DETROIT (EUA) - Se existe um automóvel emblemático na indústria norte-americana, este carro é o Chevrolet Corvette. Lançado em 1953, o esportivo foi um divisor de águas na forma de se fabricar automóveis na terra do Tio Sam.
O Corvette chegou há 72 anos para concorrer com esportivos europeus de marcas como as britânicas Jaguar, MG, AC, assim como o novato Porsche 356. A premissa era ser leve.
Assim, o Vette nasceu com carroceria em fibra de vidro, algo revolucionário para a época. Ao longo de oito gerações o Corvette passou por transformações, mas sem perder a identidade.
A atual geração marcou a transferência do motor V8 “Small Block” para a posição central traseira. Isso mesmo, assim como nas Ferrari V8 vendidas nos EUA há mais de 50 anos.
A razão era simples, o Corvette precisa se tornar um carro capaz de entregar a performance de uma Ferrari, com o preço de um Chevrolet. Claro que não é um carro barato, mas bem mais acessível que um exemplar de Maranello.
E a segunda revolução do Corvette C8 (oitava geração) foi a adoção de sistema híbrido e uma inédita e quase pecaminosa tração integral na versão E-Ray. Ele ganhou um motor elétrico, alimentado por uma pequena bateria de 1,9 kWh que traciona as rodas dianteiras.
Seu funcionamento é sob demanda e com foco na redução de combustível e atingir metas de emissões. Atrás do banco do motorista um intempestivo V8 6.2 litros de 655 cv.
E fomos lá, em Detroit: a cidade dos motores, para conferir como a “arraia eletrificada” se comporta. E o que vimos foi surpreendente.
Para acomodar o motor na nova posição, o Vette precisou encurtar a seção frontal e alongar a distância entre-eixos. Mas o carro é lindíssimo e tem aquele jeitão de carro italiano, mas sem perder a essência de um Chevrolet.
A frente bicuda é uma herança que vem da terceira geração. As lanternas duplas estão no Vette desde 1963, quando chegou a geração C2.
Por dentro, o motorista está envolto numa espécie de cockpit. Tudo está direcionado para o motorista. O console elevado e o volante quase quadrado dão a impressão de estarmos num avião, ou carro de corridas.
Ao dar a partida, temos a plena certeza de que estamos a bordo de uma nave prestes a decolar. O Small Block ruge de forma ensurdecedora para dizer que acordou. Em seguida, em marcha lenta, ele te lembra que é um legítimo V8 americano.
Mas basta provocar para que a aceleração se mostre imediata. O carro ganha velocidade de forma impressionante, mesmo com o velocímetro em milhas por hora, o que nos leva a fazer a conversão para quilômetros, em segundos nos deparamos com o carro a mais de 160 km/h.
Mas nos Estados Unidos não dá para fazer gracinha ou tentar a sorte. Num instante pode surgir uma viatura policial e a breve delinquência do Corvette se transformar numa grande dor de cabeça.
Assim, as acelerações tinham que ser comedidas. Num trechinho limpo, por alguns segundos, apenas para ouvir o V8 fungando no cangote. Mas seja como for, guiar um carro com motor traseiro é sempre uma experiência visceral.