Pandemia

Especialista do Instituto Butantan cita seis motivos para se manter o uso de máscara contra Covid-19

Da Redação
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Publicado em 12/06/2022 às 08:00.
 (Fernando Michel/Hoje em Dia)

(Fernando Michel/Hoje em Dia)

Com o aumento no número de casos de Covid-19 no país, muitas cidades voltaram a recomendar o uso de máscaras em locais fechados. A orientação não é à toa: a ciência já comprovou que a proteção facial cobrindo nariz e boca, sobretudo a cirúrgica e do tipo N95, realmente ajuda a evitar a contaminação por vírus respiratórios, como o novo coronavírus (SARS-CoV-2).

Segundo o diretor do Laboratório Multipropósito do Instituto Butantan, Renato Astray, o uso da máscara neste momento se torna uma medida de contenção ainda mais importante porque o país vive uma concentração de situações propícias para a disseminação da Covid-19.

“As pessoas pensam muito na saúde dos familiares mais próximos, mas precisam entender que a vacina e o uso de máscaras são medidas de saúde coletiva. Quando nos protegemos destas formas, contribuímos para diminuir a circulação do vírus e para proteger quem não pode tomar a vacina, quem tem comorbidades e doenças crônicas e está mais suscetível a infecções graves”, afirmou o especialista.

Com base na eficácia comprovada das máscaras, Renato lista seis motivos para que sejam usadas:

Aumento de casos e internações
Dados do boletim InfoGripe, da Fiocruz, divulgados na semana passada, mostraram que o SARS-CoV-2 já responde por 59,6% dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) que levam à internação. O documento registrou também que a Covid-19 já representa 48% dos casos positivos para vírus respiratórios em circulação no país, ambos com tendência de aumento.

Diante deste quadro, para Renato Astray, a liberação do uso de máscaras no país foi precoce, já que a pandemia não acabou e ainda convivemos diariamente com o surgimento de variantes do coronavírus e de novas infecções, apesar de a vacinação ter impacto importante na diminuição de casos graves e mortes.

“Há um consenso entre as autoridades de saúde do mundo que essa retirada do uso de máscaras foi muito precoce, principalmente nos locais fechados. Nas regiões que estão em temporada de inverno é ainda mais complicado a retirada porque as pessoas tendem a ficar mais reunidas em locais fechados e a chance de transmissão aumenta muito”, afirmou.

Doença ainda é grave para alguns grupos
Segundo o especialista do Butantan, as internações e casos de SRAGs mostram que as doenças respiratórias ainda podem ser graves para determinados grupos de pessoas, por isso a máscara deve continuar sendo usada como uma medida de prevenção.

“A gravidade da doença nunca deixou de existir. Há pessoas que ainda adoecem porque não conseguem responder adequadamente ao vírus, como imunossuprimidos, pessoas com doenças crônicas e crianças não vacinadas”, explicou.

A recomendação da proteção facial é ainda mais importante para quem já apresenta alguma doença ou sintoma gripal.

Crianças nas escolas e sem vacina
Após o retorno das atividades presenciais nas escolas e a liberação do uso de máscaras nestes locais, as crianças voltaram a ficar mais expostas à Covid-19, sobretudo as que não podem ser vacinadas: as menores de 5 anos. Sem a proteção e sem máscara, mas em contato com aglomerações em locais fechados, elas se tornaram alvo fácil do coronavírus, alertou Renato.

“As escolas têm sido um dos locais de maior transmissão da Covid-19 e essas crianças acabam levando o vírus para casa. Se elas têm contato com os avós ou com pessoas mais suscetíveis, é uma bola de neve. É bem válido adotar as máscaras nestes ambientes”, disse.

No Brasil, a vacinação contra o coronavírus é indicada para pessoas a partir dos 5 anos e adultos de todas as idades. Crianças abaixo desta faixa etária ainda não estão elegíveis para a imunização.

Tempo frio e aglomerações em locais fechados
O fato de mais vírus respiratórios estarem circulando no momento, seja pelo tempo frio, seja pelo fato de as pessoas estarem se aglomerando, também reforça a necessidade do uso de máscaras para conter a transmissão da Covid-19 e dos demais micro-organismos, que também podem causar complicações e colapsar os serviços de saúde.

“Sem dúvida o uso de máscaras nesta época diminuiria bastante a incidência de doenças respiratórias. Mas implementar isso como um hábito anual é difícil, porque teria que haver um convencimento grande e as máscaras não são gratuitas. Já reforçar a informação sobre a importância do uso das máscaras nos transportes públicos e de lavar as mãos com frequência, poderia ajudar bastante a conter a disseminação dos vírus respiratórios”, reforçou Renato Astray.

Ele citou como exemplo o hábito de uso de máscaras em países asiáticos antes mesmo da pandemia como um fator cultural indicado quando a pessoa apresenta sintomas ou descobre que está com alguma doença respiratória.

Baixa cobertura de reforço vacinal
Um dos fatores que mais preocupa e que expõe pessoas à Covid-19 é não estar com a vacinação em dia. Segundo dados do Ministério da Saúde, a cobertura da terceira dose do imunizante contra coronavírus não chegou a 50% da população adulta no Brasil até meados de maio. E é ainda menor entre os jovens adultos, de 18 a 24 anos, que chegou a meros 30%. A falta do reforço, capaz de multiplicar a quantidade de anticorpos contra a Covid-19, deixa um contingente de pessoas mais expostas ao SARS-CoV-2 e mais propensas a espalhar o vírus, alertou o especialista do Instituto Butantan.

“Com as variantes da ômicron surgindo, seria ainda mais importante garantir o esquema vacinal completo, para proteger a si mesmo e aos outros. Mas quem por algum motivo não completou, a máscara pode ser mais um fator protetor neste processo”, afirmou.

Liberação de eventos e shows
A reabertura de eventos e de festas tradicionais como juninas e shows musicais, entre outras celebrações, permitem aglomerações de pessoas em ambientes fechados, abertos e semiabertos, e são um convite à disseminação da Covid-19 e de outros vírus. Por isso, para Renato Astray, o uso de máscara deveria ser levado em conta também nestes ambientes.

“O momento é de exigir a precaução também em locais abertos, já que haverá festas de meio de ano e eventos culturais variados. Quanto menos as pessoas se expuserem, melhor, porque coincide com o fato de que muita gente tomou a terceira dose já faz tempo ou nem tomou. É um momento que precisa ter bastante atenção”, disse.

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