
BALOCCO (ITÁLIA) - Em abril, quando estive na China para o Salão de Xangai, fiquei impressionado com uma espécie de butique de grife da Maserati, num espaço muito mais sofisticado e intimista que uma concessionária padrão. E lá estava o MC20, o superesportivo da marca do tridente.
Hipnotizado como se tivesse sido alvo do canto de uma sereia, passei alguns minutos contemplando o MC20, que tem linhas impressionantes. Uma legítima berlinetta, com motor V6 biturbo 3.0 de 630 cv, montado em posição central traseira.
Era para apenas lamber com a testa e continuar a caminhada pelas ruas da badalada megalópole chinesa. Agora, cinco meses depois, o destino me coloca novamente diante da MC20, mas numa condição muito mais favorável.
O carro estava em Balocco, o campo de provas da Stellantis, com mais de 80 quilômetros de pistas e incontáveis circuitos. O supercarro era um mimo para os visitantes que foram lá conhecer o sucessor do Fiat Argo.
Com portas do tipo tesoura, um monocoque em fibra de carbono e altura extremamente baixa, o MC20 iria revelar porque é o sucessor espiritual do MC12, supercarro fabricado na virada do milênio com elementos das máquinas da categoria GT1, da FIA.
Ao lado do carro, uma mesa com alguns capacetes e balaclavas. E ao lado da mesa estava Marcello, piloto profissional que corre pela Ferrari. Era lógico que a Stellantis não seria tão irresponsável de me deixar sentar ao volante de um carro de 240 mil euros (R$ 1,5 milhão) e que acelera a mais de 300 km/h.
Era com o “Thelão” mesmo. Embarcar no MC20 demanda um certo contorcionismo. O carro é extremamente baixo. E olha que já tinha tido minhas aventuras a bordo de supercarros como Porsche 911 GT3 RS, Chevrolet Corvette C8, Audi R8 V10 e Mercedes AMG GTS, além de uma breve volta (de carona) numa Ferrari F355.
Por dentro, o supercarro é puro luxo: couro, fibra de carbono e alcântara por todos os cantos. A porta do tipo tesoura é incrivelmente leve de abrir e fechar. Um grande barato.
O xará dá a partida e vamos devagar para o acesso à pista de alta. Um traçado com curvas e chicanes que lembram trechos de Mônaco, Interlagos e outras tantas pistas. O Marcello pisa fundo, o ruído do metálico do V6 invade a cabine da forma que se espera que um motor italiano se comporte.
O velocímetro começa a multiplicar a velocidade de forma alucinante e as placas de chegada das curvas subtraem no mesmo ritmo. Máquina e piloto se completam – o xará morde as curvas com uma fúria absurda, sem precisar dar golpes na direção.
As frenagens são impressionantes, a Maserati precisa de poucos metros para reduzir de 250 para 60 km/h. Algo obsceno.
Depois de alguns minutos, meu novo melhor amigo me deixou nos boxes e aquele cheiro de borracha e pastilha de freio eram como a fragrância de um perfume que não sei quando irei sentir novamente.