
Quando se pensa sem jipe, não há como não visualizar aquele veículo sem capota, com faróis redondos, uma grade elevada e para-lamas destacados. O substantivo jipe é uma metamorfose de Jeep e o Wrangler é sua materialização. E depois de 10 anos (ou mais) volto a testar um Wrangler.
Da última vez que tive contato com esse carro foi na geração JK, lançada em 2006. Era a versão duas portas, que tinha inegável sex appeal, mas pecava pelo insosso V6 3.8 de 200 cv, que apesar de não ser fraco demorava a responder e ainda sofria com a transmissão de quatro marchas que fazia dele exageradamente beberrão. A suspensão era demasiadamente macia, ao estilo norte-americano. Ou seja, era bem menos valente e cascudo do que os antigos jipe Willys, que eram impiedosos com os ocupantes.
Mas o mesmo não pode ser dito da atual geração do pai de todos os utilitários. Testamos o Wrangler Rubicon (com chassi alongado e quatro portas). Apesar de a identidade visual ser parecida, com formas retilíneas e pétreas, o carro evoluiu absurdamente.
A começar pelo motor turbo 2.0 e 272 cv e 41 kgfm de torque, que dá a esse carro um vigor espantoso. É combinado com uma transmissão de oito marchas, que ajuda a conter o consumo de forma considerável. Mesmo que esse ponto não seja um fator de decisão para quem tem quase R$ 450 mil para torrar num carro.
Mas fato é que ele é um carro robusto ao extremo e que combina velhos conceitos do off-road, como a segunda alavanca para caixa de transferência, mas com recursos modernos, que fazem qualquer um se tornar um jipeiro. Além do seletor de tração, controle de descida de ladeira com ajuste de velocidade, ele ainda oferece bloqueios eletrônicos dos três diferenciais e desacoplamento das barras estabilizadoras.
Essa função serve para que a cambagem do jipão literalmente se abra para que o carro consiga transpor grandes depressões, sem torcer a carroceria, montada sobre chassi com duas grossas longarinas que suportam tensões dos piores terrenos.
Se há 10 anos o velho JK dava impressão que era mais perfumaria que off-road, agora esse trator tirou dúvida da memória.
Raio-x Jeep Wrangler Rubicon 2.0
O que é?
Utilitário-esportivo, quatro portas e cinco lugares.
Onde é feito?
Fabricado na unidade de Toledo, Ohio (EUA).
Quanto custa?
R$ 439.950
Com quem concorre?
Concorre no segmento 4x4. Seu rival imediato é o Land Rover Defender 110.
No dia a dia
Não foi feito para ser o único automóvel da família. Imenso, esse jipão não é a opção mais inteligente para o uso urbano. Estacionar esse gigante não é fácil, assim como acessar seu interior. Pessoas de baixa estatura ou com problemas de locomoção sofrem para embarcar e desembarcar. Seus imensos pneus 255/75, calçados em rodas aro 17, são excelentes no fora de estrada, mas pouco práticos na cidade. Eles fazem muito ruído, o que penaliza o conforto. Amigo pode até gastar quase meio milhão de reais para ficar bolerando pelo asfalto, mas esse carro foi feito para quem não quer saber de cidade.
Combina tecnologia com robustez. Tem multimídia, vidros e retrovisores elétricos, ar-condicionado digital, sistema de áudio Alpine, com alto-falantes no painel e nas barras do santo-antônio (pois portas e teto são removíveis). Mas faltam modernidades como controle de cruzeiro adaptativo (ACC), monitor de faixa e demais eletrônicos que não funcionariam direito após seus sensores ficarem embotados de lama.
Aliás, nem é preciso tanta eletrônica, pois onde esse carro vai, outros geralmente não chegam. Ou seja, ele tem uma capacidade ímpar de ir aonde quiser. Digo isso no sentido literal. É olhar para o lado e dizer: “Eu vou entrar aí!”, independentemente de ser barranco, pedreira ou riacho.
E se for na água, relaxa, ele afunda a até 76 cm de profundidade. O interior tem material impermeável e eletrônicos protegidos, assim como tampões para deixar a água escorrer. Ele fica legal todo “desmontado”, mas dá um trabalho infernal retirar e colocar tudo de volta. Além disso, é preciso garantir onde deixar os pedaços do jipão.
Motor e transmissão
Equipado com unidade 2.0 turbo de 271 cv e 41 kgfm de torque, combinado com transmissão automática de oito velocidades, tração 4x4 com caixa reduzida e bloqueios eletrônicos dos diferenciais. Conjunto garante força para vencer qualquer obstáculo no fora de estrada, mas também desenvoltura no asfalto. mesmo com duas toneladas de peso.
Consumo
Abastecido exclusivamente com gasolina, o consumo combinado entre urbano, rodoviário e off-road foi de 6,2 km/l
Suspensão e freios
É um caminhão sem caçamba feito para off-road. Utiliza eixo rígido nos dois eixos, com barra estabilizadora na frente. A barra pode ser desacoplada no modo 4x4 reduzida para ampliar o curso. Na estrada é firme, mas como seu centro de gravidade é muito elevado, não convém forçar a barra nas curvas.
Já os freios são a disco nas quatro rodas, que ancoram com rapidez. Tem assistentes de partida em rampa, descida de ladeira, ABS e controle de estabilidade.
Palavra Final
É uma opção completa para quem busca aventuras extremas. Mas sem sombra de dúvidas um carro espetacular. Pena que é tão caro.