
Um estudo comandado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) identificou que a manipulação do sistema nervoso pode ser um caminho para encontrar maneiras de tratamento menos agressivas e tóxicas para o melanoma, o tipo mais agressivo do câncer de pele.
A conclusão é de uma pesquisa de três anos realizada em conjunto com cientistas do Hospital Sírio-Libanês, da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob), da Federal de Goiás e de colaboradores internacionais.
Em análises iniciais, os pesquisadores já tinham constatado que os neurônios sensoriais se infiltram nos tumores. Essas células são responsáveis, por exemplo, pelo paladar e o tato.
O professor do Departamento de Patologia da UFMG e coordenador da pesquisa, Alexander Birbrair, explicou que, com a descoberta, é possível controlar o tumor “por dentro”, de forma que ele promova a própria extinção e também bloqueie o desenvolvimento do melanoma.
Para comprovar isso, os estudiosos separaram dois grupos de camundongos transplantados com melanoma. Uma parte passou por um processo de superativação dos neurô-nios sensoriais e, como resultado, teve uma redução na progressão do câncer de pele.
Já os camundongos que tiveram os neurônios desativados sofreram um avanço com mais rapidez do melanoma. A descoberta possibilita pensar em novos tratamentos contra o câncer de pele que sejam menos desconfortáveis e tóxicos para os pacientes.
“Infelizmente, os tratamentos de quimioterapia são muito tóxicos, porque além de matar células cancerígenas, eliminam também as saudáveis do organismo, daí os efeitos colaterais. Outra consequência é que o método também afeta os nervos sensoriais. Portanto, usar neurônios como alvo pode ser uma alternativa menos invasiva e tóxica”, explica Alexander Birbrair.
Ainda segundo o coordenador do estudo, a pesquisa pode servir de base para o desenvolvimento de métodos e tratamentos menos invasivos de combate às células tumorais.
O grupo agora está explorando a função destes neurônios em outros tipos de câncer, como de mama, próstata e pulmão.
A pesquisa recebeu financiamento do Instituto Serrapilheira e tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológicos (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista científica “Acta Neuropathologica Communications”.
Câncer de pele
O câncer de pele é o mais frequente no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). O melanoma ocorre em 3% dos casos malignos, e é o tipo mais grave da doença, devido à sua alta possibilidade de provocar metástase, a disseminação para outros órgãos.
As causas podem ser variadas, tanto genéticas como ambientais. Isso faz com que não haja uma maneira 100% eficaz de evitar que o câncer apareça, mas o diagnóstico precoce pode influenciar muito no prognóstico do paciente. Por isso, o check-up anual é importante.
(*) Especial para o Hoje em Dia
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