Sicepot diz que indústria não pode pagar a conta do frete

Luciana Sampaio Moreira
lsampaio@hojeemdia.com.br
08/06/2018 às 22:52.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:30
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Reconduzido à presidência do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot-MG) em abril último, para o segundo mandato entre 2018 e 2021, Emir Cadar Filho, de 44 anos, não pensava em ocupar o posto máximo da entidade, que completou 50 anos de fundação neste ano em um momento especialmente desafiador para a atividade. 

Com uma gestão que une jovens lideranças e “caciques” do setor, ele espera dias melhores para a atividade a partir de 2020, quando devem começar obras de porte para movimentar a atividade que é estratégica para o desenvolvimento nacional nas esferas federal e estadual.

Com o aumento sucessivo de insumos, como é o caso do Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP), principal matéria prima do asfalto, que teve 50% de reajuste nos últimos seis meses, e a impossibilidade de repassar os custos extras para os contratos em curso, que são reajustados anualmente, as empresas experimentam um momento em que o negócio está cada vez mais difícil, pouco lucrativo e arriscado.

“Não vamos aceitar isso e já estudamos a possibilidade de paralisar as atividades porque estamos chegando ao ponto de não conseguir honrar os compromissos”, afirmou.

O que o senhor acha do tabelamento do frete?
Isso é um crime. Diversas entidades estão ingressando com ações judiciais questionando isso e nós apoiamos. O frete também faz parte do nosso contrato de serviços. Todos os insumos que usamos chegam de caminhão ao canteiro de obras e esse é um problema que pode ter consequências mais graves porque a indústria da construção pesada não pode pagar mais essa conta. 

Como está a situação da indústria da construção pesada no Estado?
Tivemos uma queda abrupta desde 2013 a 2016. No ano passado, houve alguma melhoria, mas para quem perdeu 60 mil postos de trabalho, abrir 2500 mil não é algo para se comemorar. Os contratos vigentes, no período, foram apenas para manutenção. Não houve anúncios de novos investimentos em infraestrutura, um setor que, embora estratégico, sempre é penalizado em cenários de crise. 
Neste momento, as empresas não podem mais esperar para retomar a atividade. Embora as construtoras sejam bastante sólidas, todas sem exceção “queimaram” a economia acumulada durante décadas. Algumas venderam patrimônio e fizeram empréstimos para continuar em funcionamento. Apesar da situação, não houve falências. Ao contrário, o setor acredita que pode se reerguer.
Hoje, das 2 mil empresas do Estado, em torno de 300 são associadas ao Sicepot-MG. Temos construtoras de todos os portes no setor.

Quando o setor vai retomar o crescimento? 
2018 não será bom porque ano eleitoral com Copa do Mundo restringe muito a possibilidade licitações e novos contratos, graças à Lei de Responsabilidade Fiscal. Para 2019, também não acredito em retomada. Historicamente, os governantes não investem no primeiro ano de governo. A esperança é que os processos de licitação sejam abertos, para início das obras em 2020. 
Nesse ínterim, estamos contando com obras necessárias e estruturantes de manutenção da malha rodoviária nacional. Na atual conjuntura, não podemos nos enganar, mas o Brasil não pode estender essa crise por 10 anos. O governo tem que fazer as mudanças necessárias. Acredito que as reformas foram muito importantes para o país e para o cidadão que paga as contas.

O novo projeto de lei de licitações será positivo para o setor?
O projeto de lei (PL) nº 6814/2017 tem sido acompanhado de perto pela Associação Brasileira dos Sindicatos e Associações de Classe da Infraestrutura (Brasinfra), da qual o Sicepot-MG também é membro. Mas, uma lei de licitações pós operação ‘Lava Jato’ aperta demais as construtoras com exigências e punições que as empresas não conseguirão atender. 
Defendemos que é preciso ter direitos e deveres iguais para contratantes e contratados. Participamos de audiência pública e temos conversado com os parlamentares da comissão que avalia o PL, mas ainda aguardamos melhorias. Do jeito que está não está boa.

O senhor tem criticado a redução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide-combustíveis) no diesel. Por que?
Se eu fosse caminhoneiro, lutaria para baixar todos os impostos menos este, que é destinado para a manutenção das estradas em âmbitos municipal, estadual e federal. Esse é um recurso “carimbado” que não cai no caixa único e, por isso, não pode ser usado para outro fim. 
O Cide é o único imposto que retorna no formato de melhorias para os caminhoneiros. Ninguém está percebendo essa perda porque, mais uma vez, o governo está penalizando o nosso setor. Mas não se trata disso, mas das condições para que os profissionais possam trafegar pela malha rodoviária nacional.

As Parcerias Público-Privadas (PPP) e as concessões são uma solução para a infraestrutura nacional?
Só se fala sobre isso hoje. Mas é não é uma verdade absoluta. Eu apoio as concessões e PPPs e acredito que elas podem sim trazer benefícios para o mercado e para a população. Mas, se o dinheiro investido é privado, o foco do negócio é o lucro. Então, é preciso deixar claro que, nos projetos que não representarem ganhos, o governo tem que assumir e fomentar o desenvolvimento social e econômico, mesmo porque, essa é a obrigação do Estado, que recolhe impostos. É preciso cuidar de tudo e de todos e não apenas de onde o lucro é garantido.

Como é estar à frente do Sicepot-MG neste momento tão desafiador?
Nunca pensei em ser presidente. Eu acompanhava o meu pai, Emir Cadar, que é um ex-presidente e atual membro do Conselho do Sindicato. Entrei para a entidade há 12 anos e construí uma trajetória de trabalho e participação. 
Estar à frente do Sicepot-MG neste momento não é fácil. Mas, acredito que é preciso saber a real situação da indústria da construção pesada de Minas, para que saibamos encontrar soluções para os problemas que nos afligem há alguns anos. Por isso, nas duas gestões, eu trouxe para a diretoria pessoas jovens. 
Quando há um assunto sério que demanda uma decisão de peso, a diretoria convoca o Conselho que é composto pelos ex-presidentes do Sindicato. 
A participação das empresas que estão em atividade no momento atual é importante para o nosso trabalho, porque são elas que estão sentindo os efeitos da crise econômica nacional e experimentam impasses no relacionamento com os órgãos públicos das esferas municipal, estadual e federal. 

Quais os seus projetos para a nova gestão?
Com o fim da contribuição sindical obrigatória, os sindicatos só vão sobreviver se prestarem serviços relevantes para seus associados. Aqueles que não se adequarem, sejam patronais ou de funcionários, não vão resistir. No caso do Sicepot-MG, que comemorou 50 anos de atividades em março último, estamos revendo o nosso papel enquanto instituição que defende os interesses e representa um ramo importante da economia nacional. 
Temos buscado inovações. Estamos apostando em cursos técnicos e trazemos para o Sindicato o que há de melhor e mais moderno no nosso setor. Temos lutado, também, para manter o equilíbrio dos pagamentos e preços coerentes.
 

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