Saúde

Estudo revela que obesos considerados ‘saudáveis’ podem ter maior risco de doenças cardíacas

João Paulo Martins
joao.oliveira@hojeemdia.com.br
03/06/2022 às 08:34.
Atualizado em 03/06/2022 às 21:14
 (Freepik/Divulgação)

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Um estudo feito pelo Instituto Nacional de Cardiologia (INC), do Ministério da Saúde, no Rio de Janeiro (RJ), descobriu que pessoas consideradas “obesas metabolicamente saudáveis”, cujos exames tradicionais, como colesterol, glicemia e pressão arterial, não apresentam alterações nos resultados, podem ter maior risco de doenças cardíacas.

A pesquisa analisou 241 voluntários, todos trabalhadores do INC e com obesidade metabolicamente saudável. Eles fizeram testes de variabilidade da frequência cardíaca, eletrocardiogramas, exames ortostáticos (média entre ritmo cardíaco e variação dos batimentos) e hipotensão ortostática (queda da pressão arterial quando se levanta repentinamente).

(Domínio público)

(Domínio público)

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os critérios para definir quem é obeso seguem uma relação entre altura e peso - o ìndice de Massa Corporal (IMC). Confira:

  • Normal: IMC de 18,5 e 24,9 kg/m² (peso dividido pelo dobro da altura);
  • Sobrepeso: IMC de 25 e 29,9 kg/m²
  • Obeso: Acima de 29,9 kg/m²
  • Obeso mórbido: igual ou maior que 40 kg/m²

Como foi o estudo
No estudo do INC, realizado pela pesquisadora Alice Pereira Duque, foram descobertas alterações nas funções autônomas do organismo de pessoas obesas clinicamente saudáveis. Essas mudanças podem elevar o risco de cardiopatias.

“O sistema nervoso autônomo é uma subdivisão do sistema nervoso. Quando a gente fala dele, estamos falando do sistema nervoso periférico, que controla todas as funções orgânicas do corpo, como frequência cardíaca, dilatação da pupila, secreção hormonal, excreção de suor e funcionamento das glândulas”, explica a cientista.

Segundo ela, como o sistema autônomo é responsável por funções essenciais do corpo, qualquer alteração pode afetar a função cardiovascular e, com isso, ser um indicativo de risco de doenças cardíacas em obesos metabolicamente saudáveis.

“A gente avaliou alterações bioquímicas também. Observamos que obesos metabolicamente saudáveis podem ter maiores níveis de colesterol LDL (tipo ruim), com predisposição ao aumento de gordura nas artérias.

Além disso, afirma a cientista, essas pessoas têm maior nível da proteína C-reativa (produzida pelo fígado e associada a inflamações) em comparação com os metabolicamente saudáveis e não obesos. "Esses fatores aumentam o risco de cardiopatias”, afirma Alice Duque.

Estudo associa alterações na pressão arterial ao maior risco de doenças cardíacas em obesos "saudáveis" (Pixabay / Divulgação)

Estudo associa alterações na pressão arterial ao maior risco de doenças cardíacas em obesos "saudáveis" (Pixabay / Divulgação)

Os resultados apontam que, quando o participante saía da situação de repouso e apresentava aumento da pressão arterial sistólica (ou máxima, quando o coração bombeia sangue), essa alteração poderia estar ligada à disfunção do sistema autônomo.

Além disso, foi identificada inconsistência na frequência cardíaca dos voluntários, sugerindo que os obesos clinicamente saudáveis podem ter maior ativação do sistema simpático (responsável pela excitação, pelo esforço intenso), o que leva a um risco aumentado de problemas cardiovasculares.

Obesidade x Saúde

A pesquisadora conta que o termo “obesidade metabolicamente saudável” surgiu em 1982, a partir dos estudos do cientista americano Ethan A.H. Sims, e descreve os indivíduos obesos que não possuem síndromes metabólicas, como hipertensão, diabetes ou dislipidemia (colesterol alto).

“Ainda hoje, a gente não sabe dizer se os obesos metabolicamente saudáveis têm perfil benigno, sem risco cardiovascular, ou se estão numa etapa de transição para se tornarem metabolicamente não saudáveis”, explica a cientista do Instituto Nacional de Cardiologia.

Alice Duque salienta que este é o primeiro estudo a usar os testes de variabilidade cardíaca, eletrocardiogramas, exames ortostáticos e hipotensão ortostática em pessoas com obesidade metabolicamente saudáveis para entender as disfunções no sistema autônomo.

“Observando a função autonômica podemos ver os riscos e entender que não é uma condição benigna, e sim, sujeita a todas essas complicações. Mesmo na ausência das alterações, eles já estão em risco. Precisam ser avaliados clinicamente, objetivando mudança no estilo de vida, com prática de exercícios. Tudo para uma mudança no peso e não com viés estético. É para reduzir as probabilidades de doenças metabólicas”, afirma Alice Duque.

De acordo com a pesquisadora, é preciso interpretar a obesidade como doença, devido ao aumento do perfil inflamatório e da função autonômica que pode gerar.

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