INDAIATUBA (SP) – Meu primeiro automóvel tinha um motor montado atrás. O segundo também. Enxergava eles como um Porsche, mas todo mundo dizia que era Fusca. A verdade é que fazia muito tempo que não dirigia um carro com motor traseiro. E digo que por um segundo senti saudades dos “Fucas” ao me sentar ao volante do Audi R8 V10 Plus, que acaba de chegar por R$ 1,2 milhão.
O supercarro alemão retorna ao mercado com estilo renovado, mas sem perder a essência da carroceria que combina metais de alta resistência com fibra de carbono. Atrás do banco repousa um enorme V10 5.2 litros, de aspiração natural de 610 cv e 55 mkgf de torque, que são distribuídas nas quatro rodas pela tração integral Quattro, que pode direcionar 100% da tração para o eixo direito ou traseiro. Nesse quesito, ele ganhou do meu Fusca.
Ronco
Ao dar a partida, meu companheiro de pista foi um piloto brasileiro que corre nos Estados Unidos com uma Lamborghini. Para quem não sabe, o V10 do R8 é herança do saudoso Gallardo.
Ao fitar os olhos no volante notei quatro botões. Um vermelho para partida, acima dele um que altera o ronco do motor. Na esquerda, o Drive Select, em que eu podia mudar o comportamento dinâmico do carro. Suspensão, direção, alimentação e trocas se alteram para tipo de condução, da mais econômica à mais esportiva.
Mas o botão da alegria, que finalizava o quarteto, tem uma bandeira quadriculada. Ele ativa o modo “pista” e conta com três opções para diferentes condições do asfalto (seco, molhado e neve).
Botão vermelho
Ao apertar o botão vermelho, um ronco metálico “baforou” na minha nuca, como se o diabo me quisesse dizer alguma coisa ao pé do ouvido. Alavanca em “Drive” e calmamente saí dos boxes para a pista. Com o aval do meu “carona”, pisei com força no acelerador para mostrar para o R8 quem é que manda. Foi uma esporada nos rins de 610 cavalos que jogou meu estômago contra o banco e um barulho absurdo invadindo a turbina.
Tinha descoberto que 0 a 100 km/h em 3,2 segundos não era força de expressão. Perto da marca de frenagem o instrutor mandou prensar o pedal do freio. As enormes pinças morderam os discos de carbono e cerâmica, reduzindo de 180 km/h para 60 km/h numa fração de segundos e me dando condições de fazer o “grampo” com dignidade.
Acelera, freia, acelera outra vez, tudo parecia muito fácil, a bordo do R8, como se eu realmente fosse catedrático no assunto. Aí São Pedro apareceu providencialmente para que eu girasse o botão da bandeira, no modo chuva.
E, mais uma vez, me convenci de que tinha nascido para aquilo e não aquela maravilha da engenharia, extraída das pistas (onde pilotos de verdade colhem suas glórias) para que mundanos endinheirados também acreditem que são ases do volante!
Junto do R8 V10 Plus, a Audi também trouxe as edições renovadas do RS6 Avant Performance e RS7 Performance, que chegam com valores de R$ 670 mil e R$ 720 mil, na ordem.
Se hoje a marca das quatro argolas bate no peito por ter uma linha de esportivos, muito se deve a RS6 Avant. Na verdade à RS2, de 1993. Foi a perua que impulsionou a linhagem de alto desempenho da marca e, antes do R8 V10 Plus, a RS6 Avant era o carro mais bruto Audi.
A perua (assim como o cupê quatro portas) tem apenas 5 cv a menos que o supercarro. Mas, ao invés de um V10, utiliza um V8 biturbo 4.0 de 605 cv e 75 mkgf de torque, assim como tração integral Quattro, sistema Drive Select, com direito a amortecedores de ajuste magnético de carga (Magnetic Ride), rodas aro 21, com pneus tão finos quanto os de uma bicicleta e duas ponteira enormes no escapamento.
Com 2,1 toneladas, não devora curvas com a mesma fluidez do R8, mas as vence com muita desenvoltura e ajuda da eletrônica. Toda força do motor faz com que perua e cupê acelerem de 0 a 100 km/h em 3,7 segundos, meio segundo a mais que o R8 e consigam frear tão rápido quanto o irmão oriundo das pistas. E o melhor: ao mesmo tempo eles são dóceis para quem não pode deixar os ovos quebrarem depois ir à feira.