'Uber dos médicos' promete revolucionar o setor de assistência à saúde em BH

Lucas Borges
lborges@hojeemdia.com.br
13/03/2018 às 20:41.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:51
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Depois da onda das clínicas populares, um novo filão do setor de saúde promete a revolucionar o mercado. São os chamados “uber dos médicos”, com especialistas que batem à porta da casa do paciente em questão de horas. Os serviços, oferecidos via aplicativos baixados no celular ou tablet, permitem que se chame um médico com a mesma facilidade de pedir um táxi, por exemplo.

Em Belo Horizonte, pelo menos três empresas já disponibilizam a opção. E a tendência é a de que oferta aumente, uma vez que o Conselho Federal de Medicina regulamentou o funcionamento do serviço, em final de fevereiro, e declarou ser ético o uso do “uber da medicina”.

Uma das principais empresas do ramo com atuação em Minas, a Docway começou o atendimento em 2016, com 15 médicos. Atualmente, já são 340 profissionais e cerca de 3.500 pacientes cadastrados no aplicativo. No país, o app conta com 3.300 médicos inscritos e mais de 50.000 usuários cadastrados. São cerca de mil atendimentos por mês, distribuídos entre as 160 cidades cobertas pela Docway.

Nascido em Belo Horizonte, o MeuMed tinha planos de encerrar 2017 com cerca de 250 profissionais inscritos na cidade, que realizariam em torno de 1.200 consultas mensais. Além disso, os sócios do aplicativo planejam expandir o serviço para mais capitais. Outro aplicativo de saúde que auxilia na marcação de consultas e outros serviços para o paciente belo-horizontino é o Doutor Já.

Consultas

No geral, o valor da consulta varia de R$250 a R$500, dependendo da especialidade médica e da região em que será realizado o atendimento. O pagamento é realizado apenas através do cartão de crédito que o cliente cadastra no aplicativo.
Do valor pago ao médico pela consulta, os aplicativos retêm cerca de 15%. Já as operadoras do cartão ficam com 4%, correspondente à taxa de uso.

Para médico e paciente aderirem aos aplicativos, ambos podem realizar o download e criar uma conta gratuitamente. Assim que cadastradas informações básicas, o cliente deverá inserir qual especialidade precisa, seus sintomas, escolher o médico que o atenderá e salvar as informações do cartão para pagamento.

Quanto ao médico, após inserir os dados básicos, ele precisará digitalizar cópia dos diplomas e especializações, que serão analisados, validados e certificados.

Praticidade

Em relação ao diferencial desses aplicativos, o corregedor do CFM, José Fernando Vinagre, afirma que a praticidade é o principal atrativo para os clientes.

“Os aplicativos estão caindo no gosto do público porque as emergências e os hospitais estão sobrecarregados, seja no setor público ou no privado, e esses apps oferecem a solução para o problema, com atendimento rápido, sem perder eficácia”, afirma.

Concorrência

José Fernando Vinagre acredita que a liberação desse tipo de atendimento veio somar e não causa qualquer prejuízo para os planos de saúde. “Não há conflito (com os planos de saúde) em hipótese alguma. Os aplicativos atendem doenças de baixa e média complexidade. Se há a necessidade de um acompanhamento mais específico, o médico encaminha o paciente para o hospital”, afirma.


 
Regra de acesso aos prontuários dos pacientes gera dúvidas

Para que o “uber da medicina” fosse regularizado, o Conselho Federal de Medicina (CFM) impôs algumas condições fundamentais.
A primeira delas é a de que o médico seja registrado no Conselho Regional de Medicina (CRM) do estado onde vai atuar. Também é necessário que o profissional tenha registro da sua especialidade.

O órgão ainda exige que o médico elabore um prontuário (relatório) de cada consulta, que ficará armazenado pelo aplicativo para futuras consultas. Nesse caso, é importante frisar que apenas os médicos responsáveis pelo atendimento anterior e os que vão realizar a consulta têm acesso ao documento do paciente.

Por fim, o CFM proíbe que o profissional se autopromova no aplicativo, expondo o preço das consultas, avaliações de outros clientes ou use algum outro artifício que caracterize o que órgão chama de concorrência desleal com os demais profissionais.

Temor

Entre as determinações apresentadas pelo CFM para regularizar o uso dos aplicativos, uma em especial vem gerando desconfiança entre especialistas.

Para a advogada Melissa Kanda, especializada em Direito à Saúde, a questão do armazenamento dos prontuários não ficou clara.
“Não sabemos o nível de segurança desses aplicativos para administrar os prontuários. Esses aplicativos também não pedem autorização do paciente para reter o prontuário na base de dados aplicativo, o que deveria ser feito”, adverte.

Questionada sobre a questão, a Docway afirmou, por meio de nota, que investe constantemente em tecnologia e segurança de dados, com base na da Resolução do CFM que estabelece critérios para certificação de sistemas de informação. As demais empresas não responderam.

Vantagens

Graduada há oito meses, a médica generalista Ana Elisa Melo concilia os atendimentos do aplicativo com mais duas funções em instituições públicas de saúde. Por viver diariamente a realidade do SUS, a médica faz questão de destacar a possibilidade de aproximação entre as partes envolvidas na consulta, que o aplicativo oferece.

“O atendimento domiciliar torna a medicina muito mais humanizada. Estamos vivendo uma situação complicada com a chamada mercantilização da medicina, que a torna meio que um comércio, com essas clínicas populares, consultas com preços abusivos e número de atendimento muito alto em um curto espaço de tempo, o que limita a relação médico com paciente”, afirma.

Em relação à remuneração, Ana Elisa, que realizou cerca de 20 consultas desde novembro, entende que vem sendo satisfatória.
“Financeiramente é vantajoso. São consultas que têm a devida remuneração. A relação custo-benefício para o paciente é muito boa. Dependendo do plano de saúde ou seguro, eles reembolsam parte ou totalmente a consulta. É muito justo, até porque você coloca o preço da sua consulta”, diz.

Procuradas para comentar o assunto, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) não se manifestaram. A ANS disse, em nota, que o uso da ferramenta pelas operadoras, caso se efetive, não poderá comprometer o atendimento a que os beneficiários de planos de saúde têm direito

  

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