Sempre que o preço dos combustíveis disparam, o consumidor passa a considerar a conversão de seu carro para uso gás natural veicular (GNV) como uma solução para economizar na bomba. E com rumores de uma possível falta de abastecimento, a busca por kits cresceu bastante.
De acordo com a Gasmig, o aumento das conversões dispararam em Minas. “No início do ano tínhamos 100 carros convertidos mensalmente no estado e, hoje, já é uma média de 600 veículos. GNV é uma alternativa real”, afirma o presidente da companhia, Pedro Magalhães.
Segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), o volume de conversões duplicou em relação a 2020. Apenas em agosto foram quase 19 mil instalações em todo o país. De janeiro a setembro foram 163 mil conversões.
Encontrar uma vaga na agenda das oficinas credenciadas para fazer a conversão também não está fácil. Algumas pedem prazos de cinco dias para receber o carro. E o tempo do serviço pode levar até três dias. “A demanda subiu demais”, afirma uma atendente de uma das lojas da capital mineira.
Mas será que vale a pena converter o automóvel para GNV nessa altura do campeonato? De fato, o preço do metro cúbico do combustível gaseificado é mais barato que a gasolina e se equipara com o valor do litro do etanol.
Com o congelamento dos preços por mais 90 dias, anunciado pela Gasmig, o valor médio do gás deverá se manter na faixa de R$ 4,29. Por outro lado, etanol e gasolina não têm o mesmo controle e atualmente registram valores médios de R$ 4,88 e R$ 6,49, nessa ordem.
No entanto, o consumidor que pretende recorrer à conversão deve ficar atento ao custo da aquisição e instalação do kit GNV. O preço médio da conversão gira em torno de R$ 4,5 mil, mas em muitas oficinas o preço do serviço já subiu, com valores em torno dos R$ 5,1 mil.
Dessa forma, para saber se vale a pena ou não, é preciso analisar cada caso. Fatores como modelo do automóvel, tipo de uso e quilometragem mensal média podem variar bastante. Assim, o que pode parecer como uma boa saída pode se tornar um custo desnecessário. Ao mesmo tempo, a ideia de desembolsar quase R$ 5 mil, que pode pesar no orçamento, a médio e longo prazo, poderá resultar em economia.
Conta de padaria
Em uma conta simples, com os R$ 4,5 mil, o motorista poderia abastecer seu carro com cerca de 690 litros de gasolina ou 920 litros de etanol. Digamos que a média de consumo do automóvel é de 10 km/l, no derivado do petróleo. Assim o consumidor poderia rodar quase 7 mil km com o valor da conversão.
Já com o combustível de cana-de-açúcar, que geralmente é 30% menos eficiente, seria possível rodar 6,4 mil km, com os mesmos R$ 4,5 mil. E se levarmos em consideração a média de quilometragem do motorista brasileiro, na casa dos mil quilômetros mensais, só o valor da conversão equivaleria a sete meses de abastecimento, fora o custo do próprio GNV.
Claro que nessa conta, não estamos calculando possíveis novos reajustes da gasolina e do etanol. Afinal, desde o início do ano o preço da gasolina subiu mais de 50%. E com alardes de um possível desabastecimento, os preços podem subir ainda mais. Há sempre o risco de uma escalada descontrolada semelhante ao registrado na greve dos caminhoneiros de 2018, quando o preço do litro da gasolina, que girava em torno de R$ 4,30, ultrapassou os R$ 10 em várias praças.
Custo por km
Comparar o consumo de um carro com gasolina e etanol, com GNV é complicado. Isso porque o volume de gás abastecido é bem diferente do armazenamento no tanque em litros. Para facilitar, vamos usar como referência nosso teste com o Fiat Grand Siena GNV, publicado em janeiro de 2021. O consumo com etanol, na cidade, ficou na faixa de 5,6 km/l. Já com GNV, a média foi de 15 km/m³.
Dessa forma, se o motorista roda em média 30 quilômetros por dia (dentro daquela conta dos 1.000 km mensais), com etanol ele irá gastar R$ 26,25, o que corresponde a um custo por quilômetro rodado na casa de R$ 0,87. Já no GNV o custo dos mesmos 30 quilômetros diários seria de R$ 0,28 por quilômetro. Assim, se o motorista do Grand Siena GNV que circula mil quilômetros por mês, o custo giraria em torno de R$ 286 (GNV) e R$ 870 (álcool), tendo como base os valores atuais..
Efeitos colaterais
Mas nem tudo são flores quando se converte o automóvel para o GNV. O principal impacto é a perda de espaço no porta-malas. Dependendo do modelo, os cilindros podem reduzir pela metade o volume de bagagem. No caso do Grand Siena, de nosso teste, os dois cilindros ocupam 98 litros dos 520 litros do bagageiro.
Já num carro como o Fiat Uno o volume de despencaria de 280 para 190 litros. Outro fator é o peso. Os dois cilindros que armazenam 15 m³ pesam em média 55 quilos (vazios). É como se o motorista tivesse sempre um passageiro a bordo.
Outro senão é a perda de performance. No caso do Grand Siena, seu motor 1.4 que rende 88 cv com etanol, despenca para 75 cv com GNV, uma queda de quase 20%, segundo a própria Fiat. A queda na oferta de torque (que é a força do motor) também é semelhante. Os 12,5 kgfm fornecidos com o álcool é reduzido a 10,7 kgfm com o GNV. Para exemplificar é como se o se o Fiat tivesse seu motor 1.4 trocado por uma unidade 1.0.
Essa perda de fôlego corresponde a retomadas mais lentas, maior esforço para arrancar em ladeiras. Com o carro lotado e o bagageiro ocupado, o carro se tornará bastante letárgico. Assim, na rodovia é recomendável rodar com gasolina ou etanol, pois o carro entrega mais vigor, além de a autonomia do GNV ser bem mais baixa, na casa dos 220 km.
Burocracia
Após a instalação do Kit GNV, o proprietário do veículo deverá ser levado a uma unidade certificada para inspeção da instalação. O dono do automóvel deverá registrar a instalação junto ao Detran.
A seguradora também deverá ser informada sobre alteração, pois pode alterar o valor da apólice, assim como interferir no pagamento do sinistro. Lembrando que toda conversão deve ser feita em oficinas credenciadas pelo Inmetro.
Assim, a conversão do GNV pode ser uma solução para quem não tem como deixar o carro na garagem e não pode custear a escalada assustadora dos preços dos combustíveis. Mas é preciso colocar tudo na ponta do lápis. Quanto se roda por mês, o custo da instalação, quanto tempo levará para amortizar o serviço, a perda de espaço no bagageiro e outros fatores que não podem ser negligenciados.
Para quem roda muito pode ser uma solução. Para quem usa pouco o carro é salgar carne podre.