Riscos se escondem em clínicas estéticas

Letícia Alves - Hoje em Dia
03/01/2015 às 08:32.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:33
 (Carlos Rhienck/Hoje em Dia/Arquivo)

(Carlos Rhienck/Hoje em Dia/Arquivo)

O ponteiro da balança subiu? Apareceu mais uma linha de expressão no rosto? Essas e outras mudanças na aparência são motivos suficientes para que as mulheres busquem solução em uma clínica de estética. O problema é que, mesmo aparentemente simples, procedimentos como a carboxiterapia, a criolipólise e o botox apresentam potenciais riscos à saúde.    As precárias condições de alguns estabelecimentos agravam ainda mais o perigo. No ano passado, das 159 clínicas de estética cadastradas na Vigilância Sanitária de Belo Horizonte, 44 passaram por vistoria por apresentarem riscos aos clientes, como falta de profissional responsável técnico, equipamentos sem registro no Ministério da Saúde e área física inadequada.    Todas essas irregularidades podem resultar em queimaduras, deformidades e até infecções, alerta a coordenadora da clínica do curso de Estética e Cosmética da UNA, Gabriela Abritta. “As pessoas procuram a beleza e acabam não observando a higiene do local, os materiais utilizados e outras questões importantes, como a existência de profissionais capacitados para determinado procedimento. Isso tudo passa despercebido porque o que importa para os clientes, naquele momento, é o resultado e nada mais”, afirmou.   De acordo com Gabriela, as complicações mais comuns estão relacionadas a tratamentos invasivos, que envolvem a infusão de substâncias no corpo como a toxina botulínica. “Esse tipo de procedimento pode gerar uma lesão e possível infecção. E, por isso, deveria ser realizado apenas por médicos, o que, na prática, não acontece”, destacou a coordenadora do curso da UNA.   Complicações   Foi exatamente por causa de uma técnica invasiva em uma clínica no bairro Eldorado, em Contagem, na Grande BH, que Mariana Oliveira* ficou 20 dias com os olhos inchados e sem enxergar. Ela foi submetida a uma aplicação de toxina botulínica. “Eu busquei a diminuição de linhas de expressão e acabei com um problema grave”, lamentou.    Depois das complicações, ela procurou um cirurgião plástico, que constatou a possibilidade da diluição da substância acima do recomendado, provavelmente para diminuir os custos do procedimento. Mariana* entrou com uma ação contra o estabelecimento, que preferiu não se manifestar sobre o assunto à reportagem do Hoje em Dia.   Já a assistente social Juliana Rodrigues da Costa, de 38 anos, atraída pelas promessas de resultados e pelos preços 500% mais baixos do que o valor de mercado, acabou com uma grande marca de queimadura no abdômen.    Ela realizou um procedimento de criolipólise numa clínica no bairro de Lourdes, zona Sul da capital. “Busquei um tratamento para ficar mais bonita e acabei sem o resultado esperado e com uma marca horrível”, contou.    A queimadura de Juliana pode ter sido causada pelas baixas temperaturas do aparelho que realiza o congelamento do tecido adiposo durante 45 a 60 minutos. Para proteger a pele, é usada uma manta descartável e um gel. O reaproveitamento desses materiais pode provocar lesões.    Desconhecimento   Na maioria das vezes, os erros são consequência de falta de conhecimento, de acordo com a diretora do Instituto de Acreditação e Gestão em Saúde (IAG) e especialista em controle de infecção hospitalar, Tânia Grillo. “Não fazem não é porque não querem, mas porque não sabem”, afirmou.    Segundo ela, todo material que entra em contato com o paciente e, principalmente, aqueles que são inseridos no sistema circulatório são de descarte obrigatório.    Na lista de produtos e objetos descartáveis estão agulhas, seringas, cateteres e até materiais utilizados pelos profissionais, como luvas. Outros equipamentos permanentes precisam ser esterilizados adequadamente. “Os cuidados envolvem regras estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Muitas clínicas não seguem as normas por questões econômicas, mas os gastos, em longo prazo, são mais altos”, disse.   Antes de contratar, verifique alvará e queixas existentes   Ao procurar uma clínica de estética, antes de pensar no resultado ou avaliar os preços, é preciso saber se o estabelecimento possui alvará de funcionamento. Vale a pena pesquisar também se há queixas em sites de reclamações, como o Reclame Aqui, e na página da clínica no Facebook.    Outra questão importante é verificar se existem profissionais especializados para os procedimentos. Intervenções invasivas como a aplicação de toxina botulínica, só podem ser feitas por médicos.  Para a carboxiterapia, não há legislação específica, mas o esteticista precisa ser qualificado para realizar o tratamento.    A higiene e limpeza do local também são fundamentais. Todo o material de contato com o paciente precisa ser descartável. Isso inclui seringas, agulhas e cateteres.   Um boa dica é pedir para o profissional para abrir o material na sua frente. Outros equipamentos permanentes precisam ser esterilizados em aparelhos adequados. Macas devem ser limpas com álcool e cobertas com papel entre cada sessão.    *Nome fictício

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por