou o enfrentamento à doença na capital. Confira a entrevista. 

Quantas doses contra a Covid são necessárias para vacinar toda a população acima dos 18 anos?

Belo Horizonte precisa de cerca de 2 milhões de doses para dar as duas necessárias para todas as pessoas que ainda faltam ser vacinadas. E já há estudos do Ministério da Saúde para ampliar essa faixa para até os 12 anos. Ou seja, é uma expectativa de crescimento do nosso público-alvo. 

A vacinação na cidade passou dos 55% do público com a 1ª dose. Como o senhor analisa a campanha na capital?

Poderia ser mais rápida se tivéssemos mais doses. BH tem um potencial muito grande de vacinação. No fim de 2017, início de 2018, quando houve o encontro de alguns macacos com febre amarela, BH vacinou praticamente 850 mil pessoas, e sem muito sacrifício. A Secretaria Municipal de Saúde tem uma estrutura adequada para vacinar até 50 mil pessoas por dia. O que falta, realmente, é o insumo básico, que é a vacina. Os demais insumos a capital têm, inclusive todas as equipes preparadas.

A PBH já informou que há casos de 3ª dose em investigação. São quantos casos suspeitos?

Através do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), nós conseguimos acessar, por CPF, todas as doses aplicadas no país. Através do SI-PNI é possível cruzar esses dados, o problema é que um programa que apresenta muita instabilidade e nem todas as doses estão lançadas. Mas todos os casos que forem identificados serão encaminhados ao Ministério Público para que as devidas providências sejam tomadas. 

Muitas pessoas não tomaram a 2ª dose. A que o senhor atribui a baixa procura?

A segunda dose é extremamente importante. A pessoa só está completamente imunizada quando ela toma. Existem várias possibilidades. Ela pode estar doente, ter adquirido Covid, estar no intervalo de 30 dias após ter contraído e precisa esperar. Pode estar viajando, pode ter outra doença ou até ter falecido. Em reunião com a minha equipe, determinei que vamos estabelecer um prazo máximo, ainda em estudos se será de 60 ou 90 dias, e, passado esse prazo, a pessoa que não tomou a segunda dose deve ir para o fim da fila. Nós vamos usar essas doses que estavam guardadas para vacinar novos grupos. 

Algumas pessoas estão escolhendo qual vacina tomar. BH já planeja alguma ação no sentido de evitar essa escolha?

Na verdade, não adianta nada a pessoa escolher a vacina, não existe isso. O que todo mundo fala é que a Coronavac é menos eficaz, mas a secretaria já publicou informações sobre o número acentuado de queda nas internações e óbitos com a vacinação. Do total de pessoas que tomou a primeira dose, mais da metade reebeu a Coronavac. Ou seja, a Coronavac é tão eficaz quanto a Pfizer e AstraZeneca em prevenir doença e óbito. A população acima de 60 anos que antes era prioritariamente acometida, hoje responde por menos de 30% das internações. Não há porque escolher vacina. Vacina boa é aquela que está no braço! 

A Conmebol liberou jogos do Atlético pela Libertadores com torcida nos estádios. Há alguma previsão de liberação em BH?

O que determina se uma atividade pode acontecer ou não são os parâmetros que o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 da PBH segue. Um dos mais importantes é a incidência por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias. O Centro de Controle de Doenças (CDC) de Atlanta, nos Estados Unidos, diz que uma incidência por 100 mil habitantes segura seria de 20 casos em 14 dias. Belo Horizonte está com 292 casos por 100 mil habitantes. Ou seja, essa é uma transmissão muito importante do vírus. É muito temerário voltar com público em estádio de futebol. Certamente, não acontecerá retorno de público em jogo de futebol antes da liberação das escolas. 

BH tem quadro de funcionários que atende toda a rede municipal de saúde? Há previsão de contratação?

A secretaria tem disponibilidade para contratar a hora que a gente quiser e puder. O Hospital Odilon Behrens e o Hospital Célio de Castro tentaram fazer vários processos seletivos, mas não houve procura. Não há profissionais no mercado em número suficiente. Essa é uma das razões pelas quais as atividades das escolas das áreas da saúde, cursos de medicina, fisioterapia, enfermagem, tiveram as atividades liberadas presencialmente. Nós precisamos formar profissionais.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) já informou que a variante Delta deve ser a mais dominante no mundo nos próximos meses. O senhor acredita que teremos uma 3ª onda?

Belo Horizonte está preparada para o pior cenário. De acordo com os dados, a secretaria movimenta leitos e enfermaria de UTI para Covid ou para outras doenças. O número de leitos para UTI é de 406, ou seja, mais de 100 foram movimentados de Covid porque há pessoas na fila esperando porque tiveram infarto ou um acidente vascular cerebral (AVC). Não podemos deixar alguém esperando para ir para a UTI sendo que temos leitos de UTI de Covid vagos. Fazemos uma transformação de Covid para retaguarda porque esse momento permite, mas ao menor sinal de que vai haver aumento do número de casos de Covid, podemos voltar com esses leitos. A secretaria faz essa movimentação sistematicamente. Obviamente, precisamos de pessoal para fazer um leito funcionar. O leito de UTI para receber um paciente precisa de sete profissionais, entre médico, enfermeiro, técnico de enfermagem. Não basta ter uma cama, tem que ter uma equipe. Isso custa recurso, mas esse é o menor problema. A PBH tem investido mais de 30% da receita na saúde. Com a saída de pessoas que procuram a rede privada para trabalhar, que demanda um pouco menos, talvez remunere um pouco melhor, nós precisamos de novos profissionais. Estamos sempre abertos para contratação. O banco de currículos da PBH, que pode ser acessado pelo site da prefeitura, hoje não tem nenhum currículo de médico, porque todos que estavam lá foram contratados.

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