Sem data para o 13º: Pimentel encerra mandato devendo abono e deixa em apuros servidores

Lucas Borges
28/12/2018 às 20:42.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:47
 (Riva Moreira )

(Riva Moreira )

 Os servidores públicos de Minas Gerais tiveram o desejo de Ano Novo de ter dinheiro no bolso frustrado. Sem qualquer perspectiva de receber o 13º, além do drama de ter o salário parcelado todos os meses desde 2016, os funcionários do Estado encontram dificuldades para pagar as contas neste fim de ano e muitos recorrem a empréstimos para honrar compromissos já assumidos. 

O anúncio de que a gestão de Fernando Pimentel (PT) não vai pagar o abono natalino dos servidores foi feito ontem. Em nota, o chefe das Relações Trabalhistas do governo do Estado, Carlos Calazans, afirmou que “apesar de todos os esforços financeiros realizados”, a gestão não conseguiu viabilizar o pagamento do benefício em 2018. 

Assim, a quitação do 13º foi empurrada para o governador eleito, Romeu Zema (Novo), que toma posse em 1º de janeiro já com a missão de sanar o débito com o funcionalismo estadual. A conta gira em torno de R$ 2,1 bilhões. 

Em nota, a assessoria de Zema informou que “o governo eleito lamenta a falta de pagamento”, mas que só iria “se pronunciar oficialmente sobre o calote no 13º dado pela gestão petista quando tiver acesso ao fluxo de caixa e às reais condições financeiras do Estado”.

Drama

Um caos. É assim que Eduardo Sérgio Coelho, analista educacional da Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Montes Claros, no Norte de Minas, define a vida financeira atual. Para ele, a situação reflete uma falta de compromisso com os servidores, “que são aqueles que fazem acontecer as políticas públicas na saúde, educação e segurança”.

“Meu orçamento está sucateado. Esperava o 13º para sanar débitos e não consegui. Não tenho mais condições de endividamento. Já usei tudo o que podia, como cheque especial e empréstimo em financeira. Agora, é refinanciar a minha dívida”, disse.

A situação do analista da 3ª Delegacia Sul da Polícia Civil de Minas Gerais, Felipe Gouveia, só não está pior graças aos empréstimos que conseguiu com parentes. “Não tenho mais dinheiro na conta. Tudo isso me causou transtornos. Precisei mudar a data de vencimento do cartão de crédito e vou ter que pagar as contas de janeiro com atrasos e, por consequência, com juros”, lamentou.

De acordo com Geraldo Antonio Henrique da Conceição, diretor do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público do Estado de Minas Gerais (Sindpúblicos), a falta de dinheiro não é explicação para o descumprimento do pagamento do 13º. “Você tem visto alguma empreiteira reclamando que não recebeu do governo estadual? O servidor não foi prioridade”, declarou.

Fátima Ferreira, servidora da área da Educação, em Uberaba, no Triângulo, diz que a decepção é enorme, pois as pessoas, principalmente as que ganham menos, contam com o abono para pagar os impostos, além das contas do dia a dia.
“Já esperava pelo calote e me programei. Com isso, tive menos problemas. Mas tenho colegas que estão em apuros e não tiveram tempo nem de tirar um empréstimo”, contou. 

Efeito cascata 

O calote no pagamento do 13º salário dos servidores do Estado pode gerar ainda um efeito cascata, afetando não apenas o orçamento dos funcionários, mas também enfraquecendo a economia de Minas e das cidades. 
Conforme avaliação do coordenador do curso de Administração do Ibmec, Eduardo Coutinho, o quadro é gravíssimo. Sem a injeção dos R$ 2,1 bilhões, comércios, escolas e até mesmo municípios podem ficar no vermelho. 

Ele destaca que grande parte da população utiliza a verba para comprar material escolar, pagar matrícula em escolas e quitar impostos. Além disso, muitos municípios dependem da verba para fechar o caixa. “Os pequenos serão os mais afetados. Neles, a participação da renda dos servidores é ainda mais representativa”, diz.
 

Colaboraram Anderson Rocha e Tatiana Moraes

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