Usiminas versus CSN

01/04/2016 às 16:18.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:44

A siderurgia é, sem dúvida, um dos setores mais afetados pela crise. O consumo interno de aço desabou porque as vendas de automóveis, de eletrodomésticos, de máquinas e de imóveis, que compõem a cadeia à jusante, estagnaram. Exportar é impossível porque o que se paga atualmente pelo aço no mercado internacional não cobre o custo do frete. Que fazer? Fechar para balanço e esperar a crise passar seria uma boa saída?
A receita não serve para todos, mas é isso que está sendo feito pela maior parte dos clientes das siderúrgicas. As montadoras, os fabricantes de eletrodomésticos, as indústrias de bens de capital e as construtoras estão demitindo e nivelando a produção à nova realidade da demanda. As siderúrgicas também estão colocando o pé no freio, mas não podem parar.

O problema é que as fabricantes de aço são intensivas de capital e nos últimos anos acumularam enormes dívidas junto aos bancos. Investiram pesado em modernização e ampliação da capacidade quando a demanda explodia e agora, na crise, estão sendo chamadas para pagar a conta. Para honrar os compromissos precisam de caixa, e este só é gerado se a roda da produção estiver girando. Mesmo que com prejuízo.
O momento é tão grave que já se fala com naturalidade sobre a possibilidade de falência de algumas das gigantes do setor. Mas, como não sabemos a duração do mergulho na crise, fica impossível calcular se o fôlego financeiro de cada uma delas será suficiente. De certo temos apenas que este fôlego é maior para quem se antecipou à crise. Ou seja, para as empresas que anteviram a virada do mercado e se prepararam para o pior.
Vejamos, por exemplo, os resultados comparados de duas das principais siderúrgicas do setor, Usiminas e CSN, que atuam no mesmo nicho de mercado. Elas são o espelho do drama da siderurgia, mas estão reagindo de forma diferente.

Em 2015, a Usiminas apresentou prejuízo de R$ 3,685 bilhões, e a CSN, lucro de R$ 1,260 bilhão. Mas calma lá... A Usiminas lançou no quarto trimestre uma baixa contábil de R$ 1,6 bilhão relativa à queda do valor de mercado de seus ativos. Trata-se de uma obrigação contábil sem efeito caixa. Sem ela, o prejuízo da Usiminas teria sido de pouco mais de R$ 2 bilhões no ano. Já a CSN não fez nenhuma baixa contábil, a não ser a relativa a sua participação no próprio capital da Usiminas, que somou R$ 555 milhões. E lançou receitas extraordinárias, e portanto não recorrentes, de R$ 2,890 bilhões.

Então, excluindo o que é receita extraordinária e baixa contábil dos balanços, a CSN teria um prejuízo de R$ 1,073 bilhão, e a Usiminas, de R$ 2,085. Ou seja, o prejuízo da Usiminas ainda seria quase o dobro do de sua concorrente.

Vamos a outros resultados comparados: a receita líquida de vendas da CSN caiu 4,9%, para R$ 15,3 bilhões, e a da Usiminas caiu 13,3%, para R$ 10,2 bilhões. O ebitda (geração de caixa) da CSN caiu 31,3%, para R$ 3,2 bilhões, e o da Usiminas caiu 84,4%, para R$ 291 milhões. A dívida líquida da CSN cresceu 40%, para R$ 26,5 bilhões, e a Usiminas cresceu 53,3%, para 5,9 bilhões. Já a alavancagem (quantas vezes a dívida é maior que o ebitda), que na CSN chegou a 8,1 vezes, na Usiminas atingiu 20 vezes.

Como vemos, a situação de nenhuma das duas é confortável, mas a da Usiminas é ainda mais preocupante. Qual a razão para isso? A CSN se preparou antes. Conseguiu, no ano passado, rolar sua dívida junto aos bancos e deu início a um amplo programa de corte de despesas fixas e de venda de ativos. Tudo isso vem sendo feito também pela Usiminas, mas com defasagem de tempo.

Ok, a siderúrgica mineira já desligou os fornos de Cubatão e dois em Ipatinga. Mas somente agora a Usiminas começa a negociar a rolagem da dívida com os bancos e a estruturar um plano de venda de ativos, que se feito a toque de caixa poderá ser mais danoso que benéfico.
O fato é que a crise é ruim para todos, mas é pior para quem não acertou o compasso.

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