A LENDA VOLTOU

Ferrari Tesarossa está de volta, eletrificada e futurista

Ferrari ressuscita o nome Testarossa para batizar supercarro híbrido de mais de 1.000 cv

Marcelo Jabulas
Publicado em 14/09/2025 às 22:11.
 (Foto: Ferrari/Divulgação)
(Foto: Ferrari/Divulgação)

Quando se fala em Ferrari, precisamos deixar de lado o protocolar cartesianismo industrial de um fabricante de carros. Com ela há um envolvimento afetivo, visceral, caótico. Tudo é emocionante e dramático, como tudo na Itália. Mas quando se fala em Ferrari é quase uma seita, uma religião ou congregação.

A marca de Maranello sabe muito bem disso e faz uso de toda simbologia e rituais que a cercam, inclusive as referências mínimas de estilo que abrem calorosos debates e afetações de memória, tal como usar alcunhas laureadas de glórias para batizar seus bólidos. E ela fez isso mais uma vez.

A marca apresentou a 849 Testarossa, superesportivo híbrido com mais de 1.000 cv que substitui a SF90 Stradale. A escolha do nome não é apenas um resgate de marketing: a palavra Testarossa, que em italiano significa “cabeça vermelha”, carrega um dos capítulos mais importantes da história de Maranello. A nova geração busca associar inovação tecnológica a uma linhagem que começou há mais de seis décadas.

O primeiro uso do nome ocorreu nos anos 1950, nos carros de corrida 250 Testa Rossa. Eles ficaram marcados pelas tampas de válvulas pintadas de vermelho e pelo desempenho nas pistas de endurance. O modelo venceu corridas lendárias como Le Mans e Sebring, consolidando a imagem esportiva da Ferrari e o prestígio técnico da expressão “Testarossa”.

Nos anos 1980, o nome retornou em um contexto diferente. A Ferrari lançou em 1984 a Testarossa de rua, equipada com motor V12 boxer de 4,9 litros montado na traseira. O carro ficou conhecido pelas largas tomadas de ar laterais e pelo design assinado por Pininfarina, que se transformou em símbolo daquela década. Com 390 cv, alcançava mais de 290 km/h e se tornou uma das Ferrari mais vendidas da época. O sucesso foi tanto que gerou evoluções como a 512 TR em 1991, com melhorias técnicas e aerodinâmicas, e a F512 M em 1994, versão final com 440 cv e produção restrita.

Após esse período, o nome Testarossa saiu de cena, mas permaneceu como referência entre colecionadores e entusiastas. A Ferrari preferiu introduzir novos modelos com nomes distintos, como 550 Maranello, Enzo ou LaFerrari, cada um marcando sua geração. Ainda assim, o impacto cultural da Testarossa dos anos 1980 e 1990 manteve a nomenclatura viva na memória dos fãs.

Agora, a Ferrari 849 Testarossa 2026 retoma essa tradição em um momento de transição tecnológica. A identificação 849 indica a especificação do motor em número de cilindros e deslocamento volumétrico. Ela combina o V8 biturbo de 830 cv com três motores elétricos que somam 220 cv, alcançando potência total de 1.050 cv. 

A aceleração de 0 a 100 km/h ocorre em menos de 2,3 segundos, com velocidade máxima acima de 330 km/h. O peso a seco de 1.570 kg garante relação peso/potência competitiva, enquanto a aerodinâmica redesenhada oferece 415 kg de downforce a 250 km/h.

O design moderno traz linhas geométricas que dialogam com os protótipos de competição dos anos 1970, mas sem deixar de lembrar a impo-nência da Testarossa clássica. Dá para encontrar de tudo nesse carro, como os apêndices dianteiros da lendária P4, a máscara dos faróis que foi aplicada na jovem 296, mas que é uma herança da 365 Daytona. Faltou a entrada de ar raiada do carros anos 1980, mas era necessário priorizar a funcionalidade.

No interior, o cockpit em formato de cápsula reforça a centralidade do motorista, enquanto o sistema HMI atualizado introduz comandos digitais. Há ainda a opção do Assetto Fiorano, com componentes de fibra de carbono, titânio e ajustes exclusivos para pista.

Disponível nas versões coupé e Spider, a 849 Testarossa tem preço estimado em 460 mil euros e 500 mil euros, respectivamente, com entregas programadas para a Europa no segundo semestre de 2026. O relançamento do nome é mais do que nostalgia: é uma estratégia de mercado que conecta um passado vitorioso à busca por relevância em um futuro híbrido.

Com a nova Ferrari Testarossa, a marca de Maranello mostra que não esquece suas raízes, mas também não deixa de olhar para frente. O mito retorna, agora com motores elétricos, mas com a mesma promessa de uma experiência legítima do cavallino rampante. Afinal, o que não falta na marca são tradições, dogmas e “relíquias sagradas” que justificam tudo.

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