Quarta-Feira de Cinzas, na tradição cristã ocidental, é um dia de reflexão sobre a fragilidade da vida e sobre a morte. Os governantes das grandes potências mundiais – que atravessaram o Carnaval preocupados com a situação na Ucrânia e na Crimeia – fariam bem em aproveitar este dia para refletir sobre as vantagens da paz. Desde sábado, nas avenidas brasileiras, multidões pularam o Carnaval ou assistiram ao desfile de escolas de samba. A Acadêmicos do Salgueiro, no Rio, que teve como tema Gaia, fez uma convocação ao ser humano para que aproveite de forma ecológica a vida, sem destruições. Enquanto isso, em terras russas, outro desfile chamava bem mais a atenção do mundo: o de milhares de soldados – seriam 16 mil, segundo o novo governo da Ucrânia, ou pelo menos 6 mil, pelos cálculos dos Estados Unidos – convocados pelo presidente Putin para invadir a Crimeia. Muitos ainda se lembram de uma famosa guerra do século 19, quando França, Turquia e Reino Unido se uniram contra a Rússia, para disputar o domínio sobre a Crimeia, uma península de pouco mais de 26 mil quilômetros quadrados, estrategicamente situada entre o Mar Negro e o Mar de Azov. Agora o esforço das grandes potências é no sentido de isolar o governo russo, nas suas pretensões sobre a Crimeia e a Ucrânia. O presidente Barack Obama anunciou que os Estados Unidos examinavam uma série de medidas econômicas e diplomáticas para “isolar a Rússia”. Amanhã, líderes da União Europeia vão se reunir e, segundo o chanceler francês, Laurent Fabius, discutirão medidas concretas de retaliação, como suspensão de acordos econômicos e de negociações de vistos. Desde o fim da União Soviética, os Estados Unidos passaram a ter vínculos militares com o governo russo, mas na segunda-feira o Pentágono acenou com a suspensão de todos os vínculos militares entre Washington e Moscou. Quando os militares se manifestam, em vez dos diplomatas, o risco de conflitos bélicos sempre aumenta. Porém, conforme admitiu há dois dias o próprio Pentágono, o Departamento de Estado ainda valoriza a relação desenvolvida com a Rússia nos anos recentes “para aumentar a transparência, contribuir para o entendimento e reduzir o risco de erros militares”. Erros que poderiam custar caro aos europeus. A Europa importa da Rússia aproximadamente um terço do gás que consome. O transporte desse gás passa pelo território ucraniano. Na segunda-feira, o preço do petróleo teve alta de 1,95% na bolsa de Londres e o do gás natural avançou 6%. Os pregões das principais bolsas mundiais que funcionaram durante o Carnaval fecharam em forte queda. Fez bem a Bovespa, que ficou fechada desde sexta-feira e só reabre hoje às 13h. O espírito do Carnaval, pelo visto, está se revelando mais sensato do que o da economia e o da política.